Capítulo III: O Dia Antes da Noite

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Lua de Sangue

O brilho da lua é naturalmente fantasmagórico. Ele atrai o que há de mais obscuro na mente, desejos sombrios, o medo do que pode ou não estar lá. Ela pode enlouquecer o mais são dos homens. Sempre está a espreita esperando, sempre esperando. "Deixe-me entrar". A noite é o palco e ela o holofote. "Deixe-me entrar".

Em noites assim, o inferno invade a terra e as coisas mais terríveis tomam formam e caminham sobre a superfície. Pesadelos vivos e reais que procuram por portas destrancadas, janelas abertas e sonos profundos.

As vezes os encontram.

E a luz da lua, pálida e fria, se transforma em luz quente e carmesim. Uma grande rosa desabricha ao som de gritos e ossos quebrando.

"Deixe-nos entrar".




O farfalhar de asas noturnas rompeu a quietudo da noite. Centenas de olhos cegos tomavam o céu em busca de...algo

Vasculhavam árvores, grutas e arbustos. Qualquer coisa que se mexesse teria atenção constante dos passarinhos noturnos de Syla. Claro, eles faziam basicamente isso toda noite, era a hora de se alimentar, mas as vezes ela gosta de "voar" com eles. E tudo que eles vêm, ela vê. Cada pedra, cada mariposa, cada raposa esguia, cada rato medroso. Eles viam, ela via. Graças a seus poderes mágicos, Syla tinha olhos na água, terra e agora ar. Gostava da sensação de ser onipresente. Não havia local na área da Floresta Negra que não conhecesse de alguma forma. E muitas vezes ia além.

Certa vez controlou um coruja. Era ao mesmo tempo mais simples e mais complicado do que controlar um "enxame" de mamíferos viadores, já que só precisava se concentrar em apenas um animal, no entanto o controle era quase que completo. Aqueles morcegos ainda tem vontade própria, ainda se alimentam quando querem, bebem água e voam a altura e a velocidade que lhes convém, Syla só lhes da "sugestões" de onde ir. Mas a coruja...esta foi quase que completamente subjulgada. Um vassalo vazio como gostava de se referir. Ela a controlou e a fez sobrevoar a cidade mais próxima da Floresta. Com menos de 500 habitantes, era mais aldeia do que cidade. E por mais que fosse simples e pobre, era bela. Suas casas eram em grande maioria feitas apenas de madeira, espalhadas por todo território da cidade. O todo o comércio se encontrava na mesma rua e sempre estava movimentado, até a noite. Ferreiros e boticários dividiam a mesma varanda. Médicos, curandeiros e templos pareciam ser a mesma coisa por ali.

O charme, Syla constatou, estava na praça central. Um pequeno monumento foi erguido no meio de um gramado que sempre estava verde. "Magia" pensou. Mesmo a noite, aquele lugar parecia iluminado. Via crianças brincando alí mesmo quando a lua já estava bem no alto. Adultos caminhavam voltando de mais um dia de trabalho. Pessoas viviam ali e pareciam...felizes.

Nojentas e felizes.

Mesmo com o asco que nutria pelos humanos, a cecaelia ainda se via curiosa. Seus hábitos, por mais mundanos que fossem, ainda eram chamativos. Como contar histórias em fogueiras enquanto comiam batatas doce, maçãs assadas com açúcar, mesmo no frio! E, em noites como aquela, quando o amigo estava em missão ou quando não queria ficar por perto...ela se pegava enfeitiçando uma pequena coruja e saia para observar os nojentos.

Mas não

Não dessa vez.

Essa não era uma noite igual àquelas. Seu ogro estava em missão e ela também. Precisava encontrar o que entrou em sua floresta. O que quer que fosse. Não queria nada monstruoso vagando por aquelas bandas. Monstros convidam aventureiros. E aventureiros convidam guerreiros. E guerreiros trazem morte. Não importa o que fosse, Syla descobriria o que era. E se fosse algo ruim para seus domínios, seria retirado daquele lugar.

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⏰ Última atualização: Jul 07, 2023 ⏰

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