Parte 2 - Amor Cego

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Yaman
Nada me prepararia para a visão que tive ao entrar na sala de jantar.
Ela era simplesmente...
Não consigo colocar em palavras. Todos olharam para mim quando entrei, mas o olhar dela quase me derruba. Olhos verdes e intensos me encaravam com curiosidade.
Os cabelos morenos eram mais bonitos do que eu imaginava. Eram ondulados e fartos.
Sua boca em formato de coração era quase um abuso. Até o nariz dela era perfeito.
Ela deve bater mais ou menos no meu queixo.
Eu simplesmente estou sem fôlego.
De repente me dou conta de que todos me olham com espanto porque estou parando encarando a moça por mais tempo do que deveria.
Pigarreio para disfarçar.

Ikbal se aproxima de mim.
- Yamancin, esta é Seher. Irmã de Kevser. Ela veio conhecer o sobrinho.
Irmã de Kevser? Eu me lembro de Kevser falando sobre a irmã, tinha até uma foto antiga no quarto dela. Eu tinha seu rosto tão perto de mim sem saber nada.
Por que será que ela foi sequestrada aquele dia? Que eu saiba ela era uma pessoa que levava uma vida simples com o pai, então qual o interesse de Aksak nela?
Sei que o pai a proibiu de falar com a irmã, por isto Yusuf ainda não a conhecia pessoalmente e nem eu.
Sei também que sei pai morreu há pouco tempo, por isto agora ela tenha vindo ver o sobrinho.

Se eu falar, será que vai reconhecer minha voz?
Estendo a mão e a cumprimento.
- Yaman Kirimli.
Não queria soar tão arrogante, mas saiu. Estou mais nervoso do que gostaria.
Se ela reconheceu minha voz, disfarçou bem. Não percebo nenhuma indicação de que tenha  me reconhecido, o que me deixa um pouco frustrado.
Ela pega minha mão e seu toque confirma o que eu já sabia. É ela sim. Aquela mão suave, aquele toque delicado.
- É um prazer conhecê-lo.
Sua doce voz entra em mim de novo como se lavasse minha alma.
Ela está tímida perto de mim. Adorável.
- Eu a convidei para o café da manhã - diz Ikbal e eu confirmo com a cabeça.
Yusuf se aproxima de mim e pega minha mão.
- Vamos, Amja, vamos Teyse.
Ele pega também na mão dela e nos arrasta para a mesa.

Seher  permanece calada a maior parte do tempo, exceto quando Yusuf lhe pergunta algo. Pela conversa deles eu percebo algumas coisas.
Ela agora é cozinheira permanente do tal restaurante do amigo. Mora sozinha na casa onde morava com o pai. Percebo também que estes anos longe de Yusuf e Kevser foram difíceis para ela. Ela se desculpava por sua ausência constantemente, mas Yusuf parecia apenas feliz por ela estar lá naquele momento. Ele disse várias vezes que Seher tem o cheiro da mãe.
No final da refeição ela se aproxima de mim devagar, como se estivesse se aproximando de um leão bravo, e me pergunto se sou assim tão intimidador. Não queria ser. Ao menos com ela.
- Senhor Yaman, se tiver uns minutos, gostaria de conversar.
- Vamos ao meu escritório. Me acompanhe.
De novo acho que fui seco demais, mas não posso evitar o nervosismo que me faz agir de forma estúpida. Não consigo controlar.
Ela anda ao meu lado, um pouco afastada. Quando chegamos ao meu escritório e ela passa por mim, recebo uma lufada do seu perfume de baunilha e perco o fôlego novamente. Fica difícil respirar, começo a sentir calor, meu corpo reage a ela de forma inconveniente.
Me apresso até minha mesa e peço pra ela se sentar. Preciso desta distância para conseguir voltar ao normal.
- O que você gostaria de me falar?
- E..eu queria fazer um pedido.
- Se eu puder ajudar.
- Com um pouquinho de boa vontade podemos chegar a um acordo.
Agora ela me olha nos olhos. A timidez se foi e seu ar é até um pouco desafiador.
- Eu gostaria de ver mais o Yusuf, talvez passar uns dias com ele de tempos em tempos.
- Impossível. É muito perigoso.
- Mas...
- Este assunto está encerrado. Se quiser vê-ló não vou impedir, mas terá que ser debaixo deste teto. Pode vir o quanto quiser, desde que me avise antes e não podem sair daqui.
- Espera um pouco!!! Yusuf é filho da minha irmã. Eu tenho o direito...
- Yusuf é filho do meu irmão. Vive sob meu teto. Ele é minha responsabilidade.
- Mas eu também tenho direitos sobre ele. Yusuf é meu legado!!
- Meu legado!
Ela se levanta furiosa e aquele lado dela me surpreende. Seus olhos soltam faíscas, suas mãos estão fechadas.
- Por que você precisa ser um homem assim tão intransigente?
Ela poderia ter o que quisesse de mim, menos meu sobrinho. Meus inimigos estavam por todo lado. Ela mesma já havia sido sequestrada e eu ainda precisava descobrir por que. Então uma ideia se formou na minha cabeça.
- A não ser...
- A não ser?
- Que você venha morar aqui na mansão. Pode cuidar de Yusuf. Pode se aproximar do jeito que quer dele.
- Mas... assim? Eu venho morar aqui e pronto?
- Você não quer ficar perto dele? Ele não é seu legado? Então você vem morar aqui.
- Mas e meu trabalho?
- Não vou interferir na sua vida pessoal, desde que não prejudique Yusuf.
Ela parou de andar de um lado para o outro. Parece pensar na minha proposta e me pego ansioso por sua resposta. 
Tento me enganar pensando que fiz a proposta por causa do Yusuf, mas a verdade que grita em mim é que eu nunca mais quero perdê-la de vista.
Todos os meses à sua procura, os pesadelos com seus gritos, o sentimento de impotência imaginando o que tinha acontecido com ela. Tudo isto me causa um sentimento de proteção que eu não consigo evitar.
Ela leva um tempo para decidir, mas sua resposta vem certeira.
- Eu aceito. Por Yusuf.
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