Eu estava muito distraído quando tudo aquilo aconteceu. Imaginar que minha mente foi capaz de aceitar aquilo e ainda sim continuar seguindo minha vida é no mínimo insano, se bem que não deveria chamar isso de vida.
As 6h eu acordo e vou direto para internet, enquanto vejo minhas fontes de consulta, preparo um café forte e bebo sem ao menos adoçá-lo. Fico trancado dentro de casa sem sair pois ainda tenho medo de que ele apareça e me devore.
A noite tranco as janelas e vejo se todas a portas estão com seus cadeados. Coloco minha pistola do lado da cama e fecho a porta do meu quarto com duas barras de ferro, um cadeado e uma armadilha caso ele apareça. Se der vontade de ir ao banheiro eu uso o urinol que fica em baixo da cama. Se me der fome eu como os biscoitos e as barras de chocolate.
Pareço um pouco paranoico com segurança, diria até mesmo um pouco desesperado, mas tudo isso teve inicio naquela noite de 19 de janeiro, quando minha mente foi invadida por cenas tão irreais que parecia que tinha sido drogado.
Não sei bem certo o que aquilo era, ninguém soube e nem teve tempo de pensar no que seria. A criatura media uns dois metros de altura, tinha olhos bem grandes e uma boca ainda maior com inúmeros dentes, era impossível mensurar a quantidade. Tinha pernas musculosas como aqueles cara de fisiculturismo, braços que mediam mais que sua altura e se arrastavam pelo chão, se arrastavam quando não conseguiam pegar algo, pois era muito fácil para ele pegar e morder até tirar um pedaço do que quer que ele pegasse. Tinha um cheiro podre como de uma carne estragada cheia de vermes, suas veias eram dilatadas e mostravam uma coloração esverdeada.
Estava em uma festa no hotel mais luxuoso da cidade, quando de repente uma pessoa começou gritar muito, visão ficou comprometida pois tinha muita gente correndo para todas as direções, mas ao fim consegui ver um grande animal devorando uma mulher de vestido vermelho. Devorou a barriga toda da mulher, depois partiu para a cabeça, nesse momento, corri e me escondi na parte mais alta do salão de forma que pudesse ver a criatura.
Fiquei paralisado de medo e por mais que estivesse acostumado a situações de risco, não conseguia compreender o que estava acontecendo. Voltei a realidade e saquei minha pistola. Busquei abrigo em uma mureta na parte de cima e quando o salão esvaziou um pouco, levantei e dei dois tiros na criatura, ela deu um grito agudo e olhou para os lados tentando buscar quem tinha feito aquilo. Tentei me esconder novamente. Quando levantei para dar mais tiros consegui encarar a criatura de frente que me encarou de volta e novamente fiquei paralisado de medo. Demorei alguns segundos para voltar a raciocinar direito, mas quando voltei percebi que tinha urinado nas calças, sentia um medo agudo e doloroso como se pudesse cortar minha pele, rasgando e dilacerando. Uma agonia tomou conta de mim, mas consegui buscar abrigo de novo e dar mais 4 tiros que fizeram com que a criatura corresse e se escondesse em algum lugar que não consegui mais ver.
Olhei em volta e todo mundo que esta na festa tinha sumido, eramos somente eu e o monstro. Não sabia o que fazer, como reagir, como fazer para sair dali, não conseguia pensar em nada. Sentia a agonia forte no meu peito. Senti como se minha mente fosse explodir. Corri mais um pouco até a janela mais próxima e vi que estava no 3º andar, de maneira que se eu pulasse quebraria as pernas. Em seguida ouvi passos e sons estranhos se aproximando. Fui novamente para a mureta abaixado e vi aquele ser horrendo caminhando pelo salão, descer as escadas era perigoso demais pois teria que encarar a besta, no entanto, resolvi arriscar um confronto.
Todo meu corpo tremia, como se eu estivesse com muito frio, não conseguia respirar direito e minha visão ficava embaçada. Continuei abaixado e levantei muito devagar, consegui ver o monstro de costas para a saída, imediatamente saltei a mureta e me joguei para o andar que ele estava. Descarreguei minha pistola atirando na cabeça da criatura hedionda, ele tombou e sem olhar par s trás corri logo para a saída.
Ao chegar na área externa me dei conta que o hotel estava cercado de policiais, que mandaram eu levantar as mãos. Identifiquei- me como policial e passei a relatar o ocorrido ao chefe de Polícia do local, que só acreditou em mim por que já tinha escutado a mesma história de outras cem pessoas que estavam na festa.
Ele me disse para buscar atendimento médico e me liberou. Quando eu estava na ambulância escutei uma movimentação e uma nova gritaria. Olhei pela janela e vi que a criatura estava fora do prédio e depois de receber alguns tiros, correu em direção oposta, sumindo no meio da cidade. A sensação de agonia e medo invadiu novamente meu corpo e só fiquei calmo após ser medicado pelo enfermeiro que me atendia.
No fim de tudo, já em casa, tive tempo de pensar no que aconteceu e senti novamente a onda de medo e agonia. Liguei a televisão e falavam que foi um homem que tinha feito o estrago. Mas eu sei que não foi. Corri para internet e apareceram pessoas relatando a situação. Fiquei pesquisando intensamente até dormir sem perceber. Acordei no outro dia e corri novamente para a internet. E assim tem sido meus dias, sempre em buscas de mais informações. O pessoal da Polícia veio aqui me ver e perguntar porque que não estava indo ao trabalho, disse que o monstro iria me pegar. Após um tempo desistiram e me mandaram um e-mail avisando que eu tinha sido demitido. Depois de um tempo até meus amigos deixaram de me visitar. Participo ativamente de fóruns na internet que debatem de onde surgiu a criatura, uns dizem que do espaço, outros que do inferno. Mas o fato é que todos que olharam para a criatura, não conseguem mais fazer nada em suas vidas, sempre somos invadidos por aquela sensação desesperadora.
Acabo de perceber, hoje é 19 de janeiro. Já são dez anos e ainda não temos nenhuma aparição.
Mas eu sei que ele esta lá fora me esperando, se eu sair daqui ele vai me pegar.Se eu pisar lá fora vou morrer
Nunca mais vou sair.
Nunca mais vou sair, nunca mais vou sair.
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Noites De Horror (Contos E Micro Contos)
Horrortrata-se de uma série de contos e micro contos sobre o terror e o horror.