Não costumava ir tarde ao trabalho.
Algo naquele dia estava estranhamente diferente, não apenas o fato de eu ter acordado as 07:00 da manhã, mas a atmosfera do dia me parecia triste, e não por ser uma segunda, era algo diferente, não sentia aquilo há cinco anos — quando sai de casa.
As 10:00 da manhã a sala editorial da Teixe editora estava uma loucura, pessoas passavam de um lado a outro carregando manuscritos e outras procuravam arquivos numa bagunça de papéis e copos de café.
— Senhor Joaquim! — uma voz se sobressaltou pelo alvoroço da sala. — Graças a todas as entidades existentes o senhor chegou! — Clara passou por pessoas e páginas de manuscritos largados pelo chão e veio até mim com uma pasta em mãos e se aprumando. — O senhor está bem? Parece meio abatido.
— Tudo sim! — arrumei a postura. — Por que toda essa movimentação desesperada?
— Ah, sim! O senhor tem uma reunião. — Clara folheou a pasta em suas mãos e me entregou uma lista de dez títulos. — Os acionistas pediram para dar uma olhada nas vendas dos três lançamentos recentes. — Clara destacou os primeiros três títulos com uma caneta azul cuja tinta mais falhava do que escrevia. — Eles também pediram uma prévia do desenvolvimento e expectativas dos outros sete! Já consegui todo o material. Antônio e Hugo já enviaram as correções, a equipe... — Clara apontou para as pessoas correndo de um lado a outro apressadas. — Está terminando os últimos detalhes.
— Ótimo! Vou me arrumar para a reunião. Quando começa?
— Começou a trinta minutos, senhor! — disse por fim Clara.
A sala de reunião tinha uma quietude discrepante quando comparada a sala editorial. Os acionistas trajados em ternos cinza grafite assistiam atentamente Mari explicar um gráfico de linhas sobre o trimestre anterior.
Minha ideia era não fazer barulho, mas não contava com a porta gemendo com um estrepito quando aberta. Todos os acionistas se viraram para me encarar, o mais próximo a mim — o nome sempre me escapava, contudo eu o achava parecido com Felipe; me olhou com um ar de preocupação.
— Você está bem? Parece meio zumbificado.
Por que todo mundo enchia o saco com essas perguntas? Estou bem, obrigado. Embora não parecesse.
— Você deveria tirar uma semana de férias, parece meio instável. Há quando tempo não visita a família? — Continuou Felipe.
Tinha esquecido como ele era enxerido na maioria dos nossos encontros.
— Vamos voltar ao que importa. — Tomei meu lugar a mesa. — Por favor Mari, dê procedência.
Mari tomou um gole d'água. Era uma mulher elegante, poucas vezes externava seus sentimentos, naquela apresentação ela trajava um vestido azul, de longe era o seu melhor look. Mari passou o slide, mas antes de poder retomar a apresentação meu celular tocou no ritmo pop de Halo. Não ouvia aquele toque há anos, mas lembrava a quem estava associado e não queria atende-la, mesmo se não estivesse em reunião.
— Desculpe! — Coloquei o celular no silencioso meio apressado e sem jeito. Pode prosseguir Mari.
— Não! Espere um momento Mari. — Cortou Felipe. — Vá para casa Joaquim, você precisa descansar. Todos devem concordam comigo.
— Felipe está certo! — indagou Mari sendo acompanhada pela concordância dos demais acionistas.
Realmente o desgramado se chamava Felipe.
Eu poderia até protestar, mas não ganharia de uma sala cheia de acionista e da minha vice-presidente.
— Tudo bem! — O desdém em minha voz não transmitia uma aceitação de bom grado. — Uma semana, nada mais.
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Em todos os lugares
RomanceEm uma segunda-feira conturbada Joaquim recebe uma ligação da irmã que o devolve a uma realidade que há tempo ele não queria encarar. Lucas está morto! Agora de volta a sua cidade natal, San Pelou, o editor bem sucedido deve viajar pelos assuntos in...