O Treino de Quadribol

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Era mais uma agradável noite de estudos na torre da corvinal. Os N.O.M.s nunca estiveram tão perto e aquela altura, já me sentia bastante preparado. Não estudo pra ganhar pontos em um exame, estudo pra absorver conhecimento e é por isso que eu costumo me sair -modestia à parte- muito bem. Mas naquela noite, algo tirou a minha concentração. Mais pra... alguém. Pra ser mais específico, um certo aluno da grifinória que tirou a semana pra me importunar. 

A nível de contexto, durante essa última semana, Pagurinho tem se mostrado deveras interessado na minha vida amorosa. Segundo ele a minha "varinha vai apodrecer se ninguém passar um óleo de peroba nele". Pagurinho... né? Mas sempre que ele começa a falar sobre isso, o clima fica meio estranho depois. Como se ele lembrasse de algo que ele esqueceu de fazer e aí tivesse que sair correndo pra terminar. Sei lá. Pagurinho... né? 
Enfim, um dia desses a gente estava voltando de uma aula de TDCM e havia um silencio ensurdecedor durante todo o caminho. Quando a gente chegou na entrada do castelo o Pagurinho só parou. 
Eu parei também. 
Ele virou pra trás, devagar. 
Eu fiquei confuso com aquilo tudo, mas não assustado. Ele só... me olhou, abriu a boca como se fosse dizer algo e então voltou a caminhar. 

E eu fiquei ali parado. Ele nem olhou pra trás. Quer dizer, foi estranho, né? Não é coisa da minha cabeça... Né? Depois disso nós não tocamos mais nesse assunto e seguimos normalmente, como sempre foi. Mas diferente. Pagurinho começou a fazer mais piadas de varinhas (se é que isso é possível) do que nunca. E apesar de estamos agindo normal, às vezes quando nossos olhares se cruzavam, Pagurinho se demonstrou... Desconfortável.
Por muitos momentos me peguei tentando lembrar se havia algo de errado que eu poderia ter dito à ele, ou se me demonstrei mais irritado do que deveria com o fato de ele querer bancar o cupido pra mim. Mas eu percebi que realmente estava incomodado com aquela situação toda quando me peguei com dificuldades em me concentrar nos estudos naquela noite. 

Foi quando eu decidi que precisava conversar com ele. 
Peguei meu casaco e marchei até a torre da grifinória e torci pra não encontrar meu irmão no caminho. Os quadros me olhavam de rabo de olho enquanto eu passava mas nem liguei. Eu estava preocupado e isso já havia começado a me consumir. Por que meu amigo estava me evitando? Meu melhor amigo? Foi então que ouvi sua voz, inesperadamente, atrás de mim. 
"Eu não sabia que você frequentava a torre da grifinória agora" ele disse ao se aproximar com as mãos pra trás e um sorriso pretencioso. "Você sabe que eu não venho aqui... a não ser que seja muito importante". Ele fez uma cara como se estivesse prestes a caçoar de mim e então perguntou "Sabe o que é muito importante, Tim?" eu fiz que não com a cabeça "Tomar a vacina... Primeira e segunda dose" olhou pra câmera e piscou.

Pera, que camera? Que? Esquece essa última parte.

Ele perguntou "Sabe é o que é muito importante, Tim?" e eu fiz que não com a cabeça. E ele mostrou o que segurava com as mãos pra trás: duas vassouras. "É muito importante que você saiba subir numa vassoura." eu olhei pra ele, esperando um complemento (geralmente vem quando ele fala sobre varinhas, ou vassouras) "E quem melhor pra ensinar como subir numa vassoura do que Pagurinho Jr.?" ele parecia realmente orgulhoso com a afirmação que acabara de fazer e eu fiquei tão aliviado de ter meu amigo de volta, agindo normalmente, que deixei a conversa pra depois. E além do mais, eu já havia pedido aulas particulares pro Pagurinho algumas vezes, mas ele sempre fazia alguma piada sobre o tamanho da minha vassoura não aguentar o passeio e mudava de assunto, então eu achei melhor só deixar rolar.

Falamos sobre coisas triviais no caminho até o campo de quadribol, ele me contou sobre um novo jogo que ele vem desenvolvendo que, segundo ele, vai ser "a solução pra festas chatas" e realmente, não tem como uma festa ficar chata com o Paguri- quer dizer- com o JOGO que o Pagurinho tá criando. 
Quando chegamos no campo de quadribol, ele tirou a capa e pegou o baú com as bolas.
Ele não pegou o baú COM as bolas, isso seria meio difícil... Ele pegou o baú que CONTÉM as bolas...
Mas pensando melhor agora, acho que você já tinha entendido o que... Enfim, continuemos.

Ele fez menção de abrir o baú quando ele parou ainda de costas, respirou fundo e então me encarou. No momento em que ele me encarou eu fiquei tenso, e foi aí que ele soltou a seguinte frase "Como é que eu vou pegar as bolas se você ainda nem subiu na vassoura?". Então nós dois caímos na gargalhada porque não foi uma dessas piadas premeditadas que Alex costuma fazer. Foi um comentário genuíno e inocente que por acaso, saiu com um duplo sentido. Não foi?
Enquanto a gente ria do que havia acontecido, ele foi se aproximando e antes que eu pudesse perceber, nossos rostos estavam tão próximos, que eu podia sentir a respiração dele. Eu poderia descrever os detalhes de seus olhos castanhos, se eles não disputassem a atenção dos meus com seus lábios. E foi aí que o tempo pareceu passar mais devagar. 

Nós guardamos o baú e deixamos as vassouras de lado.
Não conversamos sobre o que aconteceu essa semana, na porta do castelo.
Na verdade, não conversamos sobre mais nada naquela noite.
Depois do que aconteceu, nós apenas ficamos em silêncio.

Mas diferente do silêncio tenso da nossa caminhada de TDCM até o castelo, esse era um silêncio... Confortável. Quase como se a gente não precisasse falar pra saber o que o outro tá pensando ou sentindo.
E foi então que eu quebrei o silêncio "Obrigado por isso." Ele apenas me olhou "Eu não sei muito bem o que... Enfim, mas eu acho que eu precisava disso... O que quer que isso seja". Ele me encarou por alguns segundos e então olhou pro céu de novo. Meu olhar acompanhou o dele e naquele exato momento uma estrela cadente passou cruzando os céus. Ele manteve o olhar fixo aonde a estrela havia passado e sem seguida fechou os olhos. E então se virou pra mim com um sorriso de canto de olho. Naquele momento eu procurei a mão dele e nossos dedos se cruzaram. Ele abaixou o olhar pras nossas mãos, voltou a olhar pra mim e apenas disse "A gente devia voltar pros dormitórios" em um tom mais sério "antes que reparem".

E foi assim que Pagurinho não só estragou uma noite de estudos perfeitamente agradável, como tirou meu sono pelo resto da noite também. 

Mas só entre nós... Valeu a pena.


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⏰ Última atualização: Sep 10, 2021 ⏰

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