*Capítulo 3, Adriano*
Chego em casa tão cansado quanto se espera que um professor esteja no fim do dia. Não estou falando apenas de cansaço físico, mas de exaustão mental. Gabriel diz que isso se chama cansaço da beleza.
Realmente, a imagem que o espelho apresenta não é nada agradável. Pareço alguém que bebeu qualquer coisa com álcool e em seguida capotou no banco da praça, sendo acordado por um policial.
Não que isso já tenha acontecido comigo.
De qualquer maneira, Gabriel ainda não chegou chegou casa. Assim, me vejo na obrigação de cozinhar, já que ele provavelmente vai estar podre de cansado.
Estando podre de cansado, ele não pode agir daquela maneira estranha que me causa arrepios.
A geladeira está cheia de água e coisas aleatórias. Eu não me surpreenderia se encontrasse pasta base de cocaína ali dentro.
Suspirando, apanho um pacote de macarrão, que é a única coisa que estou disposto a cozinhar. Arrasto meu pobre corpo exausto até o fogão, ajeito tudo e vou para o banho. É a primeira vez no dia em que me dou o luxo de demorar ao fazer alguma coisa. Mas logo me lembro que a conta de água não pode vir uma fortuna de novo.
Meu salário não é o bastante pra alguém que aguenta tantos alunos e alunas me olhando como se eu fosse a maior maravilha da Terra, superando o Cristo Redentor em termos de beleza.
Quando resolvo parar de criar uma revolução dos professores dentro da minha cabeça, desligo o chuveiro e me troco rapidamente, pois agora lembrei da maldita panela largada no fogão."Ainda bem que não queimou", resmungo, aliviado. Uma pequena sensação estranha sobe por minhas costas quando percebo que Gabriel já está em casa.
"Olá", ele ronrona, chegando mais perto. "O que você está fazendo?"
Quero perguntar se ele é cego ou algo assim.
"Estou construindo um prédio", respondo, me concentrando no fogão.
"Interessante. Nunca tinha visto um desses antes", ele retruca.
"Estou cozinhando, Gabriel", aviso, fazendo uma careta. "Vá correr pelo gramado ou algo assim".
"Que chato. Não posso ficar aqui com você?"
Talvez eu devesse dizer aonde ele realmente deve ir, mas me controlo. Pelo bem dessa casa, tenho de ser o homem racional por aqui.
"Pode, se prometer que vai calar a boca". Uma vez que essas palavras se libertam, fico imaginando que tipo de cantada boba ele vai inventar.
Mas Gabriel apenas se inclina levemente e olha por cima do meu ombro, onde estou preparando tudo.
"Macarrão, de novo, Adriano? Comemos isso ontem. E na noite antes dessa. E semana passada também".
"Temos uma variedade impressionante de vinagre e fungos na geladeira", retruco. "O que você quer comer, Gabriel?"
Ele desce o rosto até meu pescoço.
"Você", é sua resposta.
Olho bem no fundo dos olhos dele e posso jurar que vi um brilho surgindo.
Agarro a primeira coisa que encontro e jogo na cara dele com força."Ai", Gabriel exclama, esfregando a testa. O tomate se espatifa no chão. Quase posso sentir o fruto me xingando.
"Você está querendo me matar, Adriano?", indagou Gabriel, revoltado. "Pois se estiver, saiba que tomarei providências judiciais a respeito disso".
"Ah, dá licença", funguei, voltando ao trabalho. "Vou te atacar com todos os tomates que estiverem ao meu alcance, pra ver se você vira gente".
Gabriel sorriu levemente.
"Meus advogados entrarão em contato", diz ele, se afastando. Gabriel piscou e se enfiou no banheiro.
Estou torcendo para que ele fique por lá até o fim dos tempos, já que, pra começo de conversa, o tomate ainda está no chão praguejando contra mim. Mas meu maior problema é que sinto meu rosto vermelho, como se as palavras dele tivessem algum poder sobre mim.
Com "dele", estou me referindo ao Gabriel, e não ao tomate.
Talvez eu deva jogar pimenta no macarrão dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Adriel
FanfictionDois amigos moram juntos e precisam lidar com suas emoções descontroladas e estranhas. *Qualquer semelhança com a realidade é apenas coincidência. Caso veja algo incomum, por favor envie um e-mail para misakivanserra@gmail.com e resolveremos o mais...