Capítulo 02

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Eu senti raiva, senti ódio não apenas de Louis, mas também de mim mesma. Todo o tempo em que estive no reino Arcrux fora desperdiçado, o tempo que eu deveria ter gasto na procura de Markab.

Estava sendo treinada pelo meu inimigo, se é que eu podia chamar aquilo de treino. Aquele era o motivo de Louis tentar me atrasar o tempo todo, mudar as rotas e os horários de treinamento. Ele queria me prejudicar e me deixar indefesa, não me ensinar a revidar.

Ainda não acreditava em como ele havia me traído, traído a minha confiança e muito menos em como eu havia deixado que aquilo acontecesse. A culpa era minha, o erro era meu, nada daquilo teria acontecido se eu não tivesse saído da aldeia.

O destino da morte me parecia bem menos vergonhoso do que aceitar ter sido feita de boba e perder as pessoas importantes para mim.

Descobrir ser uma híbrida de bruxa e lobisomem também não ajudara em nada já que não fazia a mínima ideia de como controlar meus poderes, muito menos como ativá-los.

A Lua cheia se aproximava e eu ainda não sabia como lidaria com aquilo soziha, caso eu sobrevivesse. Não estava considerando muito essa alternativa.

Com dor em todo o meu corpo, tentei argumentar contra Louis mesmo que fosse em vão, um tipo de tecido roçava entremeio meus lábios impedindo que qualquer palavra saísse da minha boca permitindo que apenas os ruídos dos meus resmungos pudessem ser ouvidos.

Desapontada, uma lágrima desceu de um dos meus olhos e aquilo doeu, doeu mais do que eu esperava. Eu morreria.

A uma semana atrás, se me dissessem que Louis me sequestraria e daria um fim a minha vida miserável, provavelmente acharia que fosse uma loucura. Mas agora era real, eu seria morta e o fim do meu sofrimento chegaria.

Em alguns momentos me imaginei deixando esse mundo e trazendo paz aos angustiados com a maldição da Lua de Sangue. Aquele evento finalmente chegara, mas eu não estava tão tranquila satisfeita quanto deveria.

Resmunguei um pouco mais e os homens riram enquanto eu tentava me levantar da neve gelada e cortante, minhas tentativas eram inúteis vendo que minha perna esquerda estava ferida.

Eu mal a sentia, então enquanto me contorcia implorando por piedade daqueles homens esperando que me ajudassem a levantar, apenas os vi gargalhando com seus dentes estranhamente brancos para um lobo montanês. 

Sempre os imaginei com sangue transbordando de dentro de suas bocas mas era justamente ao contrário, porém aquilo não os deixava aparentemente mais simpáticos, apenas me faziam deduzir que eram realmente bons no que faziam, que provavelmente era torturar as pessoas.

Louis nem sequer olhava para o meu rosto, ele apenas puxou a corrente ligada aos meus braços me forçando a levantar com dor e a perna machucada manca. Eu mal conseguia caminhar daquela maneira, além do óbvio eu também me afundava com facilidade na neve branca.

Eu adorava o frio, mas as circunstâncias onde eu me encontrava não me permitiam desfrutar do clima que antes era adorável, agora era insuportável.

A paisagem era linda, estávamos no alto de um morro o que me levou a deduzir que eu havia caído depois que a subida havia sido concluída. Aquele foi meu único alívio antes de eu olhar para frente e ver uma comprida e estreita ponte de pedras que nos levaria até um pequeno casebre de madeira.

Louis voltou a puxar a corrente cortante que prendia meus pulsos e se estendia até sua mão que me conduzia a todo e qualquer lugar que me levassem. Eu não queria demonstrar a agonia que eu sentia, mas era quase impossível com aquela dor aguda em meus cortes e rústica por todo o meu corpo.

The Arcrux - Arrows & Daggers (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora