O começo do fim.

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03/09/2021

Sabe aquele dia em que você não quer levantar da cama? O peso que você carrega tá pesado demais e a única coisa que você quer fazer é não existir. Literalmente não existir. Veja bem, não é morrer. Eu não queria morrer naquela sexta. Eu queria não existir, não queria sentir nada, queria virar uma bola e sumir. Até eu me sentir bem de novo e poder tocar com a vida. Mas a vida não é assim, né? Não tem pause essa merda, você tá jogando direto até o game over, se a fase tá difícil você tem que continuar assim como se fosse a fase boa. 

Você pode estar se perguntando o que deixou uma mulher de vinte e quatro anos desse jeito. Meu psicólogo generalizou uma vez que as pessoas sofrem constantemente por dois fatores na vida: amor e dinheiro. E o resto se desdobra desses dois. Eu não sou rica, nem consegui sair da casa dos meus pais ainda, ainda estou me formando na faculdade, trabalho em um colégio e pra fechar não ganho tão bem. E apesar disso me gerar uma grande insatisfação pessoal, não era por dinheiro que eu estava na merda. Era por amor, óbvio. Melhor, por um possível desamor.

"Me conta o que vocês conversaram, amiga." era a mensagem que meu celular mostrava naquela manhã. Era cedo, minha primeira turma começa oito horas, então possivelmente deveriam ser umas sete naquele momento. Eu tinha dormido pessimamente, estava com dor de cabeça e os olhos inchados pelo choro da noite anterior. "A gente não conversou nada, ela disse que por ela terminava pois não sabe se a gente voltaria a ser o que era antes, ela não é mais aquela pessoa e que estava esgotada". Lembro de ter digitado algo nessas linhas pras minhas três melhores amigas, Dinah, Normani e Ally. "Disse que ia pensar melhor e que hoje conversaríamos, acho que estou solteira, mas queria conversar com ela pessoalmente". Enviar, bloquear celular. Sem mensagens de bom dia dela. Naquele dia eu não mandei, não queria parecer inconveniente. 

Levantar da cama foi extremamente custoso, o meu nível de ansiedade estava nas alturas. Terminar é uma grande merda, mas os momentos antes de terminar conseguem ser levemente pior pois não saber o que a outra pessoa vai decidir - e essa decisão mexe com a sua vida, seu presente e futuro - é desesperador. Ainda mais quando uma das possibilidades vai te deixar arrasada e é essa a que tem maior chances de ser tomada.  Mas a vida é assim, suas obrigações não se importam com o seu estado ou com o que está ocorrendo, eu nem sou formada, nem podia estar trabalhando, não podia me dar ao luxo de faltar porque meu coração estava prestes a ser mais quebrado. De novo. 

E a manhã se passou lentamente, de forma torturante. Explicar sobre ligações químicas, funções orgânicas e termoquímica me parecia algo intragável e olha que eu sempre amei ser professora de Química, era meu sonho desde que eu tinha uns quinze anos. Mas não tava dando, dentro do meu peito eu sentia que eu tinha a porra de um buraco negro sugando toda a minha energia vital. Dramática, talvez. Ela me falava muito isso. Mas eu estava me sentindo exatamente assim, sem forças. 

Eu só queria sumir.

EU.

SÓ.

QUERIA.

SUMIR.

Não lembro exatamente se ela me deu bom dia ou se eu cedi, mas num dado momento a gente conversou. "Lauren, você decidiu o que quer fazer? Conseguiu pensar?" enviei pra ela. E aí a sensação do buraco negro aumentou, obviamente. Porque é claro que ela não ia responder na hora. E aí foram mais turmas tendo aula com uma professora sem condição nenhuma de estar ali, minha cabeça estava em outro lugar. E o tempo foi passando.

Desamor: Quando a Química acaba.Onde histórias criam vida. Descubra agora