Capítulo 1 (Sozinha)

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Há dias que eu sinto um aperto no coração por nenhuma razão aparente, e não consigo fechar o olho. Há dias também que eu estou tão leve que quando fui ver, já ficou de noite e eu estou pronta pra dormir. No caso de hoje, ficamos com a primeira opção.

São exatas 11:36 da noite em plenas férias de julho, e eu não consigo parar de me sentir ansiosa. Já fiz de tudo pra me acalmar. Bebi um chá quente, coloquei barulhos de chuva na televisão, respirei fundo, mas nada estava me ajudando. Era inútil.

Peguei meu celular do carregador, e me joguei debaixo do cobertor. Mexi em vários aplicativos, e fui descobrindo que muitos dos meus colegas de classe estavam se divertindo, em bares ou shows naquele exato momento. Por razões como essa que eu me pergunto, será que tem algo de errado comigo? Sera que estou realmente vivendo a minha vida?

Minhas férias se resumiam em ficar em casa vendo televisão, ir na casa da Tata pra ficar conversando, e acompanhar os ensaios da banda do meu irmão na casa do Eduardo. Ou seja, eu podia estar indo a vários lugares, mas todos eles eram casas. Comecei a me chatear pensando sobre como meu irmão também não estava em casa essa hora, e provavelmente estaria num lugar qualquer se divertindo pela noite.

Entrei no aplicativo de mensagens, e mandei uma mensagem pra Tata para ver se ela estava acordada. Fiquei um tempo esperando, mas a mensagem nem foi entregue. Ela devia estar dormindo, ou em algum lugar legal como todo mundo. Sendo assim, tentei falar com a Bella, e ela sim me respondeu.

Bella: To acordada sim. Eu estava estudando pra preparação do meu intercâmbio. A entrevista é amanhã, lembra?? Eu tô tão nervosa que nem percebi o tempo passar.

Analu: Ah sim!!! Então não vou te perturbar, quero que você passe!! Boa sorte amanhã, e me avisa quando sair o resultado! Beijo

Desliguei o telefone e devolvi ele para o carregador. Eu realmente tenho que arrumar alguma coisa pra fazer da minha vida. Usei das minhas energias que não queriam desligar, e me sentei no chão do meu quarto, em meio ao meu tapete circular rosa. Peguei meu violão, e comecei a dedilhar um som baixinho, para que meus pais não acordassem com o barulho. Cantarolei uma canção que estava na minha cabeça recentemente, e assim, me perdi totalmente naquele momento.

Eu estava tão imersa com as músicas que me assustei ao ouvir o barulho da porta de casa sendo aberta. Resolvi deixar meu violão de lado, e ir ver, mesmo sabendo quem tinha chegado. Ao pisar no corredor, me deparei com o meu irmão, Pedro, dependurado nos amigos dele. Fiquei um pouco assustada, pois ele parecia desacordado, e já comecei a perguntar o que tinha acontecido.

Eduardo e Victor levaram o Pedro pra o quarto dele, e assim que ele estava deitado, o Eduardo veio até mim.

"Não aconteceu nada demais, não se preocupa. A gente só foi no Bar do Coqueiro, e ele bebeu demais no open bar que tava rolando, daí capotou e a gente trouxe ele. Por favor, não conta nada pra os seus pais"

Neguei com a cabeça em ar de reprovação, e afirmei que eu não iria contar nada. Mas também cobrei que eles ficassem aqui pelo menos pra colocar o Pedro num pijama e fazer ele parecer menos morto quando acordasse. O Eduardo então me olhou como quem dissesse "não quero" mas não havia negociação ali.

O Victor, que até então estava no quarto, chegou dizendo que tinha que ir pra casa, pois a mãe dele estava ligando sem parar. Sendo assim, nos despedimos dele, e eu olhei pra o Eduardo de braços cruzados. Ele já sabia o que tinha que fazer, por isso fez uma cara de preguiça, e eu o empurrei para o quarto do meu irmão e fechei a porta.

Matei um tempo na cozinha assaltando a geladeira, e comi o último pedaço do bolo de aniversário do meu pai. Também belisquei umas torradinhas, e quando eu ia beber uma água, ouvi uma porta se abrir, e vi o Eduardo entrando na cozinha.

"Pronto, eu consegui fazer ele levantar pra trocar de roupa e escovar os dentes. Ele ainda tá com uma cara de morto, mas foi o máximo que eu consegui fazer."

E dizendo isso, ele pegou meu copo de água, e deu um golão. Pelo visto, não havia sido só o meu irmão que tinha bebido muito aquela noite. Agradeci por eles terem trazido o Pedro de volta em segurança, e coloquei o copo d'água na pia. Eu ia voltar para o meu quarto, quando me deparei com o Eduardo ainda parado no mesmo lugar.

"Então... já pode ir pra casa?" Falei mais como uma pergunta, pois acho que ele não entendeu o meu agradecimento.

"Ir Pra casa?" Ele riu "E correr o risco da minha mãe me pegar com um cheiro de álcool? Nem pensar. Vocês não tem nenhuma sobra do almoço que eu possa filar pra disfarçar antes de ir não?"

Dessa vez eu que ri, mas em deboche. Eu achava meio irritante a forma que o Eduardo era tão folgado lá em casa. Ele se sentia o próprio morador, vivia lá sendo que a casa dele era literalmente do lado do meu prédio. É como se ele fosse maltratado em casa, o que eu sei que não é, já que a mãe dele é um amor de pessoa. Mandei ele ir logo pra casa antes que eu empurrasse ele até a porta.

"Você é muito má, Luluzinha. Sempre que pode, quer me expulsar. Você não gosta de mim, não é?"

Respondi que não, e dessa vez comecei a realmente empurra-lo em direção a porta. Mesmo contragosto, o Eduardo se despediu e me avisou que amanhã teria ensaio, e que eu estava convidada pra assistir como sempre. Concordei, e acenei pra ele até ele sumir dentro do elevador. Fechei a porta de casa, e voltei pra o meu quarto.

Quando me deitei na cama, e peguei meu celular mais uma vez, vi que ele estava lotado de mensagem da Tata. Há, então ela estava sim acordada...

Fui lendo mensagem por mensagem, e resumidamente ela contou que foi nos quinze anos da filha dos amigos dos avós dela, e que lá ela conheceu um menino bonito chamado Gabriel. Eles acabaram ficando, e Gabriel falou para ela sobre uma festinha que ia rolar num condomínio de praia em Camboinha, um bairro de rico. Ele chamou ela pra ir, mas ela perguntou se podia me levar também, ele disse que sim. Agora ela queria saber se eu queria ir.

Honestamente, a primeira resposta que veio a minha cabeça foi não. Não quero ir, camboinha é longe, não conheço ninguém, vou ficar de vela, vai ser horrível. Mas então refleti um pouco mais sobre a noite de hoje e com a forma que eu venho "vivendo" minha vida, e apenas concordei.

Depois de um bate-papo rápido com a minha amiga, eu finalmente larguei o telefone de vez e deitei a cabeça no travesseiro. Por mais que mil coisas estivessem rodeando minha mente, eu comecei a sentir meus olhos pesando, e me aproveitei disso para cair no maior sono profundo.

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