5. Um lorde

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Becky Millie
Clínica Germinar, Los Angeles
14 de março de 1995, 09h12

   Como se comporta uma esposa? O que uma esposa faz? É engraçado que, mesmo já tendo sido casada, eu nunca pensei muito nisso. Meus casamentos anteriores falharam porque eu estava obcecada com meu sucesso, com a minha carreira. Talvez aí esteja a explicação... Eu estava focada em mim, e não no "nós". Mas não posso cometer o mesmo erro novamente, não com Michael.

   Eu quis uma cerimônia grandiosa. A questão é: quem vou convidar? Além do meu irmão, sua esposa e as minhas duas sobrinhas, eu realmente não tenho ninguém. Mas o tamanho do evento importa. Uma cerimônia grande vai ter uma boa cobertura da imprensa, e isso não só sela o compromisso, como também coloca uma pressão extra para que ele pense duas vezes antes de sequer cogitar um divórcio. Sei bem que um filho não prende um homem... vejo casais desmoronarem logo após o nascimento de um bebê. Mas um casamento na frente de todos, com fotos emolduradas por toda a casa? Isso, sim, pode ter o efeito desejado.

   Estou cansada da ideia de divórcio. Não quero outro fracasso. Eu quero acreditar que o amor pode crescer com o tempo. Michael já gosta de mim, há uma admiração genuína — pelo meu trabalho, pela minha mente. Quando ele disse que era "apaixonado pelo meu cérebro", foi melhor do que qualquer "eu te amo" que já ouvi. Ele é diferente. E isso é reconfortante. Talvez essa seja a decisão mais louca da minha vida, mas também pode ser a mais brilhante. Só espero que eu não esteja prestes a cometer um erro que não poderei desfazer. Michael Jackson, por favor, não me quebre o coração. Não sei se aguento mais um fracasso.

   — Senhora? — Madeleine aparece à porta, com um sorriso. — Seu namorado está aqui — ela diz com um tom empolgado. — Posso deixá-lo entrar? — Assinto, ajustando meu terninho bege e me levantando da minha cadeira.

   — Pode entrar, senhor Millie! — brinca ela, e Michael entra na sala com um sorriso radiante no rosto, segurando um buquê de rosas-vermelhas. Ele está impecável, como sempre, com uma camisa de cor vermelha e seu inseparável chapéu. Seus cabelos estão lisos hoje, diferente de ontem à noite.

   — Oi! — não consigo conter o sorriso. É a primeira vez que alguém me dá flores, e eu me sinto como uma adolescente. — São lindas! — digo, me afastando da minha mesa e me aproximando de Michael para pegar as flores — Que lindo! — minha empolgação escapa. Michael ri suavemente e me entrega as flores.

   — Sabia que você ia gostar — ele diz com um sorriso tímido. — Parece ser tão romântica quanto eu. Ainda bem que acertei. Ah! — ele se vira para a porta — E trouxe minha organizadora de casamentos favorita! — Uma mulher de vestido florido entra com uma agenda nas mãos e um sorriso contagiante. Ela parece competente.

   — Essa é Judite. É assistente de uma das minhas melhores amigas, mas eu a roubei enquanto ela está em lua de mel! — Michael ri, colocando as mãos nos ombros dela, que apenas revira os olhos.

   — Ele é um pesadelo às vezes, já te aviso! — ela diz, sentando-se no grande sofá perto da janela. Eu já gostei dela. Michael ri novamente, dessa vez mais alto, e se junta a ela. Ele olha na minha direção, esperando que eu me sente perto dele? Talvez.

   — Está acostumado a ser seguido por todas as garotas, não é? — brinco com Michael que morde o lábio e olha para o teto, fazendo aquela carinha de "não sou culpado".

   — Sente-se, por favor — ele pede com aquela voz aveludada de sempre. Eu me sento ao lado de Judite, enquanto Michael ocupa o espaço ao meu lado, colocando a mão na minha perna. Ainda estou me acostumando com o toque dele. É... um pouco intimidador.

   — Okay, então, vão se casar no rancho em Los Olivos mesmo? — Judite pergunta em um tom relaxado, enquanto Michael me observa atentamente como se estivesse tentando capturar qualquer expressão minha.

   — Neverland? — pergunto, mais para ele do que para ela.

   — Tem um gazebo incrível com uma passarela de pedras... você iria adorar — ele diz, fazendo aquela carinha irresistível. Eu apenas sorrio e concordo com a cabeça, e Judite anota tudo.

   — Agora, precisamos definir as datas do noivado e do casamento, fazer degustações das bebidas e, claro, discutir o regime de bens. Comunhão parcial, universal ou separação total? — pergunta Judite, sem perder tempo.

   — Que tal comunhão universal de bens? — Michael sugere com um sorriso. — Eu não pretendo me separar nunca. — Eu apenas sorrio e concordo. Tudo parece tão surreal. Será que é cedo demais para me empolgar?

12h17

   Com passos lentos, acompanho Michael e Judite até a porta da sala. Madeleine abre as portas, e Judite se vira para mim com uma expressão questionadora. Ela olha para Michael, que parece mal conseguir conter sua empolgação. Ele está inquieto, eufórico com tudo isso de casamento.

   — Muito obrigada por nos ajudar, Judite! — digo, com um tom suave e discreto. Ela me responde com um aceno, mas sua expressão neutra me diz que talvez não esteja convencida do que está acontecendo aqui. Tudo bem. Michael quer que tudo pareça legítimo, um casamento verdadeiro aos olhos do mundo. Adotarei a pose de noivinha apaixonada. Posso interpretar o papel perfeitamente.

   Me aproximo de Michael, pela primeira vez desde que ele me entregou as flores, e o abraço. Envolvo meus braços por baixo dos dele, e encosto meu rosto ao lado do rosto dele como uma noiva boba apaixonada faria.

   — Significa muito para nós ter alguém tão qualificada quanto você a frente de tudo para facilitar a nossa vida Judi, muito obrigada mesmo por isso — digo em um tom mais calmo e caloroso que o comum. Seu rosto se ilumina e assim que ela abre um sorriso, eu comemoro internamente. É, eu sei jogar esse jogo.

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