Trilogia Midnight: o trem da meia-noite para a Geórgia.

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Eu posso dizer, por experiência própria, que a vida é algo que demora para mudar, assim como algumas formas de pensar e o gosto pessoal que nós juramos ser extremamente intocáveis. Tudo se trata de uma questão de tempo, então, dizer "eu nunca" pode acabar se tornando "eu fiz" quando menos esperamos, quando sequer imaginamos.

Hoje você diz que nunca iria gostar de vinho, mas amanhã ou depois, poderá estar degustando uma taça na companhia de uma mulher estranha e perigosamente charmosa, que durante a conversa toda, te faz imaginar como seria passar uma noite bagunçando os lençóis da cama com ela.

Isso foi muito específico, eu sei.

Mas, continuando...

Como eu dizia, o mundo está sempre em constante mudança, as pessoas dificilmente permanecem as mesmas para sempre, com o mesmo pensamento, os mesmos hábitos e a mesma visão sobre tudo. Talvez demore alguns dias para que ocorra uma mudança radical em nossas vidas, ou algumas semanas, meses, anos e na pior ou melhor das hipóteses, pode levar uma vida inteira. No meu caso, tudo aconteceu em uma simples viagem de trem na época em que eu estava oficialmente de férias da faculdade, e havia decidido fazer um passeio pela Geórgia.

Enquanto a maioria dos meus colegas de turma sonhavam com Los Angeles, Las Vegas ou Nova York, eu queria ir para a Geórgia e passei meses planejando a viagem, organizando uma lista de coisas que eu faria quando chegasse, pesquisando os principais pontos de turismo, o hotel para a hospedagem e o melhor lugar para que eu pudesse alugar um carro, sempre fui uma pessoa que gostava de planejar tudo do começo ao fim, nos mínimos detalhes e naquela minha vida sem maiores emoções, tudo era extremamente nivelado e proporcional. Aos meus dezenove anos de idade, eu cursava medicina em uma boa universidade, tinha boas condições financeiras e um bom namorado. Chan, o meu então namorado, era um cara legal, bonito e de bom nível, usava roupas comportadas, tinha um carro e cursava engenharia no mesmo lugar onde eu estudava.

Nossas famílias se conheciam, apoiavam a relação e esperavam pelo pedido de casamento a qualquer momento, depois com a casa própria e os filhos, tudo perfeitamente planejado sem ao menos ninguém pedir minha opinião uma única vez. Ninguém perguntava o que eu realmente queria, se eu estava de acordo com tudo aquilo ou se apenas estava gostando, mas os adultos da minha família me convenceram de que a vida deveria ser monótona daquele mesmo jeito e não haveria nada que pudesse mudar aquilo, certo?

Errado.

Se algum dia, eu segui essa linha de raciocínio, eu estava errada. Se algum dia eu cheguei a acreditar mesmo que a minha realidade seria aquela para sempre, eu estava terrivelmente errada. Na verdade, eu estava errada sobre tudo, sabe? E sinceramente, ainda bem que eu estava, ainda bem que uma certa pessoa me fez abrir os olhos para um mundo completamente novo e diferente, que mais parecia um paralelo da minha própria vida. É por isso que jamais me esquecerei daquela viagem, não há um mísero dia na minha vida em que eu consiga sentir qualquer arrependimento por tudo o que aconteceu, por todas as coisas novas e peculiares que eu conheci, senti e experimentei em uma única viagem, com uma mulher dois anos mais velha do que eu e que eu nunca havia visto em toda a minha vida.

Esta é uma história passada. É a história de como eu, Kim Minjeong, aos dezenove anos de idade, tive minha vida virada de cabeça para baixo em uma viagem de trem para a Geórgia.



Midnight Train to Georgia



1 de Julho de 2015, aeroporto de Seoul.

Midnight Train to Georgia | WinrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora