Recepcionada

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Um homem estava atrás da mesa, sentado em uma cadeira grande de couro. Seu cabelo castanho era curto, mas bonito. Sua barba estava bem aparada, ele tinha olhos verdes e vestia um terno cinza escuro. O que chamou a minha atenção foi a mulher sentada no colo dele, rindo de algo que ele disse. Ela tinha o cabelo loiro cacheado e vestia um vestido cor de creme e salto alto preto.

Os dois perceberam a minha presença e a mulher logo pulou do colo do cara que eu achava ser meu doador de espermatozoides. Os dois ficaram em pé em questão de segundos, como se tivessem sido pegos fazendo algo ilegal, ou sexo ao ar livre, como era mais o caso.

- Você é o Kiran? – perguntei, torcendo o nariz para o cheiro de sexo que impregnava o lugar.

- E quem quer saber? – perguntou ele, franzindo o cenho, como se não fizesse a mínima ideia de que eu estava para vir. Como ele não me reconheceu, presumi que ele também nunca tinha visto uma foto minha. Que legal, éramos dois estranhos que estavam sendo obrigados a passar o verão juntos.

- A garota que você trouxe ao mundo por livre e espontânea pressão – falei. Ele demorou quase um minuto para entender o trocadilho, mas enfim disse algo mais idiota do que eu poderia pensar.

- Você é a filha da Jane?

Revirei os olhos e senti vontade de jogar minha mala em cima dele.

- O nome dela é Julie – corrigi.

Ele desviou os olhos, como se tentasse lembrar se era mesmo esse o nome da minha mãe. Cretino.

- E eu sou sua filha também. Então tenha um pouco mais de consideração – falei e dei as costas, saindo do escritório e deixando os pombinhos a sós.

- Você tem uma filha? – ouvi a garota loira perguntar, mas não consegui ouvir a resposta de Kiran.

Fui até a sala e me joguei no sofá, colocando a mala ao lado dos meus pés. Peguei meu celular, coloquei os fones de ouvido e coloquei a música mais barulhenta que eu tinha.

Não sei por quanto tempo fiquei ali sem fazer nada, apenas olhando para aquela televisão gigante na parede que parecia nunca ser ligada, que ficava em cima de uma lareira que também parecia não ser acendida com frequência. Tudo naquela casa era lindo, mas exagerado ao extremo. Havia prateleiras de livros no canto, mas os livros pareciam estar todos abandonados ali, mesmo que tivesse tudo limpo e impecável.

O apartamento era silencioso e eu percebi que eu estava sozinha ali. Lynn e Martin haviam sumido da minha vista, mas eu não me importava muito com onde eles estavam, nem com o que estavam fazendo. Eu queria ir para o meu quarto, mas não sabia onde era, nem se eu teria um quarto ali ou teria que dormir naquele sofá onde eu estava sentada. O cheiro de limpeza impregnava o resto da casa com um cheirinho doce de flores e produtos de limpeza.

Cansei de esperar por Kiran e sua namorada, me levantei e fui até a janela. O sol da tarde brilhava no céu e o som do trânsito quase não chegava no último andar daquele prédio imenso.

Ouvi sons de salto batendo contra o chão de mármore e sabia que a loira estava indo embora. Tirei os fones de ouvido e me virei. Kiran estava de costas para mim, olhando sua namorada passar pela porta do hall e ir para o elevador. Ele esfregou o pescoço com uma das mãos e acenou para ela com a outra.

Quando ele se virou para mim, parecia estar com uma mistura de raiva, desespero e aflição. Ele deu alguns passos na minha direção, mas parou à uns dois metros de mim.

- Bom – começou ele, sem saber o que falar. – Eu sabia que você vinha, mas achei que chegaria mais tarde.

- Minha mãe dirige rápido. Ainda mais quando quer se livrar logo de mim.

Meu último verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora