Capítulo 1

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Roseburg, Oregon 1990

         Ouvi um barulho estranho; umas batidas. Algumas fortes, outras fracas. Olhei para porta do meu quarto e uma luz do lado de fora estava acesa, vi uma sombra passar e cobri-me rapidamente. Alguém abriu a porta e logo a fechou.

         Tirei as coberta, peguei meu ursinho Fred e fui até a porta. O silêncio fazia o casarão ainda mais tenebroso, já não gostava dele de dia, mas a noite era bem pior. Ouvia barulhos estranhos, portas rangendo, janelas batendo e muitas vezes os cachorros dos vizinhos latiam a noite toda, o que me fazia ficar mais apavorada.

         Girei a maçaneta e fitei o enorme corredor; não havia luzes acesas na direção do quarto de meus pais, mas um pequeno abajur posto em uma mesinha perto do começo da escada estava aceso; papai só o acendia quando saia ás pressas para averiguar os arredores da casa. Fui até a ponta da escada e fitei a escuridão lá embaixo. Quando ponho os pés no primeiro degrau para descer, ouço um barulho, parecia vir do quarto de meus pais, já que; só nós três morávamos na casa, os únicos quartos ocupados, era o de meus pais e o meu.

         Andei lentamente agarrada a Fred, que servia como um escudo. Quanto mais me aproximava do quarto, mais a batida ficava forte. Quando cheguei á porta e pus a mão na maçaneta, o barulho cessou.

          - Mamãe? – disse entrando no quarto escuro.

         A escuridão e o silêncio eram predominantes no ambiente, nem um resquício de luminosidade fazia presente. Aproximei-me da cama de meus pais e vi uma silhueta acentuada pela pequena luz da lua escondida entre nuvens. A silhueta estava curvada, parecia está agarrada á algo ou alguém.

         - Papai – tornei a chamar. A silhueta tornou para mim e seus olhos brilhavam como brasa, parecia queimar.

     - Está tudo bem – respondeu papai – vai ficar tudo bem querida.

         Papai puxou-me contra si, fazendo Fred cair. Ele abraçou-me forte, fiquei de frente para a cena que mudaria toda minha vida, algo que nada seria capaz de apagar, e apesar de ter apenas cincos anos de idade, sabia que aquilo era algo muito ruim, que aquilo nunca mais sairia de minha mente.

         Mamãe estava deitada na cama suja de um liquido vermelho, que logo descobri o que era; sangue. Soube que era sangue, pois papai adorava caçar e desde os meus dois anos, ele sempre me levará comigo e como sempre papai dissera “ela não é como as outras garotas, ela é especial”, sempre fui desenrolada e muito astuta; comecei a andar com menos de um ano e a ler aos quatro, sabia mais do que ninguém que minha mãe estava morta.

         Seu ferimento era nítido, tanto pelo tamanho, quanto pelo tanto de sangue que tinha em suas roupas e lençóis. Sua garganta estava cortada profundamente.

         - O que aconteceu com a mamãe? – indaguei ainda olhando para seu corpo e abraçada a papai.

        - Um monstro entrou aqui e fez isso com mamãe – respondeu ofegante e chorando.

             - Ela morreu?

         Papai apenas colocou-me no chão de frente para ele.

       - Vai ficar tudo bem querida – disse com um sorriso enganador – papai está aqui.

         Ele pegou Fred e a mim e nos pôs nos braços, levando-nos para longe de mamãe, que por um remoto momento tive a sensação de me chamar.

         A porta bateu atrás de nós ao sairmos do quarto. Papai levou-me de volta para meu quarto e enrolou-me aconchegadamente e pôs Fred pertinho de mim.

         - Papai está aqui – disse passando a mão em minha testa e correndo para os cabelos – papai sempre estará aqui com você Savana.

         Deu-me um beijo de boa noite e saiu. Virei para a janela, onde a luminosidade da lua era nítida, ela saíra de trás das nuvens, onde estava escondida. Adorava a noite, sentia uma ligação muito forte com ela, mas principalmente com sua regente, a lua. Havia algo nela que me fascinava, era seu brilho, seu tamanho, os mitos em torno de sua existência, tudo me fascinava; por vezes tinha a sensação de que ela me vigiava e que se eu olhava diretamente para ela, por um longo tempo, conseguia ver olhos brilhantes e vorazes voltados pra mim.

         Olhando para ela, meus olhos começaram a pesar, comecei a sentir o sono chegar cada vez mais, como uma onda que aos poucos, sem você perceber, vai ti levando pra longe e pra longe, até você se perder e não conseguir enxergar a terra. Adormeci com o silencio pairando na casa e com Fred em meus braços, por um breve momento ouvi o que parecia um uivado, mas o sono não me permitiu nada alem de fechar meus olhos e adormecer.

A Fera da Meia NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora