1. Foi assim... Como ver o mar.

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05/07/2017

Eu confesso que não vou me lembrar bem devido ao tempo que passou, mas de uma coisa nunca esqueço: estava na casa da minha avó, sentada na sala e era um dia muito ensolarado quando eu recebi aquela mensagem no WhatsApp.

"Você pode substituir o Carlinhos pra mim, Camila? Ele passou num concurso e vai precisar sair urgente. É pra semana que vem."

Quem me mandou isso foi o diretor da escola onde eu dava monitoria de Química e era Professora do Pré-Vestibular que eles ofereciam. Meu coração estava saindo pela boca. Eu? Professora de escola? Era meu sonho desde que eu entrei no ensino médio. E obviamente eu aceitei, na minha cabeça eu vinha sonhando com esse momento desde que eu comecei a dar as monitorias.  Deixa eu explicar. Aos 17 anos, eu fazia esse mesmo pré onde eu trabalho e um professor contou pro diretor que eu tinha jeito dando aula. Na verdade ele me gravou explicando pra alguns amigos alguns conceitos de Química. E aí, fui chamada pra dar monitoria. Eu estava na escola ainda, mas aceitei. E que bom. Porque 2 anos depois eu comecei a dar aula no pré-vestibular, com apenas 19 anos. E nesse dia que vos conto, recebi finalmente a mensagem pra assumir as turmas do ensino médio, aos 20.

Não era uma simples substituição, mas sim definitiva, pois ao assumir o concurso o professor não poderia continuar mais trabalhando lá. Ou seja, o sonho finalmente estava se realizando. Meu primeiro emprego como professora de ensino médio. Olhando pra trás eu acho meu chefe maluco. Mas confesso que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Saí feliz da vida e contei pros meus pais e pros meus avós que eu começaria a trabalhar e eles ficaram muito felizes por mim, apenas preocupados que eu me enrolaria com a faculdade.

Mas eles deveriam ter se preocupado com outra coisa. Eu devia ter me preocupado com outra coisa. Eu tinha apenas 20 anos, mas com uma cabeça de 17, essa era a verdade. Muito ingênua pra muitas coisas. Inclusive com o que a dinâmica de poder que acontece entre professor e aluna pode acarretar. Mesmo que inconscientemente. Bem, no meu caso foi Professora e aluna.

Eu lembro como se fosse ontem a primeira vez que eu a vi. Eu cheguei pra dar aula na semana seguinte e a primeira turma era a dela. O segundo ano A da escola. Estava nervosa, mas extremamente feliz. E arrumada. Deixe te falar, eu tenho uma coisa muita positiva, não aparento a idade que tenho. Se eu tinha 20 na época, além da cabeça eu tinha cara de 17. Então vesti uma calça jeans apertada e uma blusa social azul, junto de um scarpin preto. Na boca, batom vermelho. Pronto. Pelo menos parecia que eu era um pouquinho mais velha. Na minha cabeça, eu digo. Porque quando eu cheguei na sala e os alunos me viram a primeira coisa que fizeram foi perguntar minha idade.

"Quantos anos vocês acham que eu tenho?" Respondi enquanto colocava minha pasta em cima da mesa.

"Hmm, 19?" Uma menina chutou.

Dei uma leve risada. "Quase. Tenho 20."

"Mas você pode dar aula? Não se formou ainda né?" Outra falou.

"A questão é que é difícil encontrar professor bom de Química..." Tive que tentar desconversar, né? "E eu já estava aqui na escola como monitora, inclusivr vejo alguns rostos conhecidos!" Eu sorri enquanto olhava de fato alguns alunos que iam na minha monitoria.

