Meu oceano

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A energia caótica e infindável da minha própria mente me afoga, como se estivesse mergulhada num oceano escuro, cada vez mais fundo, com a pressão aumentando, meus pulmões doem, esmagados e sem ar, eu tento nadar pra cima mas não consigo, meus movimentos são letárgicos, meus membros pesam como dois sacos de areia molhada. Nem sempre esse sentimento é tão desesperador quanto parece, depois de um tempo dá pra se acostumar. E por não conseguir nadar, desisto, apenas me afundo mais sentindo a falta de ar me abater um pouco mais em mais uma madrugada de insônia, de pensamentos acelerados, refletindo sobre mim mesma, em retrospectiva tentando entender como foi que me tornei assim.
É traço de personalidade? É trauma? É parte de crescer?
Só sei que é ruim!
Seria bom poder voltar a ser o que eu era, mesmo que tivesse que voltar no tempo, era um tempo bem melhor de qualquer forma, voltar para uma chácara perto do lago, onde minha maior preocupação era meia página de dever de casa. Podia passar o dia brincando, com minhas bonecas, meus vestidos e meus 10 cachorros. Naquele tempo eu era bem mais serena, não me irritava com facilidade, nem se por acidente quebrassem meu novo brinquedo. Corria pelo sol apenas porque era divertido, e o sol me aquecia, me bronzeava, e ao fim do dia, eu assistia o por do sol admirando suas cores sobre o campo até ouvir o grito de minha mãe, chamando-me pra comer minha torrada e tomar achocolatado. E até hoje minha refeição é essa, não me venha com café, eca!
Hoje com minha xícara de achocolatado na mão, não enxergo mais tão bem o por do sol, tem prédios tapando. Ainda moro com minha mãe, mas não vivemos mais naquela chácara, nem quero mais voltar lá, pois sentiria de novo que não tenho um lugar no mundo.
Era de se esperar que não tivesse mais o tempo disponível de criança, mas e quanto as alegrias?
A minha serenidade se foi, a calmaria de águas cristalinas pela qual eu navegava se transformou num mar revolto, tempestuoso, escuro, até formar ondas gigantes e me engolir, junto com a embarcação de minha inocência infantil, me puxando para o fundo.
Conhecer algumas das mazelas da vida ainda em terna idade é em certo ponto educativo, em contrapartida é muito traumático, por isso me pergunto se certas coisas são resultados de traumas ou não, como minha irritabilidade frequente e extrema, nem parece a mesma criança. Será que são apenas os hormônios da adolescência?
Só sei que é cansativo, é algo ruim que está comigo, mas sinto que não faz parte de mim, não é minha essência, então porque ajo assim? Ah, é mesmo, olha alí o bullying da escola, a morte do meu pai e mais algumas situações me dando oi. Que m3rd4!
Tão jovem e tão cansada.
Em que momento aquela criancinha estudiosa e de notas altas se tornou uma jovem adulta desmotivada se sentindo fracassada? Tenho perspectiva mas me falta esperança, vivo constantemente a procura de um propósito na vida.
Eu só queria que a vida tivesse um botão de "stop". Apenas pra poder dar uma pausa, afinal não quero dar um fim na minha vida (não mais), só quero dormir e acordar sem me sentir cansada, descansar da minha mente, poder parar meus pensamentos acelerados, fobias, irritabilidade extrema.
Se eu pudesse criar um algoritmo pra me reconfigurar, voltaria a configuração inicial, quase um reset, excluiria o caos, recolocaria a serenidade, a felicidade despreocupada, só deixaria de fora a ingenuidade, pq essa (n importa a circunstância) é sempre dolorida de perder, não quero que doa de novo. Quem sabe eu levaria a vida mais leve e com bem menos surtos se tivesse a plenitude de meus 6 anos no corpo de 18.
Mas infelizmente meu software não faz isso, e sinceramente, minhas habilidades nessa matéria são no máximo medianas.

No fim o único que ganha com isso é meu terapeuta.

Talvez eu passe o resto da vida tendo saudades de mim mesma.

Ou talvez eu seja só uma adolescente insuportávelmente melodramática, com uma longa ladainha saudosista que não me levará a nenhum lugar em mais uma aleatória  madrugada de insônia.

Caos e sereninadeOnde histórias criam vida. Descubra agora