Era agosto de 1967, e o dia estava um pouco frio. As nuvens faziam o céu branco e dele o azul esvaecer.
Fall estava no pátio da mansão Parker sentada em uma poltrona acolchoada lendo um pequeno trecho de uma notícia que havia saído nas revistas de fofoca. Ela adorava ler esse tipo de revista, mas nos últimos dias não tinha tempo para isso, malmente para sentar-se a frente da televisão e assistir a um filme. Certamente, a vida de noiva não lhe caía bem. Porque estava sempre para um lado e para o outro preparando coisas para o casamento junto com as cerimonialistas que, nunca a deixavam em paz. E a maior parte da perda de tempo que Fall tinha, era por conta destas mesmas cerimonialistas.
Às vezes Fall tinha que sair de fininho para poder fazer algo de lazer, como agora, que está sentada lendo a revista.
Teve de respirar fundo, pois sabia que cedo ou tarde, iriam encontrá-la e a levar de volta a sala de estar, onde, realmente tinha que escolher o quê queria em seu casamento. E, não estava totalmente errada, pois quando uma das empregadas a avistou, correu até ela e pairou ao lado de sua poltrona ajoelhada.— Senhora, estão todos procurando por você. Certamente ninguém imaginaria que estivesse em um local tão óbvio, como aqui no pátio - era verdade, por isso Fall havia se refugiado ali.
— Veja Emilly — era o nome da empregada — Rickson e eu estamos na revista de fofoca.
Então Emilly voltou os olhos para onde estava a manchete.
— Minha nossa! Como a senhora está bonita nesta foto. — Estava mesmo. Era uma fotografia pequena, cuja a imagem era preta e branco. Fall estava ao lado de Rickson perfeitamente graciosa. Tinha um olhar gentil, voltados para ele. Olhava para Rickson, como se estivesse olhando para uma paisagem. A paisagem mais bela que já viu. Na boca um sorriso bem apessoado desabrochava-lhe pelo rosto, havia um borrado preto nos lábios, mas que, claramente era seu batom escuro, rubra, um vermelho sangue. Os cabelos eram curtos, sempre curvados sobre o pescoço. A cabeça sobre os ombros desajeitados de Rickson. Ele estava perfeitamente escultural ao lado de Fall, com sorriso ofuscado, olhos brilhantes olhando diretamente para câmera focados naquele exato momento, sabendo que ele ficaria gravado para sempre.
— Obrigada Emilly.
As duas ficaram um tempo em silêncio enquanto Fall continuava a ler a revista.
Quando a empregada viu que Fall não ía mover uma palma de onde estava, enfim disse:— Senhora, as cerimonialistas estão esperando por você — E sorriu sem graça.
Fall colocou a revista no rosto como se ali fosse seu novo refúgio, longe de Emilly e de todos.
— Emilly, por que será que Rickson contratou essas cerimonialistas chatas para cuidar do meu casamento?
— Não foi ele senhora, foi a madame Parker.
— Tinha que ser aquela velha metida! Não tinha uma forma pior dela se meter no meu casamento?
A empregada corou. Não estava acostumada a conversar com os patrões com tanta intimidade.
Fall fechou os olhos para se acalmar. Quem a estava vendo de fora, como Emilly, pensaria que ela estava prestes a explodir, o que era verdade.— Está bem, vamos Emilly— deixou a revista em cima de uma mesinha e andou junto com Emilly até a sala de estar.
Quando chegaram, as três cerimonialistas estavam sentadas pacientemente no sofá. Fall não ligava tanto para a aparência delas, as mesmas que vou descrever agora:
Existia uma cujo nome era Matilda, tinha cabelos negros, longos, cintilantes e esvoaçantes, curvavam sobre seu rosto fazendo as bochechas mais redondas e fofas. Olhos brilhantes e apaixonados, não exatamente por alguém, mas por algo. O trabalho de cerimonialista sempre foi sua paixão, amava organizar eventos, mas não gostava muito das pessoas, ainda mais quando estão muito amontoadas em grupos.
A outra sentada ao seu lado era Júlia, tinha cabelos loiros e cacheados, era branca feito porcelana, e quando sorria, percebia-se no canto da boca, covinhas. - Uma vez Fall leu que covinhas eram falhas genéticas, e se perguntou naquele instante, olhando atenciosamente para Júlia, se a falha genética vinha de sua mãe ou de seu pai. Porque tinha tanto medo de ter filhos com falhas genéticas da parte dela.
A terceira cerimonialista era a chefe delas, e ao contrário das outras que eram novinhas e com falhas genéticas, essa era velha e nenhum pouco graciosa. No rosto as rugas já estavam protuberantes demais, e os olhos já estavam quase iguais os de Fall, com olheiras e tudo mais. Fall por um instante ficou horrorizada por estar parecendo com uma senhora de meia-idade, e Fall ainda era tão novinha. Tinha completado 27 aninhos havia poucos meses e já estava deste jeito, como ela seria depois da meia-idade? Essa pergunta fez o estômago dela revirar.
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O mundo em preto e branco
RomanceTudo o que Fall queria ela construiu no seu casamento com Rickson, pois ele realizava tudo o que ela desejava. Mas Fall sente nesse casamento a pressão e a insegurança de não conseguir dar o que Rickson mais quer, um filho que possa assumir a empres...