Bullying

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Jason custava para admitir, mas sentia saudades de Alfred e por isso sempre o visitava quando ele estava sozinho. Resolveu fazer uma visita para o mais velho quando Bruce estava trabalhando e Damian estava na escola. Assim que chegou, foi recebido com um sorriso gentil e um abraço caloroso. No começo, sentou para conversar com o mordomo na cozinha, depois decidiu ajudá-lo com as tarefas domésticas enquanto ainda conversavam. Arrumaram e limparam uma boa parte da casa juntos, mas um fato curioso era que sempre evitavam entrar no quarto de Damian, até mesmo quando Pennyworth lhe disse que precisavam limpar os quartos. Jason sabia que se entrasse ali Damian ficaria sabendo, sabia que o garoto provavelmente não queria ninguém além de Alfred entrando lá, mas isso não impediu Todd de ficar curioso para saber como era o quarto dele. Algum tempo depois, Alfred disse que iria buscar Damian na escola e se despediu de Jason, sabia que assim que saísse o rapaz iria embora. Todd se despediu, mas não foi embora, correu pelas escadas e parou na frente de uma certa porta.

Para sua surpresa, o quarto de Damian não estava trancado e parecia não ter nenhum tipo de segurança, isso deveria ser obra de Alfred. Bem, melhor pra ele. Ao entrar, reparou como o lugar era limpo e bem arrumado, não ficou muito surpreso e até ficou decepcionado ao não ver a quantidade de armas que esperava. Achava que o quarto teria lanças, adagas e espadas penduradas nas paredes, além de um boneco para treinos. Teria que se contentar com aquela visão um pouco vazia. Continuou bisbilhotando e encontrou um caderno de desenhos, tinha ouvido Alfred comentar sobre o talento do garoto e resolveu ver se era verdade. Folheou o caderno e percebeu que o menino era realmente bom, continuou olhando até encontrar uma imagem muito interessante, e talvez assustadora. Na imagem, podia ver Damian em pé com sua katana cortando a cabeça de um garoto que estava de joelhos na frente dele, embaixo dos joelhos tinha uma poça escura que deveria ser de sangue e nas roupas que ele usava estava o emblema da escola na qual Damian estudava. Jason não era burro e logo ligou os fatos, deveria contar sua descoberta para Alfred, mas se Damian descobrisse que foi ele quem contou iria acabar morto, de novo.

- O que você está fazendo?!

Ah, merda. Esqueceu que Alfred foi buscar o garoto.

- Oi pirralho. - Cumprimentou com um sorriso torto.

- Me devolva! - Ordenou correndo para pegar o caderno do irmão, não teve tanto trabalho já que Jason lhe entregou o objeto de bom grado. - Saia do meu quarto!

- Tudo bem, calma! Mas sabe, achei algo muito interessante aí. - Apontou para o caderno. - Quem é o garoto?

- É só um idiota.

- Concordo, mas o que ele faz ou diz pra você?

- Tt. - Não queria falar, não queria admitir que estava sofrendo por causa de um babaca. Viu a expressão de Todd e soube que ele não sairia sem uma resposta. - É só um imbecil que me chama de terrorista. - Jason tentou segurar a raiva. - Eu sei que matei pessoas, e claro que não vou falar isso pros outros, mas acho errado ele generalizar todos de origem árabe como terroristas.

- Tem razão, ele é um idiota. Deveria falar com alguém sobre isso.

- Tt. - Zombou.

- Olha, eu não sou um bom irmão ou a melhor das pessoas, e realmente não deveria estar me metendo, mas.

- Mas nada. Você mesmo disse, não deve se meter.

- Sim, sim, mas eu sou um teimoso e cabeça-dura. Você realmente deveria falar com alguém sobre estar sofrendo bullying. Conte pra Alfred, ele vai poder ajudar.

- Eu estou bem, saia daqui.

- Só estou falando que é melhor contar antes de decapitar alguém, ou antes que mande cinco crianças pro hospital.

- Hã?

- Eu já sofri bullying. - Falou de forma relaxada.

- Muitos sofrem.

- Sim e eu sou um deles.

