Além Mar

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A caverna estava fria.

Úmida.              

E vazia.

Entro e me desloco até o ponto mais profundo.

Minha respiração ofegante contrasta com o som da água escorrendo pelas paredes da gruta.

Penso. Ele está vindo.

As lágrimas se misturam com o suor do meu rosto.

Eu choro.

Qualquer um choraria se estivesse em minha situação.

Ele está lá fora a minha procura e não sei durante quanto tempo mais aguentarei me esconder. Minhas pernas doem, meus braços estão cortados devido as diversas quedas sofridas, minha roupa se esfacelou e a água do mar a inundou de forma incontestável.

Lembro do meu pai e de sua luta para me salvar.

Condeno-me por ter proposto aquela viagem insana. O que eu estava procurando? O que eu pretendia encontrar?

- As Bahamas são um ótimo lugar para navegar, meu filho - ele me disse na noite anterior.

Mas eu o ignorei, eu queria ir mais longe, queria ir além mar, cruzar o horizonte e ter histórias fantásticas para contar.

- Quero ir ao Triângulo das Bermudas - disse a ele.

Ele me olhou torto. Não parecia certo de que aquilo fosse realmente uma boa ideia.

E não era.

O Triângulo das Bermudas é o local mais enigmático dos oceanos, onde diversas embarcações sumiram sem deixar rastros e nunca mais foram encontradas. Pelo menos era isso que dizia a lenda.

E ele tentou me alertar sobre este fato.

Logicamente eu já conhecia essa história. Foi justamente por isso que escolhi esse lugar.

Implorei para ir.

E diante de uma única condição ele permitiu.

Ele iria junto.

Se alguém poderia sobreviver navegando naquelas águas, esse alguém era o meu pai. Não tinha dúvidas.

O problema é que até hoje ninguém nunca sobreviveu.

Partimos ao amanhecer. - Pensando nisso agora até parece que faz vários dias que isso aconteceu, mas não faz. Isto aconteceu hoje de manhã.

O mar não estava agitado, de forma que fiquei, até certo ponto, desapontado.

Nenhuma onda, nenhum redemoinho.

Não sei o que eu esperava. Talvez um ciclone como aconteceu com a Dorothy do Mágico de Oz. Algo assim. Algo que pudesse impressionar meus colegas quando voltássemos das férias.

Mas nada parecia acontecer.

Permaneci sentado na proa do barco. Calado. Fitando meus pés.

Meu pai manobrava a embarcação desordenadamente de propósito, intuindo que as oscilações ocasionadas pelas manobras mal feitas fossem me animar.

Mas ele estava enganado.

O sol subia e o mar se tornava cada vez mais calmo.

Estávamos navegando há horas e não se via mais nada além do horizonte.

Estávamos sós.

Eu, meu pai e o mar, como tantas outras vezes havia acontecido.

Permaneci mudo até certo ponto. Quando ele finalmente quebrou o silêncio.

Coisas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora