Djavú

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Sério, queria sumir.

Olho ao redor à todas as aquelas pessoas vestidas de modo social, com suas camisas alinhadas e as mulheres com belos vestidos. Passo de modo irritante o garfo no prato de porcelana, mamãe disse que era apenas mais um almoço de caridade - No clube, e que tínhamos que comparecer pois seria uma falta de respeito, não ir em um evento como esse.

A irônia se encontra, que em um dia comum minha mãe não doaria nada. Nem quando paramos o carro no semáforo, e surge algum vendedor de balas. Dona Eva, fecha a cara e com um semblante feio diz não - Porém para essas dondocas, mamãe finge amar os mais pobres e menos favorecidos.

--- Está um belo rapaz, querido. --- Senhora McCartney sorri para mim de modo intimista --- E as namoradinhas ?

A aquela senhora de sorriso simpático e com os cabelos brancos preso em um coque chique e belas jóias ornando o pescoço - Me deixa visivelmente envergonhado.

--- Ele irá se concentrar nos estudos, será um grande advogado. Como o pai. --- Interrompe mamãe, também sentada a mesa.

Senhora McCartney finge estar surpresa e ambas iniciam uma conversa animada, como se eu não fizesse parte da mesa - Como se eu não estivesse dentro daquele salão chique de festa. E é assim que me sinto, não pertencer.

Sim, Felipe Ambrósias é um covarde. Eu praticamente vim arrastado por elas, mamãe e sua filha preferida Marcela.

E falando nisso minha irmã mais velha deve estar em um algum lugar do salão, flertando com algum cara de uma família rica - Não estou julgando, se pudesse socializar poderia estar fazendo o mesmo, interagindo com alguém.

No entanto é óbvio, minha irmãzinha fazer sucesso. Ela parece uma barbie é totalmente linda, loura e de olhos claros.

Está cursando medicina veterinária e se é um xodó da Dona Eva - Também como não ser ? Marcela não se é esquisita como eu, digamos que eu Felipe tenho uma beleza peculiar. Cabelos cacheados castanhos, salientes sobrancelhas negras e espinhas espalhadas pela face, grandes olhos amendoados também de coloração escura. Bom, como deu para notar não tenho nada de especial.

Sou como todos os milhares de garotos espalhados por aí. Mas especificamente hoje, estou me sentindo um peixe fora do aquário - Com o meu jeans surrados, usando de modo confortável o all stars azul e o que mais me deixa se sentindo protegido a minha camiseta da sorte, da minha banda preferida do mundo todo e de todas às infinitas galáxias existentes "Os Garotos de Marte".

É nítido que mamãe não aprovou em nada o meu visual, porém se é assim que me sinto confortável.

Sabe as vezes se é muito cansativo, ter uma vida traçada por um outro alguém. Em tudo, desde pequeno nunca teve o direito à escolha - Esse tal livre arbítrio, nunca fez parte da minha vida. Mamãe e papai não estão mais juntos, porém ela não quer deixar de lado o título de esposa de um juiz renomado.

Mesmo que o meu pai Eduardo, simplesmente se casou com uma outra pessoa bem mais jovem e se é óbvio que isso se tornou um escândalo nas colunas sociais.

Engulo seco um pedaço de almôndega.

Mamãe escolheu basicamente tudo, desde a minha faculdade o curso que irei fazer - Tudo especificamente planejado, encolho-me na cadeira e de modo confortável coloco os fones de ouvido.

Na intenção cega de fazer a aquela música clássica calar e os sons sonoros das risadas, a aquela ridícula encenações de civilidade.

E a voz do Diego o vocalista da banda Garotos de Marte, surge como uma massagem em meus tímpanos - O grupo é composto por um vocalista, dois guitarristas, um baterista e um tecladista. Se é uma banda pequena e praticamente invisível na indústria musical.

Mas intimamente para mim são os melhores do mundo, com os olhos fechados - Consigo sentir a música de modo mais profundo e em meu universo particular.

Eles não sabem quem eu sou
Eu não quero saber quem
Eles são

A voz de Diego é potente nesses versos parece que tem minhas cicatrizes, sendo contadas neles.

Perdido em um mundo de mentira
Sou fantoche
Nas mãos deles
Maldita irônia

Sorrio enfraquecido, com a faca em mãos começo a batucar à mesa. No ritmo da música, e se é nesse momento o guitarrista Raposa - Realiza um solo perfeito. Que faz todos os pêlos do meu corpo eriçar, se é nessa canção que sinto como um louco djavú o meu corpo se lança naquelas notas musicais.

Alguém empurra-me o meu ombro com violência, fazendo sair dos meus devaneios e abrir os olhos - Se trata de Marcela com o seu sorriso de boneca, segurando a mão de mais de uns de seus crushs padrões.Literalmente estou olhando para o Ken e a Barbie.

---- Esse é o meu irmão bizarro, Caio. --- Ela sussurra para o rapaz que olha para mim e gargalha.

--- O que você quer, Marcela ? ---- Tento a ignorar ao máximo.

--- Quero saber, se meu estranho irmãozinho poderia se fingir de normal. --- Diz com deboche no tom da voz.

Para ela, não passo de uma espécie de bobo da corte e em que a princesa se diverte ao máximo.

--- Felipe, arrumei uma garota para você dançar. --- Marcela fala como se fosse a melhor coisa do mundo. --- Assim a mamãe não passa vergonha com você, seu alienígena.

--- Eu não vou. --- Murmuro.

Isso é totalmente injusto e desrespeitoso, eu só quero ficar sentado e longe de contato humano.

--- Mas você vai. --- Bate o pé teimosamente Marcela, me agarrando pelo pulso e me puxando para frente.

Tentando me desvincular de suas mãos e desastrosamente meu cotovelo, derruba as taças e o prato sob a mesa.

Assustado com os cacos sob o chão espalhados, não consigo deixar de exclamar um sonoro "Não". Todos naquele salão de festa nos olham, entretanto somente para mim se é direcionado o olhar de desaprovamento.

--- Olha que você fez, seu idiota. --- Balbucia Marcela e irritadamente se afastando de mim, levando pela mão o cara.

Mamãe que até então permanecia calada, deixou a taça de vinho sob a mesa e de modo elegante tentou contornar a situação. Dizendo em um tom afável.

--- Acidentes acontecem.

As pessoas concordam com ela e riem de toda a situação, voltando - se para a aquele evento de modo harmonioso.

Dona Eva caminha em minha direção e percebo seu semblante mudar de modo radical - E tenho a sensação de medo absoluto.

Mamãe se inclina em meu ouvido e diz de modo severo.

--- Quando chegarmos em casa, iremos conversar.

Se a Marcela não fosse tão mimada e tivesse aceitado o meu primeiro não, ouvido as minhas recusas - Talvez eu não estivesse nessa situação.

Mas está tudo bem.

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