- Não sei se sou famoso, mas meu nome é Alderico - digo,
olhando-a de relance com um sorriso afetado no rosto. - E você?
por acaso é meu anjo da guarda? pois se for, confesso que estou
precisando dos seus serviços.
- Ana - diz ela, rindo e estendendo a mão. - muito pra-
zer. mas por que vai precisar desses serviços hoje? Está pensan-
do em fazer alguma besteira? me avise se eu precisar chamar os
reforços...
- Talvez precise... - brinco, sorrindo, e olho para trás para
ver as luzes da festa.
Não posso negar, o tal velho homem às vezes crava as garras na
superfície da minha mente, tentando emergir. Eu quero beber, fazia
tempos que não queria, mas nesta noite eu bem que quero. pen-
sava que, quando me convertesse, certas vontades desapareceriam
automaticamente. mas, pelo visto, não é assim que a banda toca.
mesmo assim, não tem jeito, os pais dos noivos são cristãos conser-
vadores e não vejo nem uma taça de vinho - algo que eu ainda me
permito - circulando pela festa. olho para Ana e pergunto:
- Quer beber alguma coisa? posso pegar alguma coisa pra
nós dois...
Ana franze o cenho e olha na mesma direção, por cima do
ombro, seu cabelo fi no esvoaça livre na brisa. reparo como seus
traços parecem fortes.
- Pode ser, mas nada com álcool - ela ressalta e se vira
para a grama.
Frustrado, percebo que nem ao menos arrumei uma cúmpli-
ce. Dividir a culpa é sempre um santo remédio.
- Acho que nem tem - digo eu com sarcasmo. Depois me
levanto e bato na calça. - E então, o que vai ser? Água, suco,
refrigerante? - As opções estão me dando vontade de rir, mas
Ana pressiona um pouco os lábios depois diz de forma decidida:
Água. - Então, torce seus cabelos para trás.
Resignado, vou andando até a multidão, meio embaraçado.
Evito olhar em torno, pois pretendo não avistar a minha ex. As-
sim que consigo, retorno com as duas bebidas. Trago um copo
de água para Ana e surrupio uma taça de champanhe para mim.
- Desculpe me intrometer - ela diz enquanto me sento-, mas vejo que fi cou um pouco abalado depois que Angelina se foi. Quer conversar sobre isso? - pergunta ela, olhando-me
com uma expressão serena e em seguida dando um gole em sua
água.
Na verdade, eu realmente não queria. Vou remoer aquele
fora a noite toda e já sabia disso com cada fibra do meu ser. Não