Ato I - Cena 2

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Naquela tarde, o Rei e a princesa assistiram a uma apresentação da orquestra sinfônica de Valachia na praça principal em frente ao castelo. Com todos os preparativos prontos, Caroline ajudou Bonnie a se vestir para o baile, todo o reino estava em festa, a maioridade alcançada pela princesa significava tempos prósperos, já que ela casaria e teria filhos, a população estava preparada para celebrar a data com todos no castelo.
Assim que chegou ao salão, Bonnie arrancou de todos uma calorosa salva de palmas. Ela era muito querida por seu povo, e estava esplendida. Usava um vestido roxo, com texturas de renda, romântico, um decote bonito, além de joias e sua coroa. Em meio a tantos rostos ela reparou brevemente em um desconhecido, o príncipe Kai observava o baile desinteressado, até que anunciaram a chegada da princesa e ele se viu totalmente hipnotizado pela beleza da mesma.
Bonnie tem a pele da cor de caramelo, sua aparência doce e muito altiva eram instigantes. "E os olhos? Céus, os olhos verdes que reluziam como esmeraldas emolduradas por um rosto angelical."
Kai praguejou por um instante, nunca imaginou que existiria essa bobagem de "amor à primeira vista", no entanto jamais havia experimentado tamanha euforia em ver uma jovem. Apesar de ser um rapaz bastante romântico, ele não idealizava se apaixonar assim, nem ao menos conhecia a princesa.


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O príncipe Malachai, herdeiro do trono de Vivant, aos 22 anos, também estava na idade de casar, mas as convenções eram menos exigentes para com os homens, tanto que Bonnie teve um pretendente com idade para ser seu pai, mas o rei o rejeitou. Mas com os príncipes, as regras eram muito mais maleáveis, uma vez que homens não possuem idade limite para reprodução.
Kai foi ao reino de Valachia apenas para aproveitar os festejos, seu pai não havia lhe dado como pretendente da princesa, ele julgava ser Valachia um reino muito distante de sua pátria Vivant. Eles não possuíam negócios em comum, nem mesmo fronteiras. O rei Joshua saiu em viagem com o filho e sua leal criada, Elena, a única pretenção era a de conseguir novos contratos com províncias vizinhas, exportação e importação estavam em alta.
⁃ Deveria tirar Elena para dançar, não é justo que minha jovem e bela cuidadora passe a noite ao lado de um velho ranzinza. Disse o rei Joshua.
Kai prestava atenção, mas no fundo só pensava de que maneira conseguiria se aproximar da linda princesa. Por sorte Bonnie foi convidada a dançar, e ele viu ali a oportunidade perfeita.
⁃ Me daria o prazer de uma dança, Lady Elena? O príncipe propôs a jovem.
⁃ Será uma honra, alteza! Elena afirmou sentindo o coração acelerar.
A jovem cresceu no palácio, sua mãe é arrumadeira, e seu pai um dos condutores de carruagem, ela sempre admirou o príncipe, encantada por sua beleza e bondade. Quando começou a cuidar pessoalmente do rei, a pouco mais de um ano, é que ela viu aflorar ainda mais o amor que sente por Malachai. O príncipe sempre lhe fora respeitoso, e muito atencioso com o pai. Mesmo nunca tendo lhe dado sequer um olhar de incentivo, Elena guardava em seu coração o amor e a admiração.
Poderia dizer que estava realizando um sonho, dançava como se seus pés não tocassem o chão, seus olhos castanhos buscavam contato com os olhos azuis de Kai, mas ele parecia bastante distraído com tantas pessoas na corte. Alguns rodopios mais e os pares se trocaram, Elena acompanhou com o olhar o seu príncipe e o viu avançar um pouco mais do que pediam os paços da dança, mais uma troca de casal e eles estavam muito distantes um do outro, ela só teve tempo de vê-lo se aproximar da princesa aniversariante.

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Bonnie dançou apenas para cumprir o cerimonial de seu baile, apesar de ser uma exímia bailarina e adorar a dança, ela não tinha motivos para comemorar tal festa. Os sorrisos que os príncipes ali presentes ofereciam a ela eram retribuídos com muita descrição por ordens do rei, se fosse por vontade própria ela jamais sorriria para homens estranhos que ela desejava ter distância.
⁃ Permita-me felicitá-la por seu aniversário, princesa. - Malachai falou quando finalmente conseguiu alcançar seu objetivo de dançar com a princesa.
⁃ Fico grata, senhor...?
⁃ Kai, me chamam de Kai. Ele disse com um grande sorriso que chamou atenção de Bonnie. Ele ficava ainda mais belo quando sorria de maneira tão natural.
⁃ És um estrangeiro, então? Ela disse percebendo nele um leve sotaque. Ele também trajava roupas muito distintas, o que indicava que era membro da monarquia, mas como ela conhecia todos os monarcas de Valachia, deduziu sabiamente que Kai fosse de fora.
⁃ Sou. Ele disse ainda sorrindo, era simpático mas gostaria de saber se havia instigado na princesa algo parecido com o que ela causou em seu coração, então julgou por bem manter certo mistério a cerca de quem era.
Mais alguns rodopios em que eles trocaram olhares intensos, onde ambos se sentiam estranhamente atraídos, e então a dança acabou.
Kai se separou de Bonnie com grande relutância, não queria deixá-la, a suavidade de sua mão ainda lhe tocava a palma, e o doce perfume de orquídeas lhe acariciava os sentidos. Bonnie o observou por mais um momento, tudo em Kai lhe agradava, o que era estranho para ela, afinal, ela detestava qualquer homem, e o fato de que os olhos dele prendiam sua atenção, lhe desconcertava de maneira surpreendente. Ele se afastou relutante, mas seus olhos ainda faziam contato visual, até que a princesa foi abordada por outras pessoas a quem dedicou sua atenção.


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O baile correu por muitas horas mais, música, bebidas, um banquete, todo o reino estava ali. Kai percebeu de longe que a princesa parecia muito mecanizada ao tratar com seus pretendentes que tentavam a todo custo lhe impressionar, mas ela sorria de maneira genuína e incrivelmente iluminadora quando qualquer súdito lhe dirigia os cumprimentos. Kai passou o restante da noite sentado ao lado de seu pai e de Elena, deu graças a Deus por seus lugares lhe darem boa visão da princesa, e ele suspirava encantado a cada gesto que ela fazia. Ele a viu pegar crianças plebeias no colo, Bonnie tocava o rosto das senhoras idosas que lhe faziam reverência para parabeniza-la, era benevolente e doce. Ele a admirou por horas, mal viu o tempo passar, e poucas vezes se deixou levar pelas conversas de seu pai, que estava empolgado fazendo novos contatos com reinos vizinhos. Elena o observava com desgosto, ela não demorou a perceber o interesse do príncipe para com a princesa Bonnie, e mesmo torcendo para que fosse apenas fogo de palha, ela estava emburrada por presenciar tal encantamento.


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Já era tarde quando o arauto anunciou que o Rei falaria algumas palavras. A música silenciou, todos se viraram em direção ao mezanino onde sua majestade e a filha aniversariante estavam.
⁃ Boa noite a todos. - Iniciou o Rei William prendendo a atenção de todos.
⁃ É com grande alegria que os recebo para os festejos de aniversário da minha filha única, minha flor virtuosa, a princesa Abgail Bonnie Sheila Bennett II. - o rei William apresentou a filha que se aproximou dele com um sorriso emocionado. O povo irrompeu em aplausos calorosos.
O rei admirou a beleza de sua filha, e se alegrou ao ver que ela herdou muito mais do que o nome de sua mãe, Abgail I, ela também tinha o mesmo brio e complacência de sua adorada esposa. Infelizmente sua menina carregava em seu coração a dor da perda da mãe, e também as chagas pela circunstância em que a morte dela se deu. Mesmo o rei tentando tratar o trauma da garota, nada a libertou do verdadeiro horror que passou a ter de homens. Ele a compreendia, mas seu papel de governante era tão ou mais importante do que seu papel de pai.
⁃ Peço por gentileza que os honrados príncipes que se puseram como pretendentes de minha estimada filha, se apresentem, por gentileza. - O rei falou em tom solene. Kai se remexeu incomodado em ver três príncipes se colocarem a frente das demais pessoas na sala. Ele não os conhecia, eram de terras vizinha de Valachia e por sua vez, distantes de Vivant. O rei William continuou a falar.
⁃ Como sabem, Bonnie é uma exímia estudiosa, uma mulher valorosa da qual eu me orgulho muito. Sendo assim, não será justo que seu futuro esposo seja escolhido com base em uma batalha de espadas, ou em um inventário de patrimônios. Por tanto, ela propos aos candidatos um desafio. - As palavras do rei chamaram a atenção de todos, e Kai ficou ainda mais interessado.
⁃ O príncipe deverá responder corretamente a três enigmas, e assim então, terá a mão de minha filha! William falou arrancando um suspiro de surpresa de toda a corte.
⁃ Amanhã nos reuniremos na praça, o príncipe que aceitar o desafio deve tocar o sino e então se submeter ao primeiro enigma. Disse o rei finalizando sua fala. O povo aplaudiu e Bonnie se agitou, seu pai deixou de lado a parte mais importante de seu pedido. O preço por falhar era a vida, e ela esperava que isso afastasse qualquer pretendente e ela estaria assim livre de sua obrigação de matrimônio.
⁃ Um momento! - Ela pediu fazendo todos se calarem novamente. Kai deu um passo à frente ao ouvir sua doce voz ecoar pelo salão. Ela era sem dúvida alguma, um anjo, seu anjo.
⁃ Há mais uma condição, o candidato que não souber responder os três enigmas pagará com a própria vida. - Ela disse ouvindo o som de surpresa e indignação de todos. Kai sentiu algo estranho ao ouvir as palavras duras de morte da princesa, ele nunca imaginou que se decepcionaria desse modo, nunca cogitou que aquela moçoila aparentemente tão delicada tivesse algum apresso pela morte, e para piorar, a morte de um príncipe que deseja sua mão.
Depois da revelação bombástica a festa acabou, e todos saíram do salão aos murmúrios, alguns súditos gostaram muito da ideia da princesa, pois isso garantiria a eles um futuro rei inteligente, ao invés de um sovina ou de um monte de músculos acéfalo. Outros pareciam horrorizados. Kai não sabia o que sentir. 

A Jovem Rainha - BonkaiOnde histórias criam vida. Descubra agora