Ficaram alguns segundos em silêncio até Damian perguntar:

- Eles pararam?

- Sim, mas tem muita coisa por trás. - Olhou para o menor e, pela primeira vez, viu os olhos dele brilhando em curiosidade em sua direção. - Eu tinha acabado de ser adotado e colocado numa escola.

"Muitos me olhavam e me julgavam pela minha origem pobre, até descobrirem que minha mãe era uma viciada. Alguns alunos começaram a me zoar e eu fiquei quieto até um dia que não consegui aguentar, xinguei todos eles, mas não fui pelo lado da agressão física. Eles ficaram com raiva e resolveram se vingar colocando drogas nas minhas coisas e dizendo aos professores que eu levava drogas pra escola. Como sempre fui muito esperto, sempre dei um jeito de jogar as drogas fora antes de virem até mim, a cara deles era impagável! - Sorriu, mas logo voltou a ter uma expressão séria. - Eles saiam furiosos e eu escutava os professores dizendo que era melhor ficarem de olho em mim, diziam que Bruce nunca deveria ter adotado alguém como eu. Um dia, fui chamado na diretoria e os cinco meninos que faziam isso estavam lá, eles argumentaram que eu tentei vender drogas para eles. Eram cinco 'testemunhas' e o diretor estava inclinado a acreditar, como 'prova' os garotos nos guiaram até um local da escola. Lá dava para ver que alguém estava usando produtos ilícitos, o diretor decidiu me expulsar e eu não aguentei. Só parei de bater quando percebi que tinha quebrado o braço de um professor. Bruce ficou uma fera, mesmo depois que eu me expliquei, ele disse que eu deveria ter falado com ele para que pudéssemos ter arranjado uma solução melhor. Mas mandar cinco crianças pro hospital foi algo imperdoável, fiquei de castigo e com raiva me tranquei no meu quarto. Fiquei três dias sem falar com ninguém, só comia porque Alfred deixava uma bandeja com comida na porta." - Terminou o relato.

- Pelo menos eles pararam.

- Sim, mas custou caro, não porque Bruce me deixou de castigo, mas porque perdi a oportunidade de ter amigos. Todos da escola se afastavam de mim, eu tentei não me importar, mas sei que existiam pessoas com as quais valia a pena ter amizade. - Olhou para o garoto, ele estava pensativo. - Me diz o que você faz quando ele te zoa.

- Eu tento dizer que nem todo árabe é mulçumano e que nem todo mulçumano faz as coisas que ele acha que fazem, tento colocar cultura na cabeça desse imbecil, mas não adianta. Outras vezes eu mando ele ficar quieto e saio de perto. A primeira opção é a que mais funciona, ele se afasta ao não gostar do meu discurso.

- Entendi, você não dá nenhum olhar mortal pra ele?

- O pai disse para evitar.

- Certo, olha, você vai fazer o seguinte. - Colocou a mão no ombro dele e se abaixou para ficarem numa mesma altura. - Quando ele te incomodar de novo, dê um olhar mortal e diga: "Eu não sou terrorista, mas sei como lançar uma bomba na sua casa". Depois disso, dê um sorriso macabro e saia de perto dele.

- Acha que vai funcionar?

- Não sei, mas vale a pena tentar. Qualquer coisa, conte para Alfred o que está acontecendo e ele resolve.

- Tt. Agora que já fez sua boa ação do dia, pode ir embora.

- Você estragou o momento de irmãos, mas já que é isso que quer, eu vou embora.

Jason estava quase saindo do quarto quando ouviu um baixo "obrigado", virou na direção do menor e o viu com o rosto virado para o outro lado, provavelmente estava com vergonha.

- De nada. - Sorriu. Damian girou a cabeça e os dois se olharam, parecia que fizeram um acordo mudo de não contar para ninguém sobre aquilo.

Dias depois, Jason recebeu um presente em sua "casa", era uma nova jaqueta muito parecida com a do Capuz Vermelho, junto dela estava um bilhete escrito "Funcionou". Todd sorriu.

Quem diria, talvez não fosse um irmão tão ruim assim.

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