Procura-se Bons Sonhos

Tirem esse paraíso de perto de mim!

Pela primeira vez eu vi uma reação incomum, ao invés de arregalar os olhos e ficar assustada com minhas palavras, ela simplesmente riu, olhou para mim e respondeu:
- Seria adorável!
Desta vez eu arregalei os olhos, eu me assustei. Meus amigos pararam de rir também chocados com a reação inesperada da novata, eu percebi que ela seria uma hetero zueira ou uma lésbica amável. Amanda olhou para mim, e me cutucou suavemente no braço. Vi formar em seus lábios "boa sorte" e depois um sorriso.
O Gordo não perdendo a oportunidade de uma piada disse a minha nova musa:
- Se quiser sentar em meu colo também eu deixo gracinha - os meninos começaram a rir.
- No dia que você achar seu pinto no meio de tanta banha você acha uma garota.
Desta vez a gargalhada foi total. Argh! Que voz maravilhosa que ela tinha, era algo como um cantor afinado e uma batida perfeita.
Eu estava com medo de falar com aquela garota, ela se parecia comigo, até nas merdas que falava. E Amanda se afundava em sua pequena ilha de orgulho por saber que ali aconteceria algo.
- Ham, então, cadê o professor? - perguntou minha musa de cabelos negros
- É normal o atraso,  sei lá, esses professores são loucos - respondi inquieta.
- Vamos comigo ao banheiro?
- Ah! Certeza? Bom, quer dizer. . . Vamos - eu nunca estive tão desconfortável.
Saímos da sala rumo ao banheiro, quando chegamos não havia ninguém a não ser uma aluna pequenina que eu reconhecera, ela já havia namorado o Lucas. Então Leticia se encaminhou ao banheiro, quando me chama.
- Por favor, sério, desculpe. Meu sutiã soltou não consigo prender - disse a doce branca de neve, e eu imaginara ela me prendendo na parede quando eu entrasse, escorregando as mãos pelo meu corpo enquanto eu me entregava a ela.
Entrei no pequeno cubículo onde ela estava. Me deparei com ela somente com a camiseta levantada, de costas, segurando as duas partes do sutiã.
- Ande logo por favor!
- Ah! Já vou - disse eu encaixando o sutiã no lugar.
- Obrigado, de nada. Agora fora por favor!

Saímos juntas do banheiro,  Amanda nos eperava fora da sala ainda no aguardo de um professor,  quando nos viu deu um sorriso contido, porém malicioso,  Leticia entrou na sala e Amanda me segurou na porta
- E ai?
- E ai o que? - perguntei desconfortável.
- Pare de ser trouxa,  você sabe do que estou falando.
- Pelo amor de Deus Amandoim,  eu namoro,  aproveita e me fode vai.
- Olha como vc fala comigo, teta murcha.
Agarrei a baixinha pelos cabelos e começamos a nos bater de brincadeira até cairmos na gargalhada, as pessoas em volta nos olhavam como se fossemos bestantes. Criaturas imbecis a solta.

A professora atrasada enfim chega, e assim como todos os outros durante o dia letivo. Eu só repetia na minha cabeça "tédio, tédio, tédio, tédio, Leticia, ops... tédio, tédio, terminar com o Lucas e pegar a Leticia", aquilo estava me destruindo aos poucos, até que chega a hora de sair da escola. Lucas me espera na porta da sala, ele estava com uma cara de feliz, bobo alegre, eu esperei as pessoas sairem da sala pra depois eu me retirar, quando ele me agarra pelos pulsos me encosta na parede e beija minha boca em uma forma de necessidade. Quando enfim se afasta diz junto aos meus lábios
- Te amo.
Eu abro  os olhos como se tivesse tomado um soco na boca do estômago, em choque tento balbuciar algumas coisas até sair "simplesmente acabou". Desta vez o choque foi nele, que solta meus pulsos, não sinto mais sua ereção de encontro ao meu corpo, ele coloca as mãos no rosto e repete "não pode ser"  várias e várias vezes baixinho. Eu só consegui ver seu punho vindo em minha direção, fechei os olhos esperando a dor e ouço o som oco da parede bem do meu lado.
- Você espera até eu dizer algo que realmente sinto e diz que não quer mais? Você sabe que eu não gosto de qualquer uma, e você brinca comigo desse jeito?  O que você quer que eu faça? Vire uma das vadiazinhas que você pega por aí pra me dar valor?
- Não, eu só não quero ter que aguentar isso depois, suas crises infantis de adolescente abandonado!
- Você não sabe o que está fazendo, você não dá valor pra quem tenta fazer você feliz!
- Eu dou valor a quem tenta me fazer feliz, só deixo de dar valor pra quem só quer me foder.
Empurro seu punho que esta na parede bloqueando minha passagem, sei que o dia de amanhã vai somente ser pior, sei que ele vai fazer algo assim de novo, o delineador fino em meus olhos começam a descer em lágrimas pretas marcando o caminho que passam. Empurro a todos que estão em meu caminho, tentado chegar ao Polo Metropolitano e ir pra casa. O outro inferno em minha vida.

Chego jogando tudo para cima, na tentativa de saciar minha sede por amor resolvi namorar um garoto que seria perigoso se eu o machucasse, não perigoso pra mim, e sim pra ele mesmo.
Entro no chuveiro soluçando,  enfio a cabeça em baixo d'agua querendo que junto com a água colorida da tinta, saiam as minhas lembranças da sua cara de terror nela. Eu queria ser lavada e purificada com aquela água, começo a cantar "Wherever I May Roam", entre murmúrios e dancinhas tento parecer feliz, me enrolo na toalha, visto minha roupa, saio do banheiro e me jogo em minha cama que parecia uma tortura. Fechei meus olhos por uns instantes para tentar esquecer o ocorrido,  quando adormeço tristemente.