LIARS

Caixa de Pandora

A semana mal tinha chegado na metade e Sakura estava de saco cheio de ouvir qualquer um daqueles alunos. Era dia de aula prática, e todos os calouros estavam empolgados, vestidos com seus jalecos brancos e olhando cada detalhe do laboratório. Todos os alunos estavam sentados em volta de uma grande mesa, e logo iriam para os microscópios.

– Hoje vocês vão ver nas lâminas os tecidos que falamos em sala de aula. – disse a professora.

– Já estava na hora mesmo... – Sakura ouviu alguém resmungar ao seu lado, foi quando notou a presença de Hinata.

Sakura torceu o nariz para a garota dos cabelos escuros e se lembrou da frase que Ino lhe dissera dias atrás "você vai ter aula com ela, e aí poderá me dizer". Hinata fazia jus à descrição de Ino, embora fosse claramente insignificante. Aquele tipo de pessoa cuja presença só é notada quando ela abre a boca pra reclamar de algo.

Ninguém nessa cidade prestava de fato? Sakura ouviu algumas reclamações ao seu lado e constatações óbvias, até que por um deslize:

– Como todo mundo sabe, o tecido conjuntivo propriamente dito é constituído de pouca matriz extracelular...

– Como assim? – Hinata sussurrou, com os olhos arregalados, enquanto a professora ainda falava – O diploma dessa mulher é comprado?

– O que foi? – Sakura questionou, tentando manter a calma, estava a pouco de se levantar e trocar de lugar, não conseguia prestar atenção em nada do que era dito com Hinata sempre adicionando ou discordando de algo em voz baixa.

– O tecido conjuntivo propriamente dito possui matriz extracelular abundante! É ele quem atua na sustentação e preenchimento dos tecidos, como pode ter pouca matriz extracelular? – Hinata revirou os olhos claramente sussurrando alto o suficiente para ser ouvida pelos alunos próximos. – Claramente ela não sabe do que está falando...

– Perdão, gente. – A professora falou, em um tom mais enfático, atraindo a atenção até de quem conversava baixinho – Eu me confundi. O tecido conjuntivo propriamente dito possui muita matriz extracelular, pois sustenta os tecidos e ajuda a estruturar os órgãos. – Ela rapidamente se corrigiu, sem sequer ter ouvido a reclamação de Hinata.

Sakura olhou para a garota com uma expressão de tédio, mas a Hyuuga apenas manteve sua pose e ar de superioridade. Doutores erraram em determinados momentos, ou fazem confusão. Menos Hinata, claro, pois era a dona absoluta da verdade.

– Continuando... – A professora limpou a garganta – O tecido conjuntivo frouxo é constituído por pouca matriz extracelular, com muitas células e poucas fibras. Isso faz dele um tecido flexível.

– Ele é encontrado pelo corpo todo e envolve os órgãos. – Hinata falou alto, complementando a explicação da professora, e atraindo a atenção de todos os alunos para ela. – Também serve de passagem a vasos sanguíneos, sendo importante na nutrição dos tecidos.

Hinata fazia questão de arrumar qualquer motivo para corrigir a professora, ou para mostrar que sabia mais do que todo mundo. Sakura não estava mais suportando aquilo, se perguntava se aguentaria os próximos anos.

Os dias estavam passando rápido, mas as horas eram devagar demais. Talvez o problema não fosse a velocidade do tempo e sim o tédio imenso que Sakura sentia. Viver no passado de sua antiga cidade estava desgastando-a, não achava graça nessa cidade que só lhe dava dor de cabeça, pelo contrário, Konoha parecia uma caixa de pandora, e saiu do laboratório tendo certeza disso... Talvez Ino não estivesse tão errada, mas preferia morder a língua do que admitir.

Olhou o horário e trocou os livros. Sentiu como se estivesse sendo observada e logo tratou de procurar por quem a encarava.

– Você parar para tomar café com o Neji estragou todos os comentários sobre a festa. – A voz de Konan surpreendeu Sakura.