Cancún.
Quem diria que eu estaria morando aqui, bem longe de tudo e todos. Não é tão ruim como pensei que seria, Marselha é um ótimo companheiro então não me sinto sozinha. Ele me ajuda a cuidar de Victoria, prepara a mamadeira e conta histórias para ela dormir. É quase como um pai, a diferença é que não estamos em um relacionamento.
— Mi ratita. — Marselha brinca, fazendo Victoria rir. Ela está em seu colo, os resmungos do homem ao sentir o bigode ser puxado me fazem gargalhar. — Pare de rir, Alicia. Isso dói!
— Perdona. — Digo entre risadas, secando uma lágrima que havia caído de tanto gargalhar. — Ela te adora, isso é nítido.
— Papa! — Victoria exclama com animação e praticamente se pendura no pescoço de Marselha. Ela o vê como uma figura paterna, ironicamente a primeira palavra que ela aprendeu foi "papa".
— Deveríamos nos casar, assim ela vai ter um bom motivo para te chamar de papai. — Sorrio e Marselha apenas solta uma risada nasal, acariciando os cabelos ruivos e úmidos da menina. Victória saiu do banho há pouco tempo e está cheirando à baunilha.
Ouço a campainha tocar e Marselha se levanta antes que eu possa atender. Ele coloca Victoria em meu colo e vai até a porta da frente. Começo a balançar a menina em meu colo, cantando uma canção de ninar qualquer apenas para lhe fazer rir com a minha péssima cantoria. Só me dou conta de que tem uma pessoa parada de pé em minha frente quando vejo seus sapatos.
Ergo o olhar devagar e automaticamente reconheço o cabelo loiro e o piercing no nariz.
— Hola, Alicia. — O sorriso estampado no rosto de Raquel é tímido, quase com receio de ser mostrado. — Cuanto tiempo.
— Cuanto tiempo, sí. — Coço a garganta. Victoria tem um olhar curioso sob a mulher. — Não imaginei que fosse aparecer aqui. Pensei que estivesse com Sérgio.
— E eu estou. Viemos passar um tempo em Cancún e descobri que você estava por aqui. — Raquel senta na poltrona ao lado do sofá e junta as mãos em cima das pernas. — Conseguimos o contato de Marselha...Ele falou que seria bom vir te ver.
Assinto com a cabeça. Ainda estou confusa. Tanto tempo que não vejo Raquel e ela aparece do nada em minha casa.
— Pensei que fosse bom conhecer a pequena Sierra. — Outro sorriso tímido. Minha filha se anima ao ouvir o próprio sobrenome, tentando escapar do meu colo para se agarrar ao pescoço de Raquel. — Vem aqui com a titia, Vic.
Victoria se desvencilha dos meus braços e vai até Raquel, que a pega no colo e enche o rosto da mesma de beijos, arrancando gargalhadas e sorrisos doces. Por uma fração de segundos, consigo sentir o calor se instalando dentro do peito. Não sei se é porque fico assim sempre que vejo minha filha sorrir ou pelo fato de Raquel estar aqui. Ou os dois.
— ¡Mira, qué cosita más bonita! — Ela exclama, beijando novamente o rosto da menina. — É a sua cara, Ali. Tem os cabelos ruivos e as sardas.
— E os olhos de Germán.
Um silêncio constrangedor. Sim, é uma péssima ideia mencionar meu falecido marido mas acabou escapando. Raquel desvia o olhar, resmungando baixinho quando Victoria puxa o lápis em seu cabelo e desfaz o coque da mulher.
— Vamos mudar de assunto. Como estão as coisas depois de tudo?
— Ótimas. Minha relação com Sérgio é maravilhosa, tudo está em paz depois que a poeira baixou. — Raquel explica. — Há dois anos, senti algo que nunca imaginaria sentir. Uma mistura de sentimentos. Medo, raiva, tristeza...
— Ansiedade...
— Sim. Agora cada um está em um canto do mundo. Vamos ter muita sorte se acabarmos nos esbarrando por aí. — Ela ri. — E Tóquio...
Só fiquei sabendo o que aconteceu com Tóquio depois que saiu nos noticiários. Ela arrastou Gandía para o inferno junto com si. Eu não conseguiria nem imaginar como seus parceiros ficaram após sua morte.
Olho para Raquel e vejo seus olhos lacrimejarem.
— Não chora. — Victoria murmura. Ela aprendeu essas palavras nas muitas vezes em que me pegou desabando pela morte de Germán.
— Tudo bem, mi amor. Já vai passar. — Raquel seca as lágrimas rapidamente, balançando a cabeça. — Como tem sido com Marselha?
— Incrível. Um companheiro ótimo, eu diria. Ele me atura até quando estou naqueles dias e com vontade de me entupir de doces. — Faço beicinho. — Esses dois anos em Cancún me fizeram bem, me sinto uma nova mulher.
— Também me sinto assim. Nada melhor do que ter paz depois de passar por tantos problemas.
A loira se levanta ainda com Victoria no colo e senta ao meu lado no sofá, usando uma das mãos pra segurar a minha. Sinto meu corpo ficar rígido e afasto a mão por impulso. Raquel suspira e volto a colocar minha mão por cima da sua, dando um aperto fraco.
— Obrigada por vir aqui. Significa muito pra mim. — Sorrio. — Será sempre bem-vinda na minha casa, senhorita Murillo.
— Será um prazer te visitar, senhorita Sierra. — Rio da sua fala. — Sentí tu falta.
— Yo también te extrañé, Raquel.
Victoria passa novamente para meu colo e agarra a chupeta em cima do sofá, enfiando na própria boca.
— Ainda não acredito que pariu num esgoto.
— No me jodas! — Murmuro e ela gargalha.
— No me jodas! — Victoria repete.
— Hija! Não, você não pode falar isso! — Tapo seus ouvidos rapidamente. Talvez Raquel possa ficar sem ar de tanto que está rindo. E minhas bochechas estão completamente vermelhas. — Para de rir!
— Não dá! Até xingando ela é igual à você!
Reviro os olhos mas logo começo a acompanhar sua risada. Marselha entra na sala com uma bandeja em mãos, contendo três xícaras de café e três pães torrados. Ele a coloca na mesinha de centro e senta-se na poltrona, pegando uma das xícaras e dando um gole do líquido fumegante. Raquel faz o mesmo e eu pego um dos pães, tirando um pedaço pequeno e entregando para Victoria.
É, essa vida é mil vezes melhor do que ter Tamayo no meu pé o tempo todo.
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Oi! Espero que tenham gostado da oneshot.
Aproveitei que saiu a última parte de la casa de papel e escrevi essa pequena história. Acho que seria uma cena tão linda ver Raquel conhecendo a filha de Alicia.
Comentem e votem bastante, até a próxima <3.
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El Espectáculo De La Vida
Fanfiction• ESTA ONESHOT CONTÉM SPOILER DA ÚLTIMA TEMPORADA DE LA CASA DE PAPEL. Dois anos após o assalto, Alicia se encontra em paz e livre da polícia. Morando em Cancún, tem a companhia de Marselha para cuidar da sua filha. O que Alicia não esperava é que s...