Capítulo 1

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-Ande, Madá! Só falta você! – gritou Mestre Arthur.

O sol anunciava o início de uma tarde longa, calorenta e de queima a bruxos. Parte do clero esperava Madalena, a antiga menina órfã que virara meretriz um dia para se sustentar, mas que encontrou a graça do Sol e fora banhada com sua Luz - pelo menos é o que sabem sobre ela.

Logo, a mulher entrou no transporte que os levaria ao seu destino.

Da carruagem branca onde estavam rumo à Praça Verde, era possível observar a intensa movimentação do povo e de vendedores tentando lucrar com suas tortas de bacalhau, limonadas, carne salgada e tecidos de seda – era um momento de fartura para Sol de Cima. Também era dito que esses momentos seriam o resultado de uma intensa perseguição por crenças não vinculadas à Ordem Popular Aurora Lucem, o que alimentaria a paixão do Sol por seus filhos.

A viagem parecia demorar horas até que finalmente chegaram à praça. O lugar tinha, em seus dias normais, forma de um círculo verde, por causa da grama que obtinha uma tonalidade marcante na primavera, mas devido a aglomeração de curiosos, o único círculo visto era o palco que ficava no centro, o cinza elevado pelas pedras para que todos próximos conseguissem ver o que ficava em cima dele. Naquele momento, um homem descalço, vestido de trapos estava com mãos e pés amarrados a um ferro de dois metros de altura. Além dele, no palco, estava um homem com capuz dourado e bata preta que logo começou a encher os arredores do chão onde estava o amarrado quando viu que Mestre Arthur e os Acolhedores estavam chegando.

Após todo clero subir ao palanque, Arthur enfrentou os olhos atentos de homens e mulheres em baixo:

-Povo de Jardim do Sol! – disse entusiasmado e nervoso ao mesmo tempo – Aprendemos desde ingênuas crianças que nosso Senhor é único e que qualquer culto a não ser a Ele é pecado. Este homem que veem aqui é um traidor! Cultua a magia proibida em sua residência.

O Mestre aproximou-se do mágico e gritou: "Em nome daquele que nos deu a salvação em troca de nada, o Barganhador Fiel, meu deus Sol, sentencio-te a morte pelas línguas do Desertor!". Então, o homem de preto incendiou a palha e gritos de dor e súplicas por misericórdia saíram da boca de um homem inocente que estava sendo queimado por algo que não fizera.

Durante a volta ao Palácio Sagrado, Madalena pensou sobre o fato ocorrido: um homem sem culpa fora morto mais uma vez. Sim, ela sabia que aquele não tinha feito nada. Na realidade, todos do clero sabiam, inclusive Arthur. Aquilo era comum acontecer devido a inúmeros fatos, como algum dinheiro emprestado por alguém do clero e que não fora pago, ou qualquer tipo de traição que pode ocorrer entre uma amizade ou paixão frágeis. Mas aquele homem teve seu fim na fogueira devido outro motivo...

 Enquanto voltavam ao palácio, um pergaminho que se desprendia de uma das árvores da paisagem entrou pela janela da carruagem e caiu no colo da mulher; nele estava escrito: Recompensa por bruxos, magos ou feiticeiros: cinco mil moedas de platina. Este foi o real motivo pela queima do homem: o desespero do povo por dinheiro, até em dias de fartura.

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⏰ Última atualização: Oct 31, 2016 ⏰

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