O estômago de Chan embrulhava mais a cada segundo que continuava naquela casa. Por isso checou se a porta do quarto estava mesmo trancada antes de pular da janela da forma mais silenciosa possível. As consequências daquele ato imprudente seriam terríveis, sabia disso, mas no momento nada parecia pior que seguir sentado na cama do quarto escuro, sozinho com os pensamentos que não cansavam de tentar matá-lo.
Estava cansado, pra caralho. Nunca foi o filho perfeito, o aluno perfeito, o escritor, ouvinte, amigo, amante; às vezes o peso da comparação, da exigência, era demais, puxava-o demais para o fundo, e, às vezes, não sabia como resolver sozinho.
Nesses momentos, sempre parava no mesmo lugar.
A porta do apartamento não tão pequeno abriu após um único toque na campainha. Chan, que estava do lado de fora com as mãos no bolso da calça, apenas segurou o rosto do homem que o recebeu entre as mãos e o beijou, sendo correspondido na mesma hora, sem a menor hesitação. Felix sabia muito bem quem era ali, não precisava abrir os olhos para conhecer as mãos de Chan em sua pele.
— Ei, o que aconteceu? — Felix perguntou, dando um último selinho no menino enquanto fechava a porta com o pé e caminhava para a sala.
— Chris? O que faz aqui a essa hora da noite? — preocupado, Hyunjin levantou do sofá onde assistia Attack on Titan pela milésima vez para puxar Chan para perto de si — Por acaso seus pais lhe fizeram alguma coisa?
Chan nada respondeu, apenas deitou a cabeça no ombro de Hyunjin, sentindo-se abraçado pelo corpo aconchegante que tanto sentia falta. Podia ser uma pequena ação, mas aqueles dois conheciam Chan como ninguém, e o silêncio dele valia mais que qualquer explicação.
A verdade é que em dias como aquele, todas as palavras fugiam da cabeça de Chan. Em dias como aquele, sentia-se como se fosse ninguém, como se nada que sentisse fosse o suficiente para ser válido. Em dias como aquele, mais que o peso em suas costas, o peso do mundo era grande demais para aguentar de pé, por isso caía, e quando caía, era feio.
Porém, apesar da sensação de que a agonia nunca vai acabar, sempre há algo, ou alguém, pronto para lhe puxar da bolha de sofrimento calado, só é preciso um esforço a mais para encontrá-lo.
E Felix e Hyunjin eram esse alguém para Chan.
— Não queria vir aqui na casa de vocês a essa hora, de verdade, mas eu…
A voz geralmente animada de Chan estava trêmula, assim com suas mãos inquietas sobre o próprio colo. Lágrimas ameaçando cair a cada palavra que deixava os lábios comprimidos em contentamento sendo o principal motivo para o silêncio naquela sala.
— Parece tão bobo falar isso em voz alta, mas vocês são a minha casa. Eu não podia continuar lá e fingir que tá tudo bem, porque só aqui, com vocês dois, eu me sinto bem… me sinto vivo.
Chan começou a falar ainda com uma voz minúscula, lutando contra o nó em sua garganta. Havia pensamentos demais correndo descontrolados por sua cabeça, dúvidas e hipóteses infinitas que o consumiam por inteiro, também a falta de reconhecimento das conquistas próprias. Parecia que nada de bom acontecia para si quando parava para pensar em momentos de vazio.
Por isso escolheu resolver o problema de outra forma. Escolheu tomar doses do único tipo de carinho que conhecia, justamente aquele amor caótico de Hyunjin e Felix, os futuros engenheiro de software e advogado, mas também os mesmos meninos bobinhos que ficavam acordados de madrugada assistindo anime e brigando por personagens 2D.
— Não tem nada de bobo nisso, Chris! – Felix afirmou num tom ameno, como se caso aumentasse a voz um pouquinho só, o menino no colo de Hyunjin fosse partir ao meio. E talvez fosse mesmo. — Você é o nosso bebê, sem você aqui sempre tem alguma coisa fora do lugar.
— Sim, neném, a gente sabe como as coisas funcionam nessa sua cabecinha brilhante – Hyunjin começou, sorrindo de lado ao ver Felix segurar os dedos ansiosos de Chan — E não tem nada de errado em vir aqui, é sua casa também, pode aparecer quando quiser.
Sua casa também. Por um minuto Chan esqueceu da dor na garganta por prender um choro extremamente ruim, e pôde se aconchegar naquele quentinho.
— Parem de me chamar de bebê, eu tenho dezenove! – botou as mãos na cintura, olhando para os dois homens no sofá com um quase biquinho nos lábios.
— Não chegou na casa dos vinte, então ainda estamos acima. – Hyunjin o beliscou, rindo com o susto de Chan.
— E você é um bebê sim! Aceite sua derrota, Christopher Lee. – Felix gritou do corredor, indo para a cozinha buscar uma garrafa de água; era perturbado, mas era um perturbado hidratado.
— Christopher Hwang.
Felix parou no meio do caminho, virando-se nos calcanhares apenas para dar uma olhada de “repete se tiver coragem” pra Hyunjin, que tinha os braços cruzados agora que Chan estava deitado ao seu lado.
— Lee.
— Hwang.
— Eu falei primeiro, então é Lee.
— Não tem essa de “eu falei primeiro”! Meu sobrenome é mais bonito, então é Hwang.
— Tá querendo me dizer que meu sobrenome é feio, Hyunjin?
Chan ouvia a discussão boba de sempre com os olhos fechados, se permitindo sentir a sensação boa de estar em casa de verdade. Ali era o seu lugar, entre os caras da sua vida discutindo sobre qual seria seu sobrenome num casamento hipotético que estava mais que longe de acontecer, ainda mais se fosse legalmente falando.
Por mais cômico que parecesse, Chan não escolheria estar em nenhum outro lugar do mundo.
— Bom, já tá bem tarde, então acho que devíamos dormir. Meu estágio amanhã é cedinho. – Felix disse depois de um tempo dos três assistindo aos primeiros episódios da terceira temporada de AOT, como Hyunjin chamava — Eu já te contei, Channie? Sou oficialmente estagiário num escritório de advocacia! Não é incrível?
Chan era muito boiola, por Deus. O que mais queria era apertar Felix e guardá-lo no bolso.
— É incrivel, Lix! Parabéns, você merece muito. – e realmente o apertou, mas num abraço tão quentinho quanto a cama os esperando.
Hyunjin já havia desligado as luzes e a TV nesse meio-tempo, aguardando na porta do quarto os dois animadinhos de sempre.
— É bom te ver sorrindo, Chris. – sussurrou ao segurá-lo com os braços parados em suas costas, deixando um selinho nos lábios do menino, que sorriu para si.
— Só vocês me deixam assim.
•••
quem amou o chan pitico dos hyunlix?
hell above me deu vontade de escrever, daí saiu isso, que não tem nada a ver com a letra, inclusive, mas enfim
escrevi na época pra ser do aniversário do chan, e acabei desistindo pq tava nos meus momentos de “ngm vai ler, não faz sentido, deixa na gaveta” ,, hoje também tô, só que minha apatia não me deixa produzir nada então decidi postar esse pedacinho da vida dos chanhyunlix !
espero que tenham gostado :>
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refúgio 𖥻 chanhyunlix
FanfictionOnde Chan não aguenta mais o peso dos problemas de casa e decide passar a noite no único lugar que se sente seguro: nos braços de Felix e Hyunjin, seu refúgio. ☆ oneshot, soft? ★ © mwdblood - 2021