único.

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Shion estava sentado no chão, encostado em uma estante e com um livro em mãos. Estava caindo um temporal lá fora e a sala estava relativamente fria. O som da água escorrendo e pingando no chão era relaxante, mas ele sabia que teria um trabalho enorme para limpar a entrada do abrigo quando fosse no dia seguinte.

Estava a noite, e os garotos não haviam saído de casa por conta da chuva. Shion havia aproveitado aquele dia livre para arrumar alguns livros e começar uma leitura nova. Daquela vez era um livro de romance.

Tudo estava indo bem em sua leitura, até que uma dúvida bastante peculiar o acertou.

— Nezumi — Shion o chamou lentamente, como se estivesse sibilando seu nome. Nezumi levantou a cabeça e o olhou. — O que é um beijo de língua?

Nezumi piscou seus olhos e lentamente levantou suas sobrancelhas, ele suspirou, balançou sua cabeça e voltou seu olhar para o papel em suas mãos. Ele estava decorando as falas de seu próximo show, e havia proibido Shion de ir, para variar.

— Um beijo onde as duas línguas se tocam. — respondeu.

— Isso não é nojento?

— Não, se você sabe beijar de língua e a outra pessoa também, acaba se tornando algo bom — Nezumi falou sem muita emoção e após alguns segundos levantou a cabeça e encarou Shion. — Você nunca beijou ninguém, não foi?

Shion abriu um sorrisinho tímido e voltou sua atenção ao livro, ele passou seu dedão pelas páginas e tentou conter sua vergonha.

— Nunca beijei ninguém além de você. Por isso quis saber se... Você sabia.

Aquilo soou tão patético que até mesmo os ratinhos pararam o que estavam fazendo para observarem o desenrolar da situação. Nezumi não o olhou no mesmo minuto, ele parecia calmo e aéreo o suficiente para não dizer algo rude. Bem, foi isso o que Shion pensou a princípio, mas seus argumentos caíram por terra quando os lábios de Nezumi se retorceram um sorriso de escárnio e uma risada seca e fria ecoou no cômodo.

— Por que você está tão interessado nisso, afinal? — ele perguntou.

— Porque você me ensina várias coisas e eu queria que você, huh, me ensinasse?

Nezumi o olhou com uma paciência assustadora, seus olhos estavam frios e duros, como de costume. Sutilmente ele jogou o papel para um canto qualquer do quarto e deu um de seus sorrisos encantadores que costumava a mostrar quando estava atuando e tentando não ser um ogro.

— Não sou o seu namorado, Princesinha. — ele respondeu de um modo meigo e defensivo. Shion tentou pensar em como convencê-lo a aceitar aquela proposta, mas sabia que seria difícil e estranho demais, então apenas suspirou e passou seu dedo por dentro das mechas de seu cabelo.

— Eu sei, foi besteira minha, esqueça isso, okay? — ele murmurou envergonhado.

Hamlet guichou e puxou uma mecha do cabelo de Nezumi, que fitou o ratinho com atenção e logo após revirou seus olhos, como se houvesse acabado de ouvir a maior estupidez do dia.

— Shion, venha aqui — ele pediu e o outro levantou sua cabeça e obedeceu em silêncio.

Shion sentou ao lado de Nezumi e o viu franzir seus lábios, e então, hesitar.

— Você ao menos sabe beijar? — ele perguntou cuidadosamente, talvez já fosse esperado que Shion negasse, visto que Nezumi o deu um olhar do tipo "estou prestes a revirar os meus olhos." — Se você contar ao Inukashi ou ao Rikiga sobre isso, pode ter certeza que eu vou matar você.

— Minha boca é um túmulo.

— Não confio na sua palavra. Jure por seu sangue.

— Eu juro.

beijos de língua; nezushiOnde histórias criam vida. Descubra agora