Deixe-me ficar aqui essa noite

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Lá estava ele de novo. Parado na porta do seu apartamento, usando um de seus raros jeans e uma mochila nas costas. Quem o encontrasse na rua daquela forma jamais imaginaria que se tratava do renomado calígrafo Sakurayashiki Kaoru.

O costumeiro "Deixe-me ficar aqui essa noite" saindo de seus lábios. Seguindo o roteiro que eles mesmo haviam criado, Kojiro abria a porta, dando passagem a Kaoru. Ele arrastaria sua mochila até o quarto, antes de seguir para o banheiro, onde ele tomaria uma ducha rápida e furtaria uma de suas camisas, ficando assim à toa no sofá até a hora do jantar.

Kojiro não fazia perguntas, ele não precisava de um motivo para deixar Kaoru ficar. Ele conhecia o outro bem o suficiente para saber que Kaoru só aparecia em sua casa para escapar da realidade. Quando sua pilha de tarefas estava longa demais. Ele queria um tempo para esquecer suas responsabilidades.

E Kojiro estava mais do que disposto a ajudá-lo com aquilo.

— Aqui, tome um pouco. — Ofereceu-lhe uma taça de vinho branco. Kaoru nunca rejeitava.

Assim como aceitava que ele sentasse ao seu lado, o acolhendo com seus braços, provando um pouco do vinho diretamente de sua boca.

Ele não perguntou o que tinha de errado, apenas o colocou em seu colo e afundou seus dedos em seu cabelo, deleitando-se com seus gemidos e a pele quente contra a sua.

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— Deixe-me ficar aqui essa noite — disse Kaoru

Kojiro apenas deu de ombros, dando passagem para ele.

— Acabei de fazer o jantar.

— Perfeito — respondeu já seguindo para o quarto de Kojiro, jogando sua mochila no chão. Desta vez, ele não tomou seu banho, apenas retirou o casaco, continuando com seu jeans e sua camisa de cetim esvoaçante com os botões abotoados propositalmente errados. Sentou-se no sofá, as pernas cruzadas, um joelho sobre o outro.

Kojiro tentava não ficar convencido por perceber que o outro só largava suas roupas tradicionais quando estava se encontrando com ele.

Antes que ele pedisse, Kojiro deixou a taça e o vinho branco sobre a mesinha. Kaoru aceitou a taça em um movimento automático, seus olhos estavam ocupados em seu tablet.

— Se você veio apenas para usar meu wi-fi, pode devolver — disse Kojiro, tentando puxar a taça de volta.

Kaoru foi mais rápido, virando a bebida toda de uma vez.

Kojiro suspirou. Não falou nada mais e voltou para a cozinha, entendendo que aquele era um dia em que Kaoru não o recompensaria por ficar ali.

Não que Kojiro esperasse algo todas as vezes. Tinha momentos em que tudo que ele queria era ficar de chamego com Kaoru no sofá, vendo um filme ruim e tomando vinho barato.

Inclinou-se na bancada de mármore, tendo dali a visão perfeita do outro homem no sofá.

Observou-o digitar de maneira ávida no tablet roxo, pela maneira que sua testa estava franzida e a mordida nervosa no canto dos lábios, Kojiro sabia que se tratava de algum cliente o irritando. Seus dedos longos, calejados por conta do trabalho, pararam de digitar por um momento e foram até seu cabelo. Viu-o pentear os fios rosas, juntando-os aos poucos, com cuidado para não deixar nenhum fio de fora, e os manteve no alto, fazendo um rabo de cavalo com o elástico que estava em seu pulso, deixando sua nuca exposta.

Kojiro desviou os olhos.

Às vezes (sempre), era difícil ficar olhando para Kaoru por muito tempo. Era como encarar o sol ao meio dia. A diferença era que Kojiro não sentia apenas suas retinas queimando.

Amor TuristaOnde histórias criam vida. Descubra agora