Capítulo 1

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Salvador - Bahia

Dois anos antes...

Não sou o tipo de garota que sonha em encontrar o amor verdadeiro, aliás, nem sei se isso realmente existe. Também não sou do tipo que se apaixona facilmente. Sou racional, sensata e extremamente cautelosa, mas preciso confessar que nem sempre fui assim. Já fui romântica como a maioria das meninas, porém, tudo mudou aos 18 anos, quando flagrei meu namorado nos braços de outra. O choque foi tão intenso que sofri por longos meses, estávamos juntos havia três anos e posso dizer que realmente gostava dele.  

Depois daquela grande decepção, nunca mais me envolvi com ninguém e preferi focar somente nos meus estudos. E a verdade é que me acostumei a viver assim, sempre sozinha e sem me apaixonar. Afinal, se eu não me apaixonasse, não sofreria por ninguém. "Sem paixão, sem sofrimento", esse era o meu lema.

Minha única paixão era a literatura. Sou uma leitora compulsiva, e houve um tempo em que eu adorava os livros românticos, mas comecei a evitá-los depois que passei pela experiência traumática de ser traída, e passei a gostar de outros gêneros, principalmente os policiais.

Ninguém entendia esse meu vício por livros, todos os meus amigos eram diferentes de mim nesse sentido, e eu acabava não tendo com quem conversar sobre as histórias que lia. Era horrível ter que guardar somente para mim todas as minhas impressões e sentimentos em relação a determinados livros e, inevitavelmente, acabava me sentindo solitária. No entanto, aos 20 anos, quando ingressei na faculdade de Administração de Empresas, conheci a Karen, uma garota tão viciada quanto eu. Nossa amizade foi inevitável, em pouquíssimo tempo nos tornamos confidentes e melhores amigas.

Com ela eu podia conversar sobre qualquer assunto, pois Karen era extremamente culta, e embora combinássemos em muitas coisas, também éramos completamente diferentes em outras, por exemplo, ela era romântica, e vivia tentando me convencer a ler um livro que tivesse uma bela — e melosa — história de amor... E eu, obviamente, sempre me esquivava, afinal, por que perderia meu tempo lendo um romance romântico se poderia gastar esse mesmo tempo lendo um romance policial?

Como Karen não lia só os livros românticos, era bem eclética e lia de tudo, então sempre conseguia conversar comigo sobre aqueles que eu adorava.

Também éramos muito diferentes fisicamente. Enquanto minha amiga era branca, possuindo um lindo cabelo castanho-claro e um belo par de olhos da mesma cor, eu era morena e possuía cabelos longos e pretos. Minha mãe era descendente de índios e eu havia herdado todas as suas características físicas.

Enquanto Karen já havia tido três namorados, eu só tive um, e vocês já sabem no que deu...

Os três primeiros anos de faculdade passaram rapidamente. Durante todo esse tempo, eu havia frequentado sua casa várias vezes e feito amizade com os seus pais.

Certa vez, num dia frio e chuvoso, onde minha única vontade era ficar embaixo das cobertas lendo um bom livro ou assistindo TV, tive que ir à casa da Karen para fazermos um trabalho da faculdade. Demoramos mais de duas horas para resolver as questões, e quando finalmente conseguimos terminar, ela desabafou:

— Caramba... Como eu odeio esses números malditos!

— Então não devia ter escolhido Administração de Empresas... — murmurei aquilo apenas para implicar, pois já sabia exatamente o que ela diria a seguir.

— Eu adoro ADM e você sabe disso, apenas odeio as matérias que envolvem números! Simples assim!

— Ok, Karen. Passei os últimos três anos ouvindo isso de você. Não aguento mais — falei, fingindo indiferença e massageando as têmporas com os olhos fechados. Sentia-me esgotada e com o corpo terrivelmente dolorido. Não queria admitir, mas aquelas questões haviam acabado comigo.

Meu Namorado LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora