Capítulo 03

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Shoji não esperava que treinar com Tokoyami e Dark Shadow fosse ser tão... Fácil. Isso definitivamente estava errado. Talvez fosse por causa da luz - mesmo que fraca -, mas o par não estava tão rápido, nem tão forte quanto Shoji se lembrava que deveria ser. Seus movimentos eram imprecisos, apesar de desnecessariamente violentos, e, mesmo que o mascarado precisasse se esforçar ao máximo para não ser atingido, ele não foi golpeado nem uma vez. Pelo contrário, ele foi o primeiro a encontrar uma abertura e derrubar Tokoyami com um chute nas costas.

O menor se reergueu trêmulo e já ofegante, mas elogiou seu movimento e voltou a lutar, impulsionado pela sombra, mais irritada. Shoji não ficou contente ao perceber como Dark Shadow ia ficando mais e mais impaciente por não conseguir acertá-lo, e a lanterna brilhando diretamente em sua cara parecia enfurecê-lo ainda mais.

- ARGH! ME DEIXE DESTRUIR VOCÊ E ESSE MALDITO HOLOFOTE!!! - A sombra gritou, dando seu melhor ataque até o momento.

Shoji mergulhou no chão para desviar das garras da criatura, que marcaram a árvore atrás dele profundamente. Ele, então, recuou tão rápido quanto pôde para sair do alcance da sombra, mas ela o perseguiu ensandecida.

- Fique calmo, Dark Shadow! - Tokoyami grunhiu mais uma vez, apertando os dentes enquanto tentava parar sua individualidade.

O mascarado ainda sentia que tinha algo estranho acontecendo. Dark Shadow parecia mais furioso, mas também parecia estar menor que no início da batalha... Por que Tokoyami estava tendo tanto problema em contê-lo? Um alto "creck" chamou a atenção de um de seus olhos, e ele viu o tronco recém-atacado ceder e tombar na direção dos combatentes. Na mesma hora, Dark Shadow saltou sobre ele, e o rapaz pulou para trás e recuou aos tropeços, enquanto a copa esmagou seu oponente.

Por um momento, Shoji congelou, só com seus olhos vidrados, os verdadeiros e mais dois pares extras, observando a confusão de galhos e folhas, em choque. Ele esperou que Dark Shadow irrompesse do arbusto e o atacasse novamente, mas tudo o que aconteceu foi um leve farfalhar das folhas e um abafado chiado de dor.

- Tokoyami? - Shoji chamou tenso além do limite.

- Eu estou bem. - O rapaz respondeu com a voz grave, então soltou outro gemido. - Entretanto, acredito que estou irremediavelmente preso aqui...

O maior quase se lançar contra copa para arrancar o corvo dali. Foi preciso todo o seu autocontrole para manter a calma e pensar na melhor forma de resgate. Como um aspirante a herói, ele não podia se desesperar. Com uma única respiração profunda, Shoji girou o regulador de luminosidade da lanterna o suficiente para enxergar melhor o cenário ao seu redor e ergueu o equipamento acima de sua cabeça com um par de seus braços.

- Eu já vou te tirar daí. Me dê só um segundo.

Apontando a lanterna para a copa bagunçada da árvore, ele começou a arrancar cada obstáculo em seu caminho, tentando agitar a imensa planta o mínimo possível. Cada galho que arranhava as palmas de suas quatro mãos, felizmente de pele grossa e áspera, fazia seu peito doer com a possibilidade de que Tokoyami pudesse ter um deles atravessado em seu corpo. Ele queria se apressar, mas sabia que tinha que ser paciente. E depois de alguns poucos minutos de tensão e trabalho duro, ele finalmente encontrou o rapaz.

O garoto-pássaro estava prensado de costas no chão, com os braços e pernas meio erguidos, certamente para tentar se proteger quando a árvore caiu. Assim que a luz da lanterna o flagrou, ele apertou os olhos e chiou incomodado. Shoji imediatamente regulou a luminosidade e tentou mirar o objeto mais para o seu peito, tirando o foco de seu rosto. Vendo como o amigo estava emaranhado nos galhos, ele destruiu cuidadosamente cada ramo, fino ou grosso, acima e ao redor do menor. Por fim, ele pôde usar quatro de seus braços para envolver Tokoyami protetoramente e tirá-lo do meio da copa, que ainda insistia em arranhar seus braços e a pele sensível que os unia.

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