Prólogo

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O cenário era macabro. Havia sangue.

Muito sangue.

A garganta estava cortada e o rosto mantinha uma expressão de pavor a qual o agente Kakashi observava enquanto seu parceiro, Obito, procurava por algo que pudesse ser útil para a investigação sem interferir na cena do crime.

— Alguma coisa? — Perguntou quando cansou de não achar nada no corpo. Deixaria o resto para Rin, mesmo sabendo que ela, novamente, não encontraria nada significativo.

— Nada. — Bufou em frustração o agente Uchiha.

Era impossível não se sentir frustrado. Os dois se sentiam. Eram a melhor dupla investigativa da região. Não que houvessem muitos casos, mas quando havia algum, eles davam conta. Agora, se viam encurralados num labirinto cheio de portas que levavam a lugar nenhum. Esse sentimento só piorava quando percebiam que a cada porta aberta sem resposta os deixavam próximos da interferência dos federais. E de forma alguma eles gostariam de ter os federais xeretando sua cidade e os expulsando do caso. O problema era que isso se tornava cada vez mais possível. A cada dia, a cada novo incidente com os mesmos padrões, tudo se mostrava mais incompreensível e não solucionável.

Sem absolutamente nenhuma pista que pudesse incriminar alguém, ou ao menos os levarem a algum ponto de partida, tudo se afunilava para a maldita opção de um psicopata estar à solta na cidade.

Mais específico: um serial killer.

Um serial killer muito bom.

Só de pensar que isso estava se tornando realidade, os detetives sentiam o sangue ferver de ódio por algo assim existir e estar acontecendo naquela área. Com pessoas de famílias que eles conheciam. Era de embrulhar o estômago ver a menina Eiko na forma que estava.

A marca na garganta parecia ter sido feita pela garra de um animal, e mesmo essa opção parecendo tão ilógica, devido ao cômodo imaculado, já havia sido eliminada também. Rin havia feito os testes e não achara compatibilidade com nenhuma das espécies selvagens presentes nos arredores.

Após darem uma última geral, os detetives saíram da cena do crime deixando o caminho livre para a equipe de perícia finalizar seu trabalho.

No percurso até o carro, ambos repassavam tudo que viram tentando achar qualquer mísero ponto solto. Obito estava com a imagem do ferimento na cabeça.

— Parece tanto um ferimento selvagem — falou ao vento.

— Sabe que Rin já fez os testes. Está tudo limpo. Não consta nada, nem se aproxima de alguma espécie. — Não era uma frase direcionada a alguém, mas mesmo assim Kakashi respondeu. Também se mantinha intrigado com o rumo de tudo aquilo. Eles precisavam pôr para fora, mesmo que não fosse nada.

— Eu sei, eu sei, é só que... — bufou para depois passar a mão no rosto esfregando os cabelos, deixando as mechas bagunçadas — Nada faz sentindo...

— Se não fugisse da realidade, chutaria uma mistura de urso com lobo ou raposa e sei lá. Mesmo assim, é algo feito por alguém inteligente, não é um animal irracional, se não... — suspirou — Teria mais sujeira. Impossível deixar só aquilo para trás.

Obito parou de andar, e quando Kakashi sentiu sua falta, olhou para trás e encontrou seu amigo fitando o chão com uma cara de quem pensava muito.

— Sobrenatural. Demoníaco? — Ele achou haver saído em um sussurro inaudível, mas quando viu o outro o encarando com a testa franzida como se ele fosse louco, tratou logo de se corrigir. — Você disse sobre não ser da nossa realidade. Foi o que veio a mim. — Explicou-se dando de ombros e voltando a andar ao lado do Hatake que balançou a cabeça em negação.

— Precisa parar de ver aqueles documentários estranhos. — O Uchiha nem fez questão de o encarar. Apressou o passo para adentrar o carro, mas ainda teve tempo de escutar Kakashi completando a sentença. — E de dar ouvidos para as histórias malucas do seu primo satanista.


...


Mesmo que as investigações ainda estivessem ocorrendo naquele mesmo horário, a notícia de mais uma jovem encontrada com a garganta extirpada já corria pela cidade. Por Konoha ser minúscula, era absurdamente complicado manter certas questões abafadas. Acreditar que justamente aquela, seria contida, era algo que o delegado Hiruzen não ousava fazer. Ele tinha certeza que a essa altura a população já tinha em mãos detalhes que ele ainda aguardava receber dos seus subordinados.

Um "bip" do seu celular, indicando uma nova mensagem, o fez ter certeza que o destino estava zombando do rumo dos seus pensamentos.


"Algum imbecil da sua equipe vazou uma foto. Meu colégio está um caos.''


Irado.

Hiruzen estava irado e só pôde soltar o ar dos pulmões e passar a mão no rosto num misto de raiva, tristeza e frustração. Sua cidade estava de cabeça para baixo e para piorar estava cercado de idiotas nada profissionais e sem um pingo de respeito a família da vítima. Ao invés de amenizarem a situação, só contribuam para deixar tudo mais caótico.

Não conseguiu responder Tsunade. Não tinha o que responder. Bloqueou o aparelho e viu pela janela a viatura encostar no meio fio. Seus agentes haviam chegado. Pelo menos seria posto a par da situação, mas pela cara da dupla, sabia que a chegada deles não seria de fato tão proveitosa.


...


Como Tsunade havia revelado, o Colégio Senju estava um caos. Uma foto enviada por um anônimo estava passando de celular em celular. Ninguém sabia quem era a fonte, mas neste momento, não era mais tão importante, visto que, o arquivo se espalhava cada vez mais ao longo que uma nova pessoa recebia e enviava a outra.


...


Ele sentia a sensação ficando mais intensa, o calor quase a queimar seus dedos lhe alertando que ele só tinha mais uma ou duas tragadas. Ele tragou e sentiu a fumaça adentrar por suas vias respiratórias, alcançando seu pulmão, trazendo à tona aquela queimação familiar que tinha gosto de morte. Ele achava adorável e por isso estava numa parte estratégica do estacionamento matando um cigarro. Por isso ele pôde ver a figura da menina saindo do carro, mexendo no celular e logo depois entrando num ritmo de corrida se dirigindo para a lixeira mais próxima. Ele observou quando os cabelos negros foram segurados com uma das mãos enquanto a outra era repousada na parede para oferecer maior equilíbrio. Ela parecia colocar toda sua refeição de dias para fora.

Sem tirar os olhos da cena, ele viu o corpo dela escorregando pela parede até alcançar o chão, para logo depois perceber o movimento do busto que subia e descia numa velocidade que mostrava que ela estava ofegante, talvez com dificuldade de respirar. Ela também tinha lágrimas que escorriam por seu rosto, que estava perceptivelmente sem cor. Elas faziam um caminho passando pelas maçãs — que ele tinha uma vaga lembrança de ver sempre coradas — pelo queixo bem delicado, para cair no colo e se perder no vão entre os seios, que continuavam se movimentando muito sofregamente, deixando aquela imagem tão... fodidamente interessante.

Ela parecia devastada.

Ele gostava.

Fechando os olhos ele tragou o final do cigarro e soltou a fumaça para cima voltando a fixar o olhar na cena. Jogou a bituca fora e deixou que um leve sorriso de canto aparecesse em sua face enquanto pensava que aquela era uma ótima oportunidade para fazer uma boa ação.

É, uma boa ação.

Homem TortoOnde histórias criam vida. Descubra agora