Capítulo extra - Fuga

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Sakura Haruno

Não me considerava uma mulher forte, apenas cresci para parecer forte aos olhos daquela gente parada no tempo, na mesmice, em vidas paradas e alienadas em nome de um Rei que não parecia interessado no bem estar da população. Não fico triste por isso, apenas aceitei, assim como a vida de crescer com medo dos titãs.

Tive uma vida feliz ao lado de meus pais no interior da muralha Rose, meus irmãos se alistaram antes de mim, deixando minha mãe desgostosa e meu pai inconformado. Demorei pra entender as questões que se seguiram com a morte de ambos - tal como a de meus próprios pais, me deixando sozinha naquele mundo.

Perdi tudo no interior, meus pais, meus irmãos, minha casa, minha vida tranquila. Não deixei nada além de dor e sofrimento naqueles campos esverdeados e na casa rustica de madeira, banhada pelas lembranças felizes de uma família inexistente. 

Coloquei fogo naquelas lembranças e me alistei aos 22 anos. Uma menina para uns. Uma mulher feita para a maioria, com olhos sedentos e nenhuma cordialidade. Cresci no exército da muralha, me aperfeiçoando em tudo que poderia ser útil em minha vida, mas foi no campo médico que me destaquei de fato.

Não que a espada não fosse agradável em meus dedos, tirar a vida daqueles titãs imundos era uma satisfação aos meus olhos, era uma forma de vingar meus irmãos mais velhos, mas não era o que me fazia feliz. Na medicina encontrei meu lugar, ajudando quem dava seus corações para o avanço da humanidade, sendo um deles, meu ex-marido. Sasuke Uchiha.

Um homem de poucas palavras, mas que cativou meu coração apenas por ser quem ele era. Já fazia 5 anos.

- Dr. Sakura?_ Ane me encarava com um bisturi entre os dedos, tentando chamar minha atenção.

- Oh, certo, pare de me chamar, estou ouvindo _ suspiro, limpando os dedos de forma desenfreada, tirando o excesso de sangue com meus pensamentos ainda me torturando.

- Sei, a senhora parecia avoada _  reviro os olhos, encarando as safiras da ruiva, que fazia um bico, incomodada com minha falta de atenção.

- Se continuar me chamando de senhora vamos ter problemas _ minha voz saiu áspera, pegando a jovem cadete de surpresa - até mesmo a mim. Suspiro, negando com a cabeça cheia e pulsante, jogando o pano manchado de sangue na banqueta _ só limpe tudo por favor, estarei na minha sala, passe lá quando terminar tudo.

Tiro o avental encardido, deixando pendurado ao lado da porta dupla, ouvindo o som das solas de minhas botas de cano alto maltratando meu juízo. Minha cabeça pulsava por causa daquela voz fina de minha aluna, mas não era culpa dela. Hoje era o aniversário de meu marido.

Meu falecido marido.

Tinha todo o direito de estar estressada, era o dia que estava marcado no meu íntimo, nas noites mal dormidas pela dor do luto, ao fechar os olhos e lembrar daquela cena repetitiva de seu corpo desmembrado naquela carroça, me arrancando lágrimas grossas e soluços altos na calada da noite, sempre com a camisola ensopada de suor. Ino achava que aquilo tudo era falta de seguir em frente, de sair e dar uma boa volta com as amigas - sempre discutimos por causa da sua falta de sensibilidade, era incrível.

Depois do enterro, me afoguei no trabalho e na minha amargura. Meus sogros sempre gentis me visitavam uma vez por semana, todo mês, me trazendo doces de sua prestigiada padaria, assim como notícias quentinhas de Trost e de seu filho mais velho, Itachi Uchiha - meu antigo cunhado. Mikoto adorava engatar uma conversa comigo, me ajudando quando podia com as roupas de minha casa abandonada.

Aquela casa enorme, com um belo jardim seco e frívolo, comprada e almejada por mim e Sasuke quando mais novos. Tinha que vendê-la o quanto antes, ao menos pegava o dinheiro de volta. Ultimamente ter moedas em casa era extremamente necessário, com as constantes quebras nas muralhas, nunca se sabia por quanto tempo ficaria num único lugar, o que fazia a ideia de ter uma casa daquele tamanho uma perda de tempo - mesmo que ela representasse um começo de um capítulo que nunca aconteceu. Chegava a ser engraçado, de uma maneira meio mórbida, mas era o modo de como lidava com aquela parte da minha vida. 

Aos teus olhos - LeviXSakuraOnde histórias criam vida. Descubra agora