"...Hey, Jude, não fique mal..."
- Será que você poderia baixar esse som e ir mais devagar?
"...Pegue uma música triste e torne-a melhor!..."
- É sério, você vai acabar nos matando.
Então finalmente ele baixou o som do toca fitas.
Era uma noite quente de setembro, o céu bem estrelado permanecia sem lua.
- É a Lua negra - disse a ele.
Mas ele pouco se interessou por aquele fato astronômico. Acelerou o Mustang Shelby 67 do meu pai, baixando os vidros e deixando que o vento fresco refrescasse o nosso rosto.
- Melhorou? - ele me perguntou sob um sorriso sacana.
E eu assenti.
Bob. Esse era seu nome. Pergunto-me como não pude esquecer um nome tão estúpido como esse, mas sinceramente isso não importa, afinal, o que faríamos não dependia de apresentações. Ele era um homem franzino, no entanto de boa aparência, era loiro de olhos claros, e mantinha sempre um cigarro pendurado no canto da boca. Estava vestindo calças justas e uma camiseta branca com as mangas dobradas.
Bob.
Eu o tinha conhecido naquela noite. Encostei o Mustang em um pub perto da minha casa, mas ao invés de entrar no local fiquei apenas escorada no carro.
Esperando.
Cinco minutos depois fui rodeada pelo grupo dele. Três homens com cervejas nas mãos e um incontrolável desejo dentro das calças.
Bob.
Era o menor deles. Ele me fitou e desviou os olhos para o chão. Sua confiança não existia perto daqueles brutamontes que possuíam o dobro do seu tamanho.
- Belo carro - disse o maior que parecia ser o chefe do bando -, por que uma menina tão linda quanto você está sozinha aqui fora?
Ignorei-o.
Era o Bob que me interessava. Seu corpo esguio e seu olhar desconcertado.
- Sou Judy - disse olhando para ele.
- Jude? - ele perguntou.
- Judy - confirmei.
- Bob - respondeu envergonhado estendendo a mão para mim.
Não falei mais nada. Joguei minhas chaves em sua direção informando que ele seria o motorista da noite, e ele, Seguindo os incentivos exaltados dos companheiros, entrou no carro.
Dentro do Mustang e longe de seus amigos babacas, Bob era outra pessoa. Confiante. Dirigia recostado e com o braço para fora da janela. Poucos quilômetros a frente ele já estava acima do limite de velocidade e com o som nas alturas.
- Que tipo de mente doentia grava uma fita com apenas uma musica repetidas vezes? - dizia ele indignado. - Nem Os Beatles devem gostar tanto dela assim.
Respondi que havia sido um presente do meu pai, e que por ter sido meu primeiro cassete, eu o adorava.
Ele me olhou como se eu fosse louca. Sorriu, e voltou os olhos para estrada.
- Para onde estamos indo?
- Para longe - respondi.
Eu podia quase sentir o cheiro da sua excitação.
A noite se estendeu, assim como o calor que ela trouxe. Eu estava de cabelos presos em um coque atrás da cabeça, para isso meu prendedor em forma de estaca me servia muito bem, além de combinar com meu visual gótico.
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Coisas Ruins
HorrorCoisas Ruins é uma coletânea de contos nos variados sub-gêneros do terror (psicológico, pós-traumático...). Essa seleção reúne as mais diversas pertubações mentais em textos curtos e dinâmicos, que levam o leitor ao "delírio literário". Leia no si...