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Jimin

Aquele era, oficialmente, o meu primeiro dia fora de casa após anunciar que não voltaria mais para lá, e agora, observando as ruas do meu bairro se transformando em borrões pela janela do ônibus 15, percebo que eu estava fazendo a maior burrada de todas, mas se parasse para pensar em tudo que aconteceu nos últimos anos... meu rumo poderia ter sido muito pior do que este, em que pego os trocados da carteira de papai sem sua autorização e entro no primeiro ônibus que passa próximo do meu bairro sem reparar no destino dele.

Vou para um dos assentos no fundo e me jogo ao lado de um castanho que jamais vi na vida. Ele tinha fones vermelhos enormes nas orelhas explodindo alguma canção de rock e uma camiseta escura com um ano especifico escrito no centro. Eu poderia continuar fazendo uma leitura atrevida de si apenas se a noite anterior não tivesse sido cheia, o que me impediu de dormir, então não demorou muito para que meu corpo pegasse no sono antes mesmo de me anunciar com antecedência. E ao acordar, é justamente o mesmo garoto que me diz:

– esse é o ponto final.

Curiosamente ele fala aquilo com um sorriso, independente se o desconhecido (no caso eu) tivesse roncado no seu ombro durante todo o percurso. Coço a garganta enquanto tento ajeitar minha postura e abrir os olhos o suficiente para não demonstrar consciência da bagunça que meu ser demonstrava. Talvez a minha boca tenha verbalizado um "me desculpe" arrastado e sem graça, justificando a risada dele ao se levantar e parecer esperar que eu fizesse o mesmo.

– sem problema, parece que teve um dia cheio – era adorável saber que meu estado emocional era publicamente visível.

Ainda confuso, me ergo com dificuldade e juntos descemos do ônibus no que percebi ser o terminal central de Busan.

– você vai para onde? É que preciso chegar no bairro de Itaewon, mas vim na correria e não deu tempo de pesquisar como faz pra chegar até lá...

Se estivéssemos em qualquer outro dia, onde minha mente estaria arrumada e consciente o suficiente para desconfiar de que o sorriso retangular e até mesmo fofo daquele garoto quase duas vezes maior do que eu, fosse parte do seu plano sujo de me sequestrar e conseguir os poucos trocados da minha família como resgate... eu jamais aceitaria ajuda-lo. Mas essa era a questão, aquele não era qualquer outro dia. Por isso lhe dou um sorriso confiante, e com toda a minha habilidade em mentir e ser convincente nisso, digo letra por letra:

– eu estava indo justamente para lá.


Jungkook

– não sabia que te pagava para ficar me olhando.

Ela descaradamente permanece fazendo isso, agora com um sorriso nos lábios cheios de batom, e o pior, este não era um sorriso cínico ou coberto de deboche, o que seria mil vezes mais suportável do que vê-la demonstrando algum tipo de pena disfarçada de compaixão.

– e eu não sabia que você me pagava para ficar olhando o teto.

Merda, era uma ótima resposta. Bufo e a encaro de volta, sei que minhas botas estão sujando aquela "maca ilusória", mas à tempos deixei de me preocupar com isso, afinal, todas as terças e quintas depois das 14h eu ia para aquele mesmo lugar com o único intuito de fazer meus pais ficarem menos paranoicos comigo. Ainda que tivessem mais dois irmãos para se preocupar, aparentemente o único que veio com contratempos mentais extras foi Jeon Jungkook.

A doutora se chamava Yuna, descobri aquilo exclusivamente hoje, tendo tido um total de 5 consultas nesse mês. Ela parecia ser jovem, talvez tendo apenas 4 anos à mais que eu, cabelos tão curtos quanto os meus, sempre maquiada e sempre feliz da maneira mais irritante possível. Yuna seria o meu oposto por dentro e semelhante por fora, pelo menos até onde se podia ver, e até onde eu me interessava em saber, o que era como quase nada.

COLAPSANDO; jikook.Onde histórias criam vida. Descubra agora