(* ^ ω ^): (' ∀ ' *)

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  Começou assim: Riki testava um algodão doce de côco sem muitas pretensões que dali saísse um doce, mesmo que conseguisse sim um algodão, de mesma textura que aqueles usados pra tirar esmalte das unhas: bem sequinhos e com gosto de nada. Era por volta das cinco e alguma coisa, o locutor com voz de galã da rádio anunciava o início da sua típica playlist findeira de tarde, Jungwon futucava com a espátula de teflon uma panqueca laranja-neon cujo futuro parecia absolutamente mais brilhante do que quer que Riki estivesse fazendo, mas como ele nunca admitiria isso, insistia em fazer a melhor sobremesa que a Heeseung's Dolce Gusto pudesse oferecer.

E por que ele faria isso? Boa pergunta! Não há porquê: o pequeno food truck pertencia a Lee Heeseung, primo mais velho daqueles dois funcionários de meio período que fariam Érick Jacquin se acocorar e pedir perdão a Deus, e sofria as consequências do nepotismo testemunhando as competições mais sem sentido do mundo. Às vezes, dava bom mesmo e de alguma invencionice provinda de "hoje é dia nacional do Hangul; duvido que você consiga fazer um pavê com sopa de letrinhas!" saía um sucesso de vendas e até uma matéria no jornal do bairro. Outras vezes, era só gasto de ingrediente e botijão de gás — mas como Heeseung adorava os priminhos e também era a melhor pessoa do mundo, as consequências raramente eram graves.

Riki estava há quatro meses na Coréia e há dois na lojinha de doces, e até então ambas as coisas estavam se mostrando uma experiência e tanto para colocar à prova sua habilidade com a língua estrangeira e instintos básicos de sobrevivência. Tudo estava indo no possível da medida, o que quer dizer que ele só chorava alguns dias por semana com saudade dos pais, dos amigos de estúdio de dança e pela dificuldade que sua personalidade sempre arisca com estranhos implicava na socialização com a turma nova; se virava para não decepcionar Heeseung mesmo que ele exigisse tão pouco e, acima de tudo, fazia o que podia para não permitir que o dia da audição para trainee se aproximando a cada segundo não fritasse seus neurônios e os devorasse com uma saladinha acompanhando. Fora isso, ele estava indo muito bem, obrigado.

— Riki-ya, — Heeseung chamou, tirando o pano de prato branquinho do próprio ombro para pendurar no do primo — Você poderia guardar o restante dos pratos para mim, por favor? Só sobrou alguns talheres.

— Claro, hyung. Você está indo pra casa?

Heeseung já tinha o olhar fixo na banca de jornal enquanto arrumava o cabelo de forma apressada. Ele limpou a garganta. — Hm, não, eu vou... dar uma olhadinha nas notícias de hoje. Sabe como é, ver as críticas da seção de culinária, tendências... Isso aí. Volto daqui a pouco.

Riki e Jungwon o observaram descer a escadinha do food truck e caminhar em direção ao estabelecimento ao lado, bem a tempo de ver Park Jongseong dobrando uma revista sobre o balcão para ir encontrá-lo do lado de fora e pisando em uma embalagem de picolé que acabou grudando no seu sapato. O dono da banca começou a pular em um pé só para tentar arrancar o plástico dali e, por sorte, Heeseung chegou no exato momento para segurá-lo antes que caísse de cara no chão, igualzinho a uma cena romântica de alguma comédia do Owen Wilson.

Jungwon bufou tão alto que Riki se preocupou com a salubridade da panqueca que ele preparava.

— Não, mas por que ele sequer tenta esconder ainda, hein? Quando voltar, vou perguntar como é que 'tão as tais tendências, bora ver.

Riki voltou sua atenção à máquina de algodão doce, tentando ignorar o sarro do primo, mas foi em vão. Jungwon desligou o fogão e levou as mãos até a faixa que prendia os cabelos longe do rosto, tentando se recompor meio às gargalhadas que nunca falhavam em influenciar o outro a rir dos flertes quase malamanhados de tão ingênuos dos dois rapazes.

por causa de você, menino...  》sunkiOnde histórias criam vida. Descubra agora