Capítulo 1.

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The Night We Met - Lord Huron.

Presente.

Não consigo acreditar que Nanda finalmente me convenceu a fazer isso.
Seguro na barra de metal do metrô, ponderando se devo ou não devo ir.
— Já estou na metade do caminho, de qualquer forma - falo comigo mesma. Percebo pelo canto do olho, uma mulher sentada no banco do metrô me olhando com cara de confusão.
— Está com algum problema? - pergunto.
Ela vira o rosto e começa a folhear uma revista, fingindo que não me ouviu.
Reviro os olhos. Não consigo ter paciência com ninguém ultimamente, não que eu me importe com isso.

Quinze minutos depois, cá estou eu indo onde jurei que nunca iria.
Olho o Google Maps e o papel amassado que Nanda me deu para conferir as informações, depois olho para a rua para ver para qual lado eu devo ir.
"15 minutos andando"- bufo, mal humorada.
"Vai, vai ser bom para você! Você vai ver!" A voz de Nanda surge em minha cabeça, me incentivando a continuar.

Andar por longos trajetos na rua é algo que não faço desde o acidente.
Me incomoda ver pessoas felizes, andando de mãos dadas com seus parceiros, sorrindo para a vida como se a vida fosse bonita.
A vida é uma droga. É sobre confusão, mágoas e traições. Quem não vê isso está cego, fadado ao sofrimento - ou a escuridão.
Uma notificação do Google Maps me pede para virar à direita e eu viro, ainda olhando para o celular.
Uma criança bate em mim, distraída com sua casquinha de três bolas de sorvete e suja minha calça com calda de morango.
— Me desculpe! - uma mulher aparece, puxando a criança pelos ombros. — Minha irmãzinha é muito estabanada. Peça desculpas a moça. - ela diz, olhando para a irmã.
Eu olho para a criança.
— Me desculpa - ela diz, dando uma línguada no sorvete.
Forço um meio sorriso.
— Tudo bem, não se preocupe.
A irmã mais velha sorri em resposta e puxa a pequena para que elas continuem andando. Fico parada no mesmo lugar, observando-as ir embora e ouvindo as risadas que ambas dão pelo caminho, vendo suas mãos entrelaçadas.
Fico encarando aquela cena pelo que parece muitos minutos, até outra notificação do Google Maps me tirar do transe.
"Em 200 metros, vire à direita", a notificação diz.
— Eu já entendi - suspiro.
Volto a olhar para onde as duas irmãs estavam, mas já as perdi de vista.
"Em 200 metros, vire à direita", escuto novamente. Fecho os olhos com força, massageando a testa para aliviar a tensão.
— Você me paga por isso, Nanda. - exclamo, mesmo sabendo que ela não vai ouvir.

🦋

Estou parada na frente de uma casa grande de dois andares.
Na parte da frente, observo um pequeno jardim organizado: grama aparada com algumas flores se destacando, vermelhas, amarelas e azuis. Fico encarando uma flor azul e me aproximo para toca-la. Ao lado das flores, em baixo de uma pequena árvore com sombra, vejo um cachorrinho deitado, com os olhos semicerrados. Sua barriga está para cima e ele suspira forte, de tempos em tempos, consigo escutar um ronco leve vindo dele.
Do outro lado do jardim existe uma pequena mesa com duas cadeiras, ambas de cores brancas. A forma como todo o jardim parece ter sido planejado para transmitir uma paz e neutralidade me incomoda, me dá uma sensação de desconforto. Repenso pela quinta vez no dia se eu realmente devia estar aqui.

Olho para a entrada da casa e suspiro.
Você vai adorar isso. - Isabella me diz.
Instantaneamente, o meu humor muda. Toda vez que Bella fala comigo é como se ficasse mais fácil de respirar.
"Você tem certeza?" - pergunto.
Você vai. Anda, entra logo. - ela responde.
Tomando o impulso de coragem que eu precisava, subo os três degraus da entrada e fico de frente para a campainha.

"Pois não?" - a voz ressoa por um pequeno alto falante.
"Oi." - pigarreio. "Eu tenho uma consulta marcada com Abigail."
"Claro", - a moça diz. "Qual o seu nome?"
"Alessia, Alessia Gringer."
Escuto um barulho de trinca e percebo que é a porta se destrancando.
"Pode entrar, Alessia. Segunda porta à esquerda."

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