O ranger de dentes era baixo no cômodo e lá fora no escuro a tempestade serpenteava. As árvores cambaleavam, as luzes dos postes acendiam e apagavam e a janela urrava quase fantasmagórica.
Lá estava ele duro em cima da pequena cama de solteiro. A chuva podia ser violenta, mas não mais do que o frenesi de ondas elétricas sendo descarregadas de um neurônio para o outro em seu cérebro fazendo que o corpo não respondesse corretamente.
O choro se fez presente e pode se perguntar como tinha chegado naquele ponto. Tão perto do outro lado da cerca ele tinha chegado, tão perto que até pode ver o girar dos amarelos girassóis. Porém outra vez ele estava no lago Negro afundando com a água gelada perfurando seus ossos e inundando seus pulmões
Sabia o que devia fazer, mas o corpo tão pesado e tão maltratado que era quase impossível buscar forças. Era mais fácil de deixar afundar olhando nos olhos daquele que o tinha posto no inferno e o perdoar mesmo que estivesse com as mãos em seu pescoço.
Mas a verdade era que por mais que ele tivesse cicatrizes, nunca tinha gostado do que era fácil. Ele era Gulliver em terra de anões, o supremo dos lutadores.
Ele se debate, o corpo se põe ereto e rompe barreira, estrondosa força sonora faz que tudo trema, vergue e estoure. Ele e a tempestade se tornam um, raios e gotas de chuva ajoelham para si.
Noites como aquelas subiam pelo córtex dos espectadores e de alívio se preenchiam.
Homens como ele nunca morrem. Homens como ele nunca vivem, mas todos dançam junto a tempestade
