4 | Reflexão

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— Então, o que é que aprendeste com a tua descida à Terra, Lírio? —perguntou Polaris pouco depois da sua reunião com o espírito da Primavera.

— Nada de novo — respondeu casualmente.

Se o Inverno e o Verão fossem humanos, teriam olhado para ele de lado com o cenho franzido.

— Como assim?

— Aprendi que tenho razão.

E se os espíritos tivessem olhos, estariam a revirá-los naquele momento.

— Eu não te disse? — perguntou Brisa, triunfante, enquanto circulava Polaris.

— Aprendi que tenho razão quando digo que o amor é a chave de tudo — atalhou Lírio, sem estremecer a sua chama esverdeada pela interrupção de Brisa. — O amor é o sentimento mais forte. Aquilo que pode falhar é a confiança nele, especialmente quando o objeto de afeto está longe por muito tempo. Porém, se acreditarem no amor e lutarem por ele, as coisas resolvem-se.

— Isso não é demasiado simplista? — perguntou Polaris, naturalmente fria e racional.

— Não estou a dizer que o amor resolve tudo por si próprio. Estou a dizer que ele é a chave. Ele abre as janelas necessárias. E, se agarrarem as oportunidades com as duas mãos, é meio caminho andado para  resolver as coisas.

— Eu disse! Ele não aprendeu nada! — Brisa circulou os outros espíritos, com a sua chama avermelhada a trair as suas emoções tempestivas. — O Lírio continua a ser o mesmo idiota teimoso de sempre! Foi parvo da nossa parte esperar que uma ida à Terra ajudasse a contrapesar isso.

Lírio não se ofendeu com os adjetivos utilizados, uma vez que eram certeiros. A Primavera é uma estação teimosa por definição. Fauna e flora sobrevivem obstinadamente até às condições mais duras dos rigorosos inverno e, mesmo frente a obstáculos, continuam a crescer e a vingar. Ter a verdade constatada não o incomodava. 

Porém, não levarem a sério os seus argumentos era outra história.

— Eu tenho prova daquilo que digo. O Gabriel é prova disso!

As outras estações fizeram sons de entendimento, mas deixaram o assunto morrer, distraídas por um qualquer acontecimento terrestre que adentrou o seu campo de visão. Convencido a resolver o assunto mais tarde, Lírio dedicou a sua atenção ao seu novo amigo humano.

Naquele momento, não tinha provas concretas dos seus argumentos. Porém, se o mantivesse debaixo de olho durante os anos seguintes, testemunharia o regresso antecipado a casa de Gabriel. Testemunharia as dificuldades do reencontro com a mulher e filha, as discussões com Catarina e o mar de sentimentos que demorariam a tomar forma e voz. Testemunharia o compromisso de Gabriel em reconquistar a mulher na nova fase da sua vida profissional, tão calma e flexível como ele tinha explicado no parque. E seria testemunha da reconstrução de uma vida a dois, mais forte e centrada do que nunca, e de todas promessas que Gabriel faria a Inês, a sua adorada filha mais velha, e aos três que se lhe seguiram, e que jamais seriam quebradas.

Era necessário observar o humano para ter provas da sua razão.

E era exatamente isso que Lírio iria fazer.


Total palavras: 4000

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[Agosto 2022] Finalmente cheguei ao fim deste conto!

Demorei imenso, eu sei... Mas a faculdade meteu-se pelo meio e, quando tinha tempo, não estava ano estado de espírito certo para tentar expressar aquilo que o Gabriel devia estar a sentir. Mesmo agora não tenho a certeza de ter sido bem sucedida a expressar aquilo que Suitecase transmite e a complexidade de sentimentos que uma relação a longa distância acarreta.

Espero que tenham gostado na mesma!

Mesmo não tendo acabado isto a tempo para a inscrição para o concurso para o qual o conto foi inicialmente escrito, decidi manter os planos originais e escrever dentro do limite. Talvez noutra altura tenha oportunidade de vos falar sobre a reconquista da família Sottomayor do ponto de vista do Gabriel. Mas, por agora, vou dar esta história por encerrada. Para o bem de todos nós.

Até à próxima!

Até à próxima!

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Outono no olhar, primavera no coração ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora