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Cupcakes.

Eren odiava cupcakes, principalmente quando chegava em casa depois de um dia de trabalho e via dezenas ou até centenas deles espalhados pela cozinha enquanto seu noivo não parava de fazê-los em nenhum momento, se movendo em modo automático, com aqueles lindos olhos azuis cansados focados no que estava fazendo. 

Armin sempre fora fã de doces, Eren sabia muito bem disso. O namorado tinha aprendido a cozinhar quando era mais novo, para ajudar na pequena confeitaria de seu avô — que inclusive foi onde haviam se conhecido, quando estavam no ensino médio. Eren simplesmente adorava entrar na cozinha do apartamento que dividiam e sentir o cheiro de massa caseira fresca que seu amado fazia quando cozinhava seus famigerados muffins de mirtilos. Porém, ele odiava quando eram os cupcakes no lugar dos muffins, pois significava que que havia algo errado, e de acordo com seus respectivos sabores, Eren sabia exatamente o que estava acontecendo; se eram de caramelo, por exemplo, significava que Armin estava com raiva, estressado ou frustrado, e isso variava dentre outros tipos de sabores os quais Eren já sabia de cor seus significados. Aquele era o jeito que Armin encontrara para demonstrar melhor o que sentia, já que nunca fora tão bom naquilo.

Eren ficou parado na frente da porta de seu apartamento durante alguns minutos, segurando firmemente as alças das sacolas plásticas em sua mão esquerda. Estava cansado, estava exausto, tanto pelo dia frio e cansativo de trabalho quanto pelo que estava acontecendo entre ele e seu noivo. Nem parecia mais que estavam em um relacionamento; não interagiam mais um com o outro, apenas coexistiam em silêncio — o que estava apavorando o Yeager, já que seu casamento estava marcado para daqui mais ou menos um mês e meio e ele não queria estragar seu noivado por causa de algo besta como aquilo —, e agora, depois de quase duas semanas naquela situação, estava determinado a se redimir pela besteira que tinha feito e acabar com aquilo. Respirou fundo uma última vez antes de destrancar a porta de madeira na sua frente e entrar no apartamento, deixando seus sapatos na pequena sapateira perto dela. Deixou uma das sacolas plásticas sobre a mesa de jantar — a outra ainda ficando consigo —, e se virou na direção da cozinha, sendo Armin de costas para si fazendo mais uma porção de massa de cupcake enquanto várias bandejas e cestas cheias dos bolinhos estavam sobre a bancada atrás do corpo esbelto, que eram de chocolate com cobertura de chantily branco. Eren suspirou com o peito apertado, os malditos bolinhos precisavam ser de chocolate? Aquele sabor em específico significava algo nada bom: Armin estava triste, ou chateado — ou talvez os dois — com algo ou alguém  — ou no caso, ambos. Se aproximou lenta e ligeiramente do noivo, ficando a uma distância segura do corpo esbelto, que o ignorava.

— Eu trouxe comida 'pro jantar. — Começou, em um tom um pouco baixo e relutante. — Comida chinesa, deixei em cima da mesa. Pensei que você fosse querer comer algo que... não fosse doce. — Silêncio. Armin não tirou sua atenção dos malditos cupcakes, como se o moreno não estivesse ali. O Yeager engoliu em seco e mordeu a parte interna de sua bochecha esquerda e apertou ainda mais a alça da agora única sacola que segurava. — Bom... Vou te deixar um pouco em paz, agora.

Saiu dali sentindo suas mãos tremerem e transpirarem e seguiu até a suíte principal do apartamento. Deixou a sacola plástica e a bolsa de couro com seus materiais do trabalho em cima da cama e se sentou sobre ela, colocando a cabeça sobre as mãos e elas sobre os joelhos, suspirando derrotado. Não fazia a menor ideia de como acabar com aquela situação, não tinha sabido encontrar as palavras certas para se desculpar com seu amado, tinha sido tão infantil e idiota naquela terrível noite uma semana antes; não devia ter dito nada do que dissera.

Já fazia algum tempo que Armin estava passando mais tempo estudando e trabalhando do que o normal, passando cada vez menos tempo em casa e com as pessoas de seu círculo de maior intimidade; tinha começado quando seu avô falecera devido a um problema cardíaco, aproximadamente um mês antes. Armin tinha ficado completamente arrasado, tinha ficado atônito durante dias, sem mostrar nenhuma emoção evidente — pelo menos antes de ele praticamente explodir em uma tristeza que o Yeager nunca presenciara antes. Insistiu durante um bom tempo para que o noivo começasse a fazer terapia; entretanto, por estar se tornando um profissional da área, Armin não lhe deu ouvidos, alegando estar bem e não estar evidenciando motivos para fazer acompanhamento psicológico. Mas ele visivelmente não estava bem; saía mais cedo para as aulas da faculdade, quando o noivo ainda dormia, e depois seguia direto para o trabalho, chegando em casa no começo da noite e indo fazer os malditos cupcakes de chocolate que tanto passaram a atormentar a vida do Yeager, tudo isso sem trocar nenhuma palavra sequer com o mesmo, a menos que fosse realmente necessário, como saber onde estava a caneca especial que Armin usava para tomar vinho nos fins de semana — sim, para tomar vinho, em uma caneca velha de cor preta por fora e branca por dentro, de base quadrada e com um canto batido; e em plena luz do dia — ou saber se o moreno estava precisando de algo do supermercado. Naquela noite em específico, Eren estava farto de tudo; estava farto de Armin tentando ignorar os próprios sentimentos e necessidades, principalmente.

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