"Vocês ficaram aqui, nessa sala, sem conversar, sem se levantar e sem causarem qualquer tipo de confusão." Sentenciou o Dr. Hager, a voz severa. "Se eu precisar repetir essas palavras, vocês, cavalheiros, desejaram não ter ocasionado isso".
Todd não se preocupou em tentar levantar a cabeça, seu olhar continuava fixo na carteira a sua frente, como se alguma resposta fosse saltar da madeira bem polida. A verdade era que toda a adrenalina que correra por seu corpo e o fizera se pronunciar minutos atrás já havia o deixado. Agora só restava um coração partido e uma mente confusa. Sentira-se bem ao prestar aquela homenagem ao Sr. Keating, pensando por si próprio uma última vez e indo contra o sistema que lhe era imposto.
Entretanto, agora que o professor se fora e ele e os demais membros da Sociedade dos Poetas Mortos foram retirados da sala e literalmente jogados em outra, não via sentido em se manter forte ou resistente. Estava acabado. Não existiam mais aulas com o Sr. Keating. Não havia mais poemas que instigavam o pensamento. Não havia mais a Sociedade dos Poetas Mortos. E não havia mais Neil Perry.
Todd deixou sua cabeça cair na mesa com um baque surdo ao se lembrar do amigo. Amigo. Porque não tivera coragem de se declarar. Porque toda vez que pensava em fazer isso e imaginava Neil não correspondendo aos seus sentimentos e se afastando, ele desistia. Porque todos os momentos que tivera com ele não eram o suficiente. Porque queria tê-lo beijado – o que nunca aconteceria, porque Neil estava morto.
Morto. Quantas vezes eles leram sobre a morte em poemas? Quantas vezes repetiram "Carpe Diem" declarando que não queriam sentir após a morte que não viveram? Se perguntava se Neil sentia que havia realmente aproveitado, aonde quer que ele estivesse. "Aproveitem o dia, garotos. Façam suas vidas serem extraordinárias", não fora isso que o Sr. Keating dissera? Mas como ele faria de sua vida extraordinária se a melhor coisa que já lhe ocorrera estava morta?
Neil Perry o fazia pensar, o fazia ter coragem. Por ele, Todd Anderson teria lido mil poemas para uma multidão e faria isso com um sorriso no rosto. Neil era luz, era felicidade e sorrisos fáceis. Então, porque tudo que Todd sentia agora era tristeza, solidão e um buraco negro o consumindo?
Escutou Charlie chamá-lo, mas ignorou e fechou os olhos. Diziam que um filme da sua vida passava diante de si quando estava prestes a morrer e, se isso fosse verdade, Todd estava morrendo naquele instante. Por de trás das suas pálpebras, um agridoce conjunto de momentos com Neil passou, desde quando o conhecera até o fúnebre enterro.
Lembrava-se de como estava assustado ao chegar à escola e de como Neil o recebera com um sorriso sincero, a covinha marcando a expressão feliz. Todd não era muito sociável e o outro percebeu isso, como sempre percebia qualquer coisa sobre o Anderson. Ele fez o máximo que pode para enturmá-lo, deixá-lo confortável e surpreendentemente conseguiu. Até mesmo quando Todd estava melancólico e solitário, como no seu aniversário, era Neil quem o resgatava daquele lugar escuro para o qual a sua mente o levava.
Mas Neil estava morto e a sua mente vivia nessa escuridão agora. Nunca mais veria o Petty encenar com aquela felicidade evidente nos olhos brilhantes e no sorriso maroto. Ele não se tornaria um grande ator e não realizaria todos os seus sonhos. O Carpe Diem de Neil Perry acabara rápido demais.
Será que ele faria tudo de novo se soubesse como terminaria? Todd podia apostar que sim, afinal Neil possuía paixão demais dentro de si. Ele era apaixonado pelo teatro, pela poesia e pela felicidade. Com sorte, também seria apaixonado por Todd – mas não importava mais.
Ao ouvir a porta bater com força, Todd levantou a cabeça. O Dr. Hager entrava na sala com uma pilha de papéis nas mãos e os jogava sobre as mesas dos ex-participantes da Sociedade dos Poetas Mortos.
"Vocês finalmente conseguiram ser expulsos da escola, não que isso deveria trazer algum orgulho a vocês." Ele dirigiu uma dose extra de desprezo para Todd quando passou por sua mesa. "Não serão ninguém e no futuro se arrependerão amargamente dessas escolhas.
"Mas nós já somos alguém." Charlie retrucou. "Alguém muito melhor do que o senhor."
"Quieto, Charlie."
"É Nuwanda para o senhor."
Aquela pequena rebeldia do amigo deu a Todd alguma esperança. Não sabia o que o impulsionava, mas assinou o documento e saiu da sala sem olhar para trás. Aquilo era o inferno e sentira-se liberto pela primeira vez. Honraria toda a luz que Neil Perry trouxera para o seu mundo e afugentaria a escuridão. Não importa quanto tempo isso levasse.
Chegando ao quarto que antes dividia com Neil, juntou rapidamente as suas coisas e em minutos já estava pronto para ir embora. Porém, antes de sair, pegou um caderno e se sentou na cama do amigo, sentindo a necessidade de começar algo ali. Sabia que era bom com as palavras, pelo menos quando precisava apenas colocá-las no papel. Decidiu que escreveria poesias com todas as palavras que jamais dissera para Neil e as publicaria, deixando o mundo conhecer o garoto doce e esperto que se fora rápido demais.
Pegando um lápis e olhando no quarto a sua volta mais uma vez, Todd Anderson começou a escrever.
Título: Carpe Diem
Dedicatória: para Neil Perry, por me ensinar a aproveitar o dia
Poema 1: Fugaz
Quão rápidos foram os momentos
Incontáveis sorrisos perdidos
Tudo se foi com você
E não tenho certeza se aproveitei
Porque no escuro da noite fria
No desespero das lágrimas derramadas
Tudo que consigo ouvir
É sua voz dizendo o meu nome
Sussurrando todas as esperanças perdidas
E me pedindo para aproveitar o dia
Carpe diem
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Carpe Diem
RomancePorque Todd Anderson não sabia aproveitar a vida agora que Neil Perry morrera e, de repente, "Carpe Diem" já não fazia mais sentido. *Após a cena final do filme*