Direções Opostas

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  O que vale a pena esconder para viver bem com a pessoa que se ama? O que você perderia se o mundo descobrisse com quem está? Talvez a pergunta certa seja: até onde você iria para ficar com quem ama?

  Para Carlos Eduardo Montez, Cae, vulgo meu ex, eram claros seus objetivos: sua carreira sempre foi pautada em sua aparência, em quem ele parecia ser. Loiro, alto, com olhos castanhos, cabelo raspado e cara de mau. Com certeza assumir a relação dele comigo, Fernando Marinho, Nando, pardo de olhos verdes, cabelo castanho bem claro e jogado pro lado, não estava nos seus planos.

  Nós dois estivemos juntos por anos. Junto de outros três rapazes, formávamos a 5S, uma das melhores boybands da América Latina. E é claro que fazer parte desse grupo era abdicar um pouco da nossa verdadeira essência; não podíamos ser apenas Carlos e Fernando, não, nós éramos Cae e Nando, mais Lui, Ro e Kauê.

  Mas nós dois estávamos havia tanto tempo juntos que nem precisava de um pedido de namoro para oficializar os quatro anos de união: morávamos praticamente juntos, e mesmo em público, a animação era tão forte que por vezes trocávamos olhares em entrevistas, mas foi em uma noite de agosto que tudo mudou.

  Kauê nos convidou para ir até a praça Roosevelt para curtir, mas a curtição passou do limite e no calor da emoção, Cae e eu nos beijamos na frente de todo mundo. O escândalo foi certo: no dia seguinte todos estavam comentando em suas redes sociais, e isso não foi nem um pouco positivo para eles, principalmente para o Sr. Yanck, que estava possesso, esperando por nós dois na segunda-feira.

  Carlos Yanck era o nosso agente e produtor. Ele recrutou cada um da banda e nos treinou até que estivéssemos bons o suficiente para sermos apresentados ao mundo. Sobretudo, o Sr.Yanck nos moldou de forma extremamente machista, e sempre frisou para a banda como um bom homem deve se portar em público. Cae e eu entramos na sala assustados, eu estava tão assustado, e naquele momento queria ficar com Cae, mas mesmo estando um do lado do outro, ele parecia tão distante de mim.

  Sentamos diante do Sr. Yanck. O homem nos encarou com desdém e sim, ele não fez questão de esconder seu desgosto com as notícias, se não fosse pelo prejuízo de contratos, ele nos expulsaria da banda naquele momento, e apenas por isso o homem mestiço de meia idade criou um plano B.

  — Senhor Yanck, eu juro que... — disse Cae, mas foi interrompido pelo homem.

  — Não se explique!

  Sobre a mesa estavam dois contratos novos, já assinados pelo Sr.Yanck. Tomei coragem e rompi com silêncio que pairava pelo escritório.

  — Você vai nos demitir? — questionei.

  — Acredite, essa foi minha primeira opção, mas não — respondeu o Sr.Yanck. — Você acha mesmo que vou manchar a minha imagem com processos de injúria, ainda mais contra dois merdinhas como vocês? Não, é claro que não. Vocês vendem bem, e por isso eu tenho uma proposta que vai ser boa para os dois lados.

  O Sr.Yanck empurrou os dois contratos até nós. Olhei para Cae, esperando alguma reação, esperando que ele dissesse algo para nos defender, mas Cae apenas pegou o contrato e o leu rapidamente.

  — Então, a partir de agora é proibido relações amorosas entre membros da banda? — Cae parecia ler com deboche aquele documento.

  — Digamos que não queremos conflitos de interesse entre vocês — respondeu Sr. Yanck.

  — Nós estamos há 4 anos juntos, eu tô com o Carlos desde meus 16 anos e isso nunca interferiu na banda! — reclamei.

  — Mas nunca oficializamos nada — respondeu Cae.

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