quero fugir de mim!
meu corpo mais parece uma prisão
até pulei da ponte um vez
por mera diversão
num verão de uns anos atrás
no fundo queria me libertar
mas durante a queda livre
livre não me tornei
não obtive a tempo
aquiescência de meu algoz
carta de alforria para deixar de ser
nasci na sociedade
existo nela
porém não respiro ela
ela para mim apenas existe
apenas
um cenário que me rodeia
com personagens aleatórios
em atores insidiosos
fina curadoria de objetos
figurinos de alta costura
tudo muito chique e superficial
nada faz sentido
quero ir ao mundo das ideias
fundar a república do alienista
onde só os loucos podem entrar
nada de militares ou pastores
apenas lunáticos e sonhadores
e não se trata de segregar
quer ser aceito?
basta da sanidade se livrar
do cotidiano que mata em prestações
das hipóteses viciadas em preconceitos
das teses furadas que nos impedem de alcançar
esse lugar além-mar
mas não vale hesitar
encontrar a saída é minha devoção
estou na antecâmara
tentando escapar.