Capítulo único

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"Existem coisas que não devem ser ditas, e às vezes o que se faz em nome da simples humanidade é julgado com crueldade pela lei." 
A cor que veio do espaço - HP Lovecraft


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07 de setembro de 2020, Daegu

From: yoo.kihyun@kdpol.co.kr

To: hyung.chae@kdpol.co.kr

Caro Inspetor-chefe de polícia, Chae Hyungwon do Departamento de Crimes Violentos – Delegacia central de Daegu, por favor, preste atenção às linhas que escrevo abaixo e tome nota sobre os pormenores do caso que está agora em suas mãos.

Eu imploro! Não mande seus homens para aquela casa e não entre nela também!

Eles não são humanos!!

Caso Bella Donna – Relatório de investigação

Venho por meio deste relatório resumir todos os resultados obtidos com a investigação do caso supracitado, e envio todas as provas recolhidas por mim e pela equipe do Departamento de Crimes Violentos da cidade de Gyeongsan para auxiliar na investigação.

Primeiramente devo deixar claro que todas as provas apresentadas são somente circunstanciais obtidas através de relatos dos amigos das vítimas, dos moradores, de parentes e amigos que tiveram contato com eles dias antes dos eventos ocorridos no dia 04 de agosto, dia em que o primeiro "corpo" foi encontrado no condomínio habitacional em Dongbu-dong.

No dia 04 de agosto, às 23:12, recebemos uma notificação de um morador relatando ter encontrado uma mala contendo ossos humanos ao procurar no lixo por algo de valor que pudesse ficar. O declarante encontrou a ossada dentro de uma mala verde-marinho grande e aparentemente nova, deixada no local de coleta seletiva de lixo.

Assim que verificado o conteúdo da mala, minha equipe foi chamada ao local com os peritos, e foi nesse momento que todo o horror dessa história começou.

Ao adentrarmos no local —, um condomínio de classe baixa com vários blocos de aproximadamente 15 andares cada, uma pequena área de lazer e um local destinado para a coleta seletiva do lixo que fica ao lado do bicicletário — não imaginávamos que em poucos minutos estaríamos diante de um quebra-cabeça macabro e com poucas peças para montá-lo em mãos.

À primeira vista, a impressão que dava era de que alguém queria pregar uma peça em nós. Os ossos estavam estranhamente limpos, não eram antigos e não apresentavam forte decomposição e também não havia fissuras visíveis ou marcas que mostrassem o uso de objetos contundentes ou lesões.

Era como se aqueles ossos fossem objetos de plástico ou gesso bem-feitos, colocados ali para assustar qualquer transeunte que tentasse levar a mala da marca Bella Donna, uma marca cara demais para ser colocada no lixo. Chegamos a apostar que aqueles ossos não eram verdadeiros, tamanha a nossa dúvida.

Eu nunca vi algo assim antes. Já presenciei muitos crimes violentos, mas nunca vi ninguém matar e desossar um cadáver sem deixar marcas de algum objeto de metal que tornasse possível esse feito, principalmente sem cozinhar a carne como quem cozinha um frango. É como se todos os músculos e nervos do corpo fossem sugados, restando apenas os ossos e a cartilagem.

Quando o relatório da autópsia saiu ficamos ainda mais intrigados. Os ossos pertenciam a dois seres humanos diferentes; um homem de aproximadamente 30 anos e uma mulher por volta dos 28, e que já era mãe.

Assim que percebemos que a ossada não possuía fraturas ou marcas causadas pela fricção de qualquer tipo de metal em sua estrutura, descartamos algumas possíveis causas-mortis, mas não reparamos que tinham ossos de duas pessoas dentro da grande mala verde marinho.

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