Até que meu sorriso aumentou quando meus olhos se encontraram com os dela. E aí eu senti meu coração fazer alguma coisa que não sei explicar até hoje, tantos e tantos anos depois. Não era aquele clichê de acelera. Não era isso. Não era perder o ar, apesar de que, depois, ela me arrancaria muitos suspiros sim. E gemidos. Mas isso vocês vão ainda vão me ouvir contando. Era como se eu estivesse destinada a encontrar aquela menina, eu juro por Deus. Cada átomo do meu corpo implorava pra eu simplesmente conhecer mais dela. Eu queria sentar na frente dela e ouvir ela me falar da vida dela. Queria saber o nome, o que queria fazer no vestibular e se ela acreditava em alienígenas. Queria saber se ela me deixava entrar na vida dela. E eu juro, isso com uma porra de olhar.

O que estava acontecendo?
Bom, até hoje eu não sei. Não era amor. Não acredito em amor em primeira vista e eu vou explicar o porquê enquanto vocês vão conhecendo minha história. Mas em paixão? Encontro de almas? Mesmo que não fossem pra ficar juntas pra sempre? Ah, acho que depois desse dia eu passei a acreditar. Porque como diz a música: foi assim, como ver o mar... a primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar. E quer saber, foi mesmo.

A aula transcorreu normalmente, pois apesar de ser uma romântica incorrigível, modéstia a parte eu sou uma profissional bem competente e apaixonada por lecionar. Até que chegou a hora de fazer a chamada. Como a turma era nova, eu fiz de maneira mais calma, olhando um por um que respondia.

"Alex?"
"Presente!"
"Alessandra?"
"Presente!"

...

"Bruna?"
"Oi!"
"Bernardo?"
"Aqui!"
"Cecília?"
"Eu!"

...

"Lauren?"
"Oi. Presente!"

Bum.
Lauren.

Então era esse o nome da dona dos olhos que continham o oceano dentro. Aquele dia estavam mais azuis, mas eu aprendi com o tempo que na maior parte eles eram verdes. E aprendi a ler o que as ondas tempestuosas escritas naquele verde me diziam conforme mudavam de cor. Aprendi a navegar no meu mar particular, só não contava que uma hora eu ia me afogar.

Lauren.

E toda vez que ela me olhava, eu sentia que tinha alguma coisa ali que me atraia mais do que a beleza inegável. Era como se cada molécula aqui dentro de mim me dissesse que aquela menina de 16 anos possivelmente ia ser minha. Era como se eu soubesse que a gente tinha algo pra viver. A aula acabou e eu fui pra casa me sentindo muito contente pelo primeiro dia. As outras turmas também foram boas e eu tinha achado um colírio pros meus olhos. Curioso que isso nunca havia me acontecido antes. Eu já trabalhava tinha 3 anos e eu nunca tinha me interessado minimamente por nenhuma aluna. E como a minha idade não tinha tanta diferença pra deles, eu não achava o fim do junto. Podem me julgar, eu deixo.

"Gente, eu tenho uma aluna que eu acho que com crush." Mandei no grupo de WhatsApp com Ally, Mani e Dinah.
Não estranhem os nomes, eram apenas apelidos. Ally era de Alicia, Mani de Manuela - que não queria ser chamada de Manu - e Dinah era esse o nome mesmo, ela tinha que conversar com a mãe pra saber porque essa escolha.

Enquanto esperava a resposta, fui tentar achar a Lauren no Facebook. E achei.
"Lauren Jauregui"
Que porra de nome estranho, né? Eu pensei isso também. Até que ela me contou depois que os avós eram descendentes de cubanos.
"Em um relacionamento sério com Luiz Alberto".

É.  É  isso mesmo que vocês leram. Na hora eu murchei completamente. Não é possível que eu não iria viver tudo que eu senti quando olhei pra ela. Não é possível que ela é hetero. Sou tão azarada?

E daí começou minha saga de desencantar da Lauren.

Uma história que começa assim não tinha como terminar bem mesmo. Né?

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⏰ Última atualização: Sep 18, 2023 ⏰

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Desamor: Quando a Química acaba.Onde histórias criam vida. Descubra agora