Até que a morte ( ou a prisão ) nos separe.

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Essa história é inspirada na música " Te amo disgraça " do Baco Exu do Blues 🖤

💚💛

- Sou seu amor ou seu Nero? - Sanji me perguntou ao lado da bomba de gasolina. Era alta madrugada e estávamos tão bêbados como sempre. O cigarro aceso pendia displicente em sua mão e um riso frouxo adornava sua face. A voz zombeteira e ameaçadora mostrava que dependendo da minha resposta, seria capaz de nos explodir ali mesmo.

A mulher mais linda que eu já vi.

Em retrospecto, eu estava enganado. Sanji não era mulher. Ela mesma havia me corrigido mais vezes que eu pude contar.
'' Sou travesti ''. Sempre me dizia, soando doce e forte. Alegria, orgulho e fúria misturados ao tom da voz cadenciada. Sanji era assim: forte e fraca, orgulhosa e humilde, amorosa e feroz. Era um erro; Um vão; Um horizonte sem fim.

Observei seu belo rosto sob a luz amarelada do posto vazio. Estávamos sozinhos, eu havia parado a moto para calibrar os pneus - murchos a ponto de nos colocar em perigo - antes de irmos pra casa. O senso de responsabilidade tinha mania de atacar com ela na garupa. Lembrei-me de quando a conheci naquele bar sujo.
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- Chibungo maldito! Não sei o que faz aqui empesteando o estabelecimento! - disse o homem loiro e bronzeado num rompante enquanto impedia o acesso da moça ao balcão.

Já passava das 3h da manhã e eu, que por falta de espaço no bar vinha tendo a infelicidade de ouvir as merdas que ele e os amigos igualmente babacas diziam durante toda a noite, estranhei. Toda mulher que se aproximava era igualmente assediada. O que havia de diferente dessa vez?

Levantei os olhos da bebida, a fim de descobrir o que havia de tão estranho na mais nova vítima do loiro. Definitivamente era alta. Pernas compridas e corpo magro. O vestido vermelho combinando com o batom. Os cabelos eram de um loiro mais claro - e mais bonito que o do babaca chefe - e batiam na altura dos ombros. A franja tampava um dos olhos que pareciam ser azuis.

A loira não pareceu se importar em ser chamada daquela forma. Retirou um cigarro da pequena bolsa, o acendeu e deu um trago antes de responder sorrindo:

- Ora Bellamy, você não pareceu se importar com isso ontem enquanto eu te fodia e você gemia pedido por mais. - disse em alto e bom tom como se estivesse comentando sobre o clima. Ao ouvir sua voz, percebi o porquê do idiota falar com ela daquela forma.

O babaca não gostou da resposta bem humorada, ficando vermelho feito um pimentão enquanto xingava impropérios e arriscava um soco que foi desviado prontamente. Antes que todos a volta se dessem conta, o tal Bellamy levou uma rasteira da loira e caiu com tudo no chão. Os amigos, que estavam a sua volta adiantaram-se a fim de vingar-se da ousadia, mas ficaram paralisados pela mulher que tinha a agulha do salto na mira das bolas do imbecil grandalhão.

- Mais um passo dos teus amigos e você pode dar adeus a sua masculinidade - ela disse ainda sorrindo , o cigarro preso no canto da boca vermelha.

Fugiram feito os covardes que eram.
Após a confusão, a loira continuou seu caminho, aproximando-se e sentando na banqueta antes ocupada pelo homem, enquanto ignorava os olhares a sua volta - que variavam entre medo, estranhamento e admiração - E pedindo uma caipirinha ao barman.

Quando a bebida chegou e ela foi pagar, coloquei minha nota na frente.
- Essa é por minha conta. - disse simplesmente.

A moça levantou os olhos na minha direção e eu tive um choque. Era ainda mais bonita de perto. Os olhos azuis que encaravam sérios ao me medir. Por fim, levantou o copo como um brinde.

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