Luísa lembrava-se com perfeição do dia em que descobriu que estava grávida de Dominique. Após anos de tentativas frustradas, ela achou que jamais seria mãe. Por isso acompanhar seu ventre crescendo dia após dia, escolher nomes para menino ou menina e decorar o quarto de seu bebê foram experiências fascinantes e maravilhosas. E a primeira vez que pegou seu filho no colo mudou sua vida para sempre.
Dominique nasceu na Bahia, mas foi criado como um pequeno Francês. Pelo menos até os dois anos, quando Luísa mudou-se para o Rio de Janeiro para preceptorar as filhas do Imperador Dom Pedro II. Sua vida mudou para sempre, assim como a vida de seu filho. Apaixonar-se por Pedro também significou a partida de Eugênio, e embora Luísa fosse igualmente preocupada com a educação do filho, Dominique se tornou um pouco mais livre e brasileiro.
Ser mãe era uma parte imensa de quem Luísa era. Dominique havia ocupado um espaço tão grande em seu mundo que ela sequer recordava quem era há alguns anos, quando seu precioso filho não o habitava. E Dominique era tão desejado, tão esperado, tão amado, que não houve qualquer turbulência naquele processo.
Mas, quando Dominique veio ao mundo, Luísa jamais imaginou passar por aquele processo novamente. Jamais imaginou que Dom fosse ter um irmão algum dia. Não era uma possibilidade em sua mente. Muito menos nas circunstâncias escandalosas que trouxeram Antonie Pierre ao mundo.
O bebê adormecido em seu colo era tão amado quanto seu filho mais velho. Mas, ao contrário de Dominique, Pierre não era planejado ou esperado. Pierre, assim como seu pai, era um acontecimento. Um vendaval na vida de Luísa, que havia bagunçado tudo, transformado seu mundo em um piscar de olhos. E como se soubesse que sua mãe refletia sobre ele, o bebê aninhou-se um pouco mais.
Antonie Pierre era o filho ilegítimo do Imperador do Brasil. Era o resultado de um amor proibido, porém avassalador, intenso, incontrolável. Um amor que fazia Luísa não pesar consequências. Uma paixão tão arrebatadora que fez de Luísa e Pedro dois amantes. Mas, mesmo no auge da paixão, nunca passou pela cabeça deles a possibilidade de um filho.
Luísa considerava-se madura demais para uma nova gestação. Não era comum em mulheres da idade dela. Especialmente uma que levara tantos anos para conseguir conceber. Porém, aparentemente, a dificuldade de Luísa e Eugênio terem filhos vinha do Conde, e não dela.
Começou com desmaios, sonolência, enjoos. Então percebeu que suas regras estavam atrasadas. Seu corpo estava mais sensível, seu humor mais instável. Quase levou Pedro à loucura com tantas oscilações. Uma hora brigavam, outra se amavam de forma inconsequente.
E foi justamente numa daquelas tardes proibidas, enquanto Pedro acariciava suas curvas e sussurrava elogios em seu ouvido, que Luísa percebeu o óbvio. Estava grávida de um filho de Pedro. E qualquer felicidade que poderia surgir por ter um filho do homem que amava foi substituída pelo pânico de saber que os dois eram casados com outras pessoas.
Pedro reagiu maravilhado desde o primeiro momento, comemorando aquela dádiva. Não havia nada melhor do que ser pai de um filho dela, ele dizia. Era um filho abençoado, que seria amado. E Luísa nunca teve dúvidas de que Pierre seria imensamente amado. O problema era todo o resto.
Para começar, o Conde estava em Paris. Mesmo se estivesse no Brasil, duvidava que ele fosse assumir um filho de outro homem. E duvidava mais ainda que Pedro permitiria que seu filho chamasse outro homem de pai. Mas, com o Conde tão distante, não havia forma de continuar sua vida normalmente sem um escândalo.
Por isso que optou por alugar uma casa de campo em Petrópolis, deixar suas tarefas com as Princesas, e dedicar-se somente à Dominique e o bebê que nasceria em alguns meses. Teve medo de que isso pudesse afastá-la de Pedro, mas a verdade é que o Imperador parecia ligar muito pouco para o que a esposa pensava dele estar sempre viajando.