Eram cinco e quarenta e sete da tarde, naquele momento do dia em que não é nem tarde nem noite, mas algo entre esses dois. As luzes dos postes tinham sido acesas há pouco tempo, e o seu reflexo alaranjado se misturava ao quase cinza do céu. Aquela região era meio abandonada, bem no Porto da cidade, onde ficavam os grandiosos armazéns que eram usados há provavelmente duzentos anos.
Um catamarã com passageiros turistas passava bem ao lado daquela rua em breu, onde era possível ver — se dado algum esforço — a imagem de dois jovens dançando lentamente, e bem entrelaçados, como se ambos estivessem esperando o outro sair correndo dali. Mas nenhum dos dois saiu do lugar, apenas continuaram movendo seus pés e mãos como imãs, sem conseguir afastar da conexão magnética que o outro corpo exalava.
As paredes atrás deles estavam escuras e quase caindo aos pedaços, a precária luz laranja dos postes se tornava aos poucos a única iluminação presente. Um dos garotos permanecia colocando seu cabelo atrás das orelhas devido a bagunça que a brisa marítima fazia. Eles sorriam um para o outro enquanto escutavam a melodia que tocava em um celular jogado no chão. Era perceptível que ainda sorriam apenas porquê já haviam chorado demais.
— Agora acabou? — O de cabelo menor perguntou, a voz alta demais em meio ao silêncio. Seu sorriso quadrado era triste.
— Você sabe...
O aperto na cintura aumentou. O medo de deixar ir.
— Sei.
O outro arrumou seus fios de novo, tirando eles da testa. Seu olhar de coelho lagrimejava, pedindo algo que alimentasse seu último fio de esperança.
— Só continua dançando comigo, por favor. — Em resposta, recebeu uma risada quebrada e mãos grandes o rodopiando lentamente.
De tão doloroso que era, eles continuavam assim. Ficariam ali para todo o sempre. O sempre que duraria só até que a última nota do piano tocasse.
