Só faltava aquela diaba aqui cavalgando em mim, daquele jeito fatal, em um guloso sobe e desce; ela sendo a rainha do meu corpo, possuindo minha alma, sugando meu gozo para dentro de si...
Puta merda... de novo isso... essa saudade indevida...
Afasto esse pensamento...
Tento focar em outras coisas.
...
Essa rede, esse luar, essa atmosfera. Está tudo numa sintonia que exala perfeição.
Posso dizer que minha vida entrou nos eixos. Finalmente estou em paz. A mudança foi brusca. A mudança demorou para acontecer, mas quando aconteceu mudou todas as perspectivas que havia em meu desorientado ser.
Finalmente posso dizer que estou tendo uma benéfica vida amorosa.
Depois de um relacionamento conturbadíssimo, em mim havia se instaurado um trauma de laços românticos. Foram oito anos preso em um casamento... perturbador. Dizem que eu era um homem tão infeliz ao lado de Núbia Khaled, que quando me encontravam na rua sentiam como se estivessem diante de um cadáver - infeliz, desanimado, cabisbaixo e com ombros curvados. O tempo faz tudo virar gracejo. Hoje dou risada lembrando como fui tolo em me sujeitar a ficar à mercê de uma louca... Ciumenta, possessiva, obsessiva, prepotente, mentirosa e até mesmo violenta: essa fora a metade da minha laranja. E era gostosa pra caralho... quer dizer...
Eu ouviria meus amigos dizendo que agora sou outra pessoa. "Tua namorada atual é um anjo, te renovou". Mas não dirão nada, pois acabei longe de todos e não conhecem Lilith. Núbia me sufocava de tal maneira que com o passar do tempo as pessoas se afastaram de mim. Aconteceu de pouco em pouco. Indiretas, conflitos, brigas generalizadas.
Não me era permitido sair com ninguém, conhecer ninguém. "Quem é aquela pessoa?", era o inquérito. "Tenho ciúmes de você, meu amor, você é meu, completamente meu", eram as palavras daquela criatura possessiva. Na época, eu gostava de ouvir aquilo. Aparentava intensidade... na época era muito bom... gozávamos de um jeito... revirávamos os olhos, arfando...
Envolvi-me muito cedo, isso pode ter sido o maior erro. Muita inocência havia em mim. Entreguei meu ser por completo e de um jeito desvairado, imprudente. Foi um amor que acabou virando dependência e quando me dei conta já estava aprisionado.
Fiquei órfão ainda na juventude. Provavelmente me faltava uma conexão com alguém. A única pessoa a me oferecer esse elo sólido foi ela.
Conhecíamo-nos desde criança.
Na adolescência foi uma loucura. Não nos desgrudávamos em momento nenhum. Depois do primeiro beijo a possessão se tornou mais extrema ainda.
Se eu passasse algumas horas ausente sem lhe dar um telefonema, ela aparecia na porta de casa se queixando.
Residíamos próximos. Eu, após perder os pais, com meus tios.
Por causa das cobranças que eu recebia, passei a cobrar bastante também. Assim foi sendo até virarmos dois parasitas.
Antes do casamento ocorreram brigas e dúvidas. Pedi para que refletisse um pouco e cobrasse mesmo. Prometeu-me que sim. Mas bastaram algumas semanas após a promessa feita em cima do altar sagrado que percebi ter caído numa mentira.
Em poucos anos dentro daquele relacionamento eu já tinha perdido o controle sobre minha vida. Vivia para satisfazer-lhe as vontades. Era-me satisfatório agradar-lhe independentemente se eu fosse sair com feridas internas.
Aquela relação foi como uma eternidade infernal...
Nós dois ardíamos feito dois demônios em chamas...