|CAPÍTULO 03 • DEIXANDO A EUFORIA II|

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— Sobre o que sua tia falava? Em algum momento ela parecia preocupada — perguntou ingenuamente.

— Coisas que ela precisava fazer e havia esquecido — disse satisfeita com a mentira.

— Ela falou sobre mim? — insistiu em saber sobre o que conversaram.

— Achou você charmoso — desconversou com naturalidade.

— Gostei da sua tia! — exclamou empolgado, passando a mão pelos cabelos.

— Ela é solteira — brincou, provocando com a fala travessa.

— Está tentando formar um casal da sua tia comigo? — Sorriu da possível sugestão.

— Ué... só falei — divertiu-se.

— E você também é solteira? — aproveitou a direção da conversa para satisfazer a curiosidade.

— Comprometida comigo. Sou uma criatura solitária. — Seus olhos pareciam maiores que o normal e pela primeira vez Ali a viu completamente, mas ainda não sabia o que aquilo significava.

— É difícil acreditar que seja solteira e solitária, parece ser alguém que tem muitos amigos e pretendentes, é provável que vá a muitas festas e atraí a atenção de todos — provocou fortemente.

— As aparências enganam... — A impressão que ele tinha dela era totalmente equivocada.

— Sua tia é uma senhora muito bonita, assim como a sobrinha. Gostei dela por ter me elogiado. Ao contrário de algumas pessoas, gosto de elogios. — Arqueou a sobrancelha encarando Luna com um meio sorriso, ao esperar uma resposta para a provocação.

— Do que está falando? — Retraiu a cabeça numa expressão demasiadamente séria, mudando completamente a postura relaxada e enérgica de instantes atrás.

Ali inclinou-se para frente, posicionou o indicador abaixo no queixo de Luna, ergueu um pouco o rosto dela e pontuou:

— Sua comida é muito saborosa, seu nome é muito bonito e você é linda — disse extremamente próximo dela.

Luna sentiu uma pancada suave no estômago, arregalou os olhos e se ajeitou na cadeira. Pressionou os lábios um contra o outro até o sangue se esvair, em seguida os soltou e ficaram incrivelmente vermelhos com o retorno da circulação sanguínea.

O que está rolando aqui? Isso é inconsequente, ele praticamente me beijou. Porque estou deixando isso acontecer?

— Você realmente não aceita elogios — falou desapontado diante do olhar austero de Luna.

Estou de volta! Como é bom sentir meu controle, ela comemorou sentindo sua estabilidade percorrer os seus sentidos de vez, pois a euforia já diminuía gradualmente nos últimos dias. O silêncio se instalou no ar pelo presente desconforto em ambos, agora, era possível ouvir os carros passando na rua, tamanho era a quietude do constrangimento.

Há um instante uma paquera avançava entre sorrisos e uma conversa agradável, enquanto se esqueciam das paredes, além de tudo que os cercavam. Agora o apartamento parecia apertado, o mundo havia voltado a girar. Ela colocava a comida na boca estrategicamente, para não haver tempo de falar, estava totalmente alheia a Ali que vez e outra pigarreava quebrando a mudez.

— Tenho algumas coisas para fazer agora e preciso ir. Foi um prazer te conhecer. Obrigado por me receber — falou com a voz mansa, poucos segundos após finalizar a refeição e se dirigir para a porta com passos acanhados — Boa noite, Luna.

— Boa noite, Ali — respondeu inexpressiva.

Ficou a um passo de Luna. Parado, estudou confuso a reação da vizinha, que estava travada e sentia o coração palpitar forte. Com o dedo afastou do seu caminho uma mecha de cabelo dela e colocou atrás do ombro, descendo o polegar pelo braço franzino até a mão fria do nervoso que a acometia.

A Matrioshka do Turco | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora