Capítulo 4

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Caminhamos vagarosamente pelos corredores do palácio. Primeiro porque é tão difícil ver quietude neles que quando esses raros momentos acontecem é preciso apreciá-los. Segundo porque quero dar tempo para que Mary providencie o que pedi. Enquanto caminhamos, absorvo cada perfume que exala de Maxon, sinto seu calor irradiando até mim, e percebo que ele começa a relaxar.
— Posso saber aonde estamos indo?
— Nada de extraordinário, apenas uma ideia que tive. Não seja curioso! - sorrio.
—Não estou sendo curioso - diz e percebo que ele não está sendo sincero. Posso ver a curiosidade em seus olhos.
— E o que seria?
Maxon reflete por uma fração de segundos e com um sorriso se alargando no rosto diz:
— Medo. Ainda tenho um pouco de medo das suas ideias, minha querida - graceja - Geralmente elas acabam em encrenca!
Eu solto seu braço e lanço a ele um olhar de desaprovação e vejo seu sorriso se alargar ainda mais.
— Venha aqui, só fiz uma brincadeira - ele estende a mão para me alcançar.
Desvio do seu toque e enquanto um sorriso travesso surge em meus lábios lhe desafio:
— Pegue-me se puder!
Começo a correr pelos corredores do palácio enquanto Maxon tenta me alcançar. Gargalhadas irrompem de nós dois. Desço as escadas tropeçando na tapeçaria enquanto tento me desviar de Maxon que está cada vez mais próximo. Viro a direita rapidamente, sabendo que estamos quase chegando ao destino que planejei e esbarro em um arranjo de flores sobre uma coluna que se despedaça no chão refreando o sorriso em meu rosto. Paro assustada olhando para Maxon que me encara assustado também.
— América, você se machucou? - Diz enquanto corre em minha direção, me inspecionando preocupado.
— Não, mas acho que causei um belo estrago, olhe - aponto para o arranjo despedaçado ao chão.
Ele olha para o que restou do arranjo e volta a me encarar. Ficamos assim por uma fração de segundos e desvio meus olhos para os pés.
-- Bela atitude para os soberanos deste reino. - diz
Levanto os olhos e vejo um sorriso tentando lutar inutilmente contra o rosto ainda sério de Maxon. Quando nossos olhos se encontram, irrompemos numa gargalhada alta e prazerosa e ouço alguns cochichos dos guardas que estão ao lado da porta que dá acesso ao jardim.
—Acredito que nosso passeio tem como ponto final o jardim - Maxon diz enquanto enlaça meu braço no seu e caminhamos para o ar fresco do lado de fora do palácio.
Fez- se um silêncio agradável enquanto nós caminhávamos de encontro ao banquete disposto sobre uma toalha bem no centro do jardim. Mary foi muito ágil quando pedi que trouxesse nosso jantar pra cá. Insiro uma nota mental para agradecê-la por isso depois.
O jantar estava maravilhoso. Havia um assado em particular, que extraíu de mim murmúrios de prazer enquanto saboreava-o. A sobremesa arrancou mais sorrisos de mim e Maxon. Torta de Morango. Uma Criada surge, recolhendo tudo o que ficou do jantar e sai rapidamente deixando eu e Maxon sozinhos novamente.
Com o jantar finalizado, Maxon me puxa pra perto, me colocando entre o espaço em suas pernas e me envolvendo em seus braços. Enquanto me aconchego entre ele digo:
— Sim. Acho que esse é nosso lugar. Foi aqui que nós nos vimos pela primeira vez. Quanta coisa mudou. Naquele dia eu sequer poderia imaginar que acabaríamos juntos.
— Acho que eu meio que descobri isso naquele dia América.
— Isso o que? - pergunto.
—  Que terminaríamos juntos- disse com muita naturalidade.
— Como poderia saber? Te disse coisas bem desagradáveis naquele dia Maxon. Eu praticamente cuspi na sua cara que não o queria. - sorri com a lembrança.
—  Sim. Foi um balde de água fria. Eu realmente achava que todas as garotas iriam se derreter aos meus pés.
— Imagino que a minha atitude foi um tapa na cara do seu ego de príncipe desejável.
— Não que eu me achasse digno de que todas ficassem atrás de mim, na verdade eu nem queria isso, era só uma ideia plantada na minha cabeça, acho que por conta do meu pai. Mas aqui estava você.
— Com a barra da camisola toda enlameada, o rosto cheio de lágrimas e uma língua bem afiada - brinco.
— Não. Aqui estava você América. Só você. -  seu tom é sério - Não uma selecionada dentro de um vestido bonito querendo me impressionar e sim uma garota, encarando seus medos, corajosa e determinada defendendo aquilo no qual acreditava. Eu ouvia você e só queria absorver um pouco da sua tenacidade, da sua força e coragem. Você não se deixava intimidar pelo meu título ou pelas consequências do que dizia. Você foi verdadeira. E aí, quando eu achava que nada mais podia me impressionar em você, o céu pareceu conspirar contra mim e senti que as nuvens se afastaram para a lua iluminar seu rosto no momento em que eu te olhei pela primeira vez. Estava linda, mesmo corada por causa do choro. Meu coração deu cambalhotas no peito América. Sai daqui me sentindo um tolo por ter me apaixonado pela primeira garota que vi e pela qual eu poderia nutrir sentimentos. Não posso dizer que não me senti atraído por algumas das garotas que conheci no outro dia, mas nenhuma me fazia sentir como me sentia com você, e eu soube que, ainda que houvesse mais outras tantas garotas à minha disposição, meu coração já pertencia definitivamente a uma. Você.
Lágrimas marejavam meus olhos enquanto absorvia a declaração de Maxon. Procurei palavras que pudessem devolver a ele metade do amor que ele me transmitia com as suas, mas elas simplesmente pareciam não ser capazes de transmitir tamanha devoção.
— Ei, porque está chorando? - Houve uma pausa, então ele sorriu e continuou- " Está tudo bem, minha querida?"
Um sorriso brincou em meus lábios antes que eu respondesse:
— Eu não sou sua querida!
Maxon uniu meu sorriso ao seu com um beijo terno enquanto secava com carinho minhas lágrimas.
— Maxon - comecei - passei meses até admitir pra mim mesma que eu amava você e só você. Eu sei que meu gênio dificultou bastante as coisas pra nós - sorrio - eu sempre fui muito insegura e havia tantas coisas contra nós que eu achava que jamais me escolheria. Eu pensava: Como que ele me escolherá enquanto tem opções tão mais valiosas do que eu? Uma cinco, que não ofertava ganho nenhum ao reino? Quando nos beijamos pela primeira vez, aliás, pela segunda eu me senti adorada de uma forma que ninguém havia me feito sentir. E aí você teve outros encontros e a cada vez que alguma das meninas descrevia o quão surpreendente eles eram eu me corroía ainda mais de ciúmes e negava para mim mesma o quanto eu já queria você, só você. Hoje vejo que você sempre me deu tudo em primeiro lugar e eu espero poder te dar meu mundo de agora em diante se assim você desejar.
—  Meu mundo é você América. Só você!
Uma gota de chuva estala em meu rosto, e voltamos nossos olhos pro céu.
— Acho que isso não estava em seu plano perfeito, minha querida - diz Maxon.
— Não mesmo - sorri.
— Vamos entrar antes que ela ganhe força.
Levantamos e saímos em disparada para as portas do castelo, mas não tão rápidos quanto a chuva que começa a nos alcançar. Ao chegarmos às portas do castelo estamos praticamente encharcados. Dou um passo para dentro do palácio, mas não consigo prosseguir porque Maxon segura firme minha mão me impedindo de entrar e nos mantendo ainda do lado de fora e sobre a chuva forte. Olho para ele, para perguntar o que está acontecendo, mas antes mesmo das palavras saírem dos meus lábios ele diz:
— Dança comigo?
Voltei para junto dele. O gramado encharcado prendia a barra do vestido também já ensopado, dificultando meus passos. um riso tímido pendia dos meus lábios.
— Acho que esse som se tornou oficialmente nossa música.
Maxon assentiu enquanto esfregava seu rosto na curva do meu pescoço, traçando carícias carinhosas sobre ele
—Sabe aquele dia no terraço ao som da chuva?
Me desvencilhei do seu carinho preguiçoso buscando seus olhos. Gostas de chuva escorriam pelos seus cabelos.
— Como poderia esquecer América. Foi um dos melhores dias, um dos nossos melhores encontros. Na verdade, nossos melhores encontros foram os não planejados - Sorriu - Pena que não terminou como queríamos ...
— Ainda sim foi o melhor - eu cortei-o - Naquele dia, ao som da chuva eu tive a certeza de que amava você. De que amaria você pra sempre.
Maxon suspirou e sustentando um olhar terno me beijou. Senti o mesmo gosto molhado do outro dia, a mesma doçura e veneração e por segundos, os dois momentos se mesclavam, se tornando um, assim como nos dois. Nossos lábios se desgrudaram e Maxon pressionou a mão no meu pescoço enquanto depositava um beijo em minha testa.
— A partir de hoje, cada vez que uma gota de chuva cair no chão quero que se lembre ainda mais do quanto eu te amo. Quero que corra para mim América e eu correrei pra você e nós dançaremos juntos todas as vezes que o céu tocar a canção do nosso amor
— Eu te amo Maxon.
— Eu te amo América.

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