Capítulo único

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Sirius Black não se lembrava a primeira vez que viu Marlene McKinnon. Não se lembrava da primeira conversa que tiveram, nem muito menos da segunda ou da terceira ou daquela que fez os dois saberem que de fato eram amigos. Ele se lembrava, no entanto, do dia que entrou com ela para o time de quadribol. Nunca vira alguém rebater tantos balaços com tamanha precisão quanto Marlene. Ela era muito melhor que ele com um bastão – mas Sirius jamais diria aquilo a ninguém. Já bastava o fato de James Potter fazer isso por ele.

Por muito tempo, suas conversas se limitaram a estratégias de quadribol – Marlene nunca errava, pois estava sempre estudando os outros times e planejando as manobras mais inteligentes e eficazes para os batedores. Ela nunca improvisava como Sirius. Ela era boa em tudo que fazia e sabia exatamente o que estava fazendo o tempo todo, e talvez tenha sido isso que chamou a atenção do Black.

Sirius gostava de garotas e sabia disso desde os 12 anos de idade quando flagrava sua prima mais velha andando de toalha pela casa nos verões que a família se juntava, porém com Marlene era diferente.

Marlene o fascinava e Sirius não se lembrava de nenhuma outra garota que tivesse feito isso com ele. Nas aulas, ela era a mais dedicada e calada, enquanto nos campos era sempre a mais estressada e falante. Sirius gostava como Marlene ficava assustadoramente linda em seu uniforme de quadribol. As calças justas, o suéter destacando suas curvas e os longos cabelos castanhos presos em um rabo-de-cavalo firme para não a atrapalhar. Gostava como ela perdia facilmente a paciência com James e como ela estava sempre chamando por ele. Tinha algo diferente e encantador sempre que seu sobrenome saía da boca dela, mesmo que junto com um xingamento por não estar prestando a devida atenção no jogo.

Sirius sempre fora bom com garotas, mas nunca com Marlene. Sempre culpou o medo de estragar a amizade que o quadribol construiu para eles, mas a verdade era muito mais simples: Marlene era diferente. Foi apenas no sexto ano que juntou coragem o suficiente para convidá-la para Hogsmeade. Marlene disse não. Disse não para o segundo convite também, para terceiro e até mesmo para o quarto três meses depois do primeiro. Na quinta vez, porém, Marlene disse sim. Desde então, cinco passou a ser o número favorito de Sirius.

Sirius não se importou, naquele dia, se não conseguia reunir muitas das suas memórias antigas com Marlene, pois, ela estava ali, sentada na sua frente, tomando uma cerveja amanteigada e rindo enquanto suas mãos estavam entrelaçadas por de baixo da mesa do bar. Sirius sabia que poderia viver um milhão de vidas e jamais conseguiria esquecer a forma que o cabelo de Marlene estava trançado ou como seu vestido amarelo desenhava suas coxas quando a mesma se sentava. Sirius poderia viver um milhão de vidas e ainda se lembraria do cheiro doce e familiar que rodeava os dois quando ela se inclinou e perguntou quanto tempo ele levaria para beijá-la.

Sirius nunca gostou de muitas coisas em si mesmo, mas sempre gostou de ser conhecido como o namorado de Marlene McKinnon. Não havia nada melhor do que jogar ao lado da garota que gostava e depois fugir para ficarem juntos atrás das tapeçarias do sétimo andar, embaixo da arquibancada ou nas salas vazias de Hogwarts. Ganhar ou perder não fazia diferença, pois, de um jeito ou outro, Sirius terminaria o dia nos braços de Marlene, sentindo sua boca na dele e seus dedos percorrendo todo seu corpo esguio enquanto ela suspirava e gemia perto do seu ouvido.

O sexto ano que passou ao lado de Marlene fez com que Sirius esquecesse como era ser um Black. Nunca gostou verdadeiramente de nada, mas gostava dela e Marlene possuía o talento de nato de fazê-lo esquecer o quanto se sentia inadequado existindo.

Sirius conseguia imaginar como seria ser feliz com Marlene. Como seria fácil ser feliz com Marlene. Amá-la fazia Sirius entender porque James era tão relutante em desistir de Lily Evans.

Mas nem mesmo sua imaginação conseguia disfarçar o que estava acontecendo. Estavam protegidos ali, nas paredes grossas e antigas do castelo que Albus Dumbledore tanto cuidava, contudo, do outro lado, no mundo real, as sombras da iminente guerra espreitavam-se pela soleira da porta de todos os bruxos, invadindo e tomando conta da vida deles.

I Never Said Goodbye I BLACKINNONOnde histórias criam vida. Descubra